O que faz um povo mais ou menos feliz? Segundo o Satisfaction with Life Index (Índice de Satisfação com a Vida) criado em 2006 pelo psicólogo Adrian White, da Universidade de Leicester (Reino Unido) e baseado em itens como saúde, riqueza e acesso à educação básica, o Brasil – famoso no mundo pela alegria e descontração de seu povo – é apenas o 81º em um ranking de 178 países. Bem antes dele, em 16º lugar, perto da Costa Rica (13ª, outro país reconhecidamente alegre) e antes da maioria dos países americanos, há uma curiosidade caribenha: Antígua e Barbuda.

 Johnny Mazzilli
ma, a Devil’s Bridge, curiosa formação rochosa em Saint Philip

À primeira vista, Antígua, a porta de entrada nacional, não difere muito de outras partes do Caribe. Tem belas praias (o país­ é conhecido como “a terra das 365 praias”, uma para cada dia do ano), abriga uma frota invejável de veleiros, iates e barcos de luxo e suas noites são movimentadas. Mas o interior da ilha, onde mora a maioria da população, e a vizinha Barbuda vivem em ritmo muito diferente, numa sossegada contemplação da passagem do tempo.

Johnny Mazzilli
Turistas alimentam arraias na Stingray City

Situada nas Pequenas Antilhas, no leste do Mar do Caribe, o país possui três ilhas principais. Antígua é a maior, com 281 km2 de área e cerca de 88 mil habitantes, 25 mil dos quais na capital, Saint John’s. Barbuda tem 161 km2 e apenas 2.500 moradores.­ Redonda, a terceira, possui 2 km2; desabitada, é uma reserva de vida marinha. As demais ilhas são rochedos que emergem do mar. Constituída por descendentes de africanos e ingleses, a população tem maioria negra (91%).

Johnny Mazzilli
Ancoradouro no centro comercial de Saint John’s

As florestas tropicais que originariamente cobriam as ilhas foram devastadas durante sua colonização. Em seu lugar, hoje existem pântanos, lagoas rasas e uma vegetação semelhante à caatinga brasileira. Há registros arqueológicos de que as ilhas eram habitadas há 4.400 anos, por um povo que deixou belos trabalhos em conchas e utensílios de pedra. Depois vieram tribos de aruaques (de 35 até 1100 d.C.).

Quando aportou ali, em 1493, Cristóvão Colombo encontrou os agressivos caribes. O navegador batizou as ilhas e iniciou a colonização em nome da Espanha. Povoados foram erguidos ali por espanhóis e franceses. Os britânicos vieram a seguir e estabeleceram uma colônia em 1667, ano em que Antígua e Barbuda passou ao domínio da Grã-Bretanha. As ilhas conquistaram sua independência em 1981.

14_PL514_VIAGEM11

Ciclo do açúcar

Durante séculos, a produção de açúcar foi o motor econômico local. Espalhados pelo país, moinhos seculares emprestam à paisagem um aspecto bucólico. Alguns deles, preservados e restaurados, abrigam pequenos museus, como o singelo Sugar Mill Museum, que mostra um pouco da história e dos meios de produção nos séculos 18 e 19. A escravatura, peça fundamental na mão de obra para as plantações de cana-de-açúcar em Antígua, foi abolida em 1834.

Johnny Mazzilli
Cair da noite em Shirley Heights

O turismo responde hoje por 80% do produto interno bruto e emprega 50% da força de trabalho local. Saint John’s concentra a maior parte da atividade econômica, com plantas de produção e montagem de componentes eletrônicos e manufaturas variadas, como tecidos e móveis. O país também produz cana-de-açúcar, algodão, frutas tropicais, pimenta, têxteis, madeira e rum, além de petróleo refinado.

Johnny Mazzilli
Pescador no cais central de Saint John’s

Sem rios, as ilhas sofrem com a escassez de água doce. Toda a água potável vem de duas plantas de dessalinização, três barragens superficiais, numerosas lagoas rasas e campos de poços perfurados. Em Barbuda, a água provém de um único poço profundo. Mesmo assim, 100% da população urbana e rural tem acesso à água tratada.

A saborosa culinária local se assemelha à dos demais países caribenhos: fartura de pescados frescos, frutos do mar e muito, muito frango frito. Um prato popular é o dukuna, doce de origem africana preparado com abóbora e batata-doce raladas, farinha e especiarias, enrolado em uma folha e cozido em água ou vapor. O milho e a batata-doce, aliás, ocupam um papel central na alimentação local.

Johnny Mazzilli
Moça com o antigo cesto porta-bebês típico local, em museu da capital

Os antiguanos são, em geral, receptivos e simpáticos com os estrangeiros. Tirar fotos em que eles apareçam, porém, pode ser um problema. É preciso ter muito cuidado e, sobretudo, perguntar antes às pessoas se elas concordam em ser retratadas. Ou então, usar uma lente longa que permita fotografá-los discretamente a distância. Muitos são hostis a fotos e, caso percebam que podem ser retratados, pedem dinheiro ostensivamente e de forma pouco simpática.

Música e iatismo

A pequena English Harbour, no sul de Antígua, é um ótimo exemplo do turismo caribenho mais refinado. Ao longo do ano o local abriga várias regatas, das quais a mais badalada é a Antigua Sailing Week, que ocorre em abril. Em English Harbour está a mais famosa das marinas das ilhas, a Nelson’s Dockyard, onde ficam ancorados os veleiros de competidores e endinheirados. Seu nome homenageia o almirante inglês Horatio Nelson, herói das Guerras Napoleônicas, que viveu em Antígua entre 1784 e 1787.

Johnny Mazzilli
Cena da Antigua Sailing Week; abaixo, pescados típicos da região

Ali perto fica Shirley Heights, um mirante situado no alto de uma pequena montanha. Dali tem-se uma vista belíssima das baías e embarcações ancoradas em English Harbour. Todas as tardes o local é tomado por pessoas que vão assistir ao pôr do sol. À noite, bandas de reggae, música pop e crioula embalam festas animadas. A atmosfera caribenha e a música ensurdecedora, aliás, são onipresentes nos bares e pubs das cidades de Antígua, sempre lotados de turistas e nativos que consomem quantidades industriais de cerveja. Há muito o repertório pop norte-americano tomou o lugar das canções típicas, mas são estas que os turistas querem mesmo apreciar.

Johnny Mazzilli
Pescados típicos da região

Nas áreas rurais, o panorama é bem diferente. As moradias são esparsas, intercaladas por grandes áreas desocupadas onde pastam vacas, cabras e ovelhas. É notável o número de casas inacabadas há anos. Durante o dia, mesmo sob um sol impiedoso, muitas pessoas­ ficam­ sentadas preguiçosamente à porta de suas casas, vendo o tempo passar. Em muitas residências há pequenas hortas, cuja produção é vendida em banquinhas na frente dos imóveis. O ritmo de vida segue tranquilo e, no calor onipresente (a temperatura média é de 27°C), fica mais nítida a sensação de que o tempo lá custa a passar.

Reduto de preservação

Barbuda está separada de Antígua por 41 quilômetros de mar, percorridos em balsas ou catamarãs. A ilha é formada por restos de um pequeno vulcão unido a uma planície calcária. Ela só tem uma cidade, Codrington, com cerca de 2 mil habitantes, vilas de pescadores e alguns hotéis antigos, que vêm sendo reformados.

Johnny Mazzilli
Show musical em Shirley Heights

Escassamente ocupada, a ilha é bem preservada, lar e refúgio da maior colônia de fragatas (Fregata magnificens) do hemisfério ocidental. Cerca de 5 mil aves nidificam permanentemente no Lago Codrington, no Frigate Bird Sanctuary. É famoso um trecho de costa intocado de 27 km de extensão, com areias de um tom rosado incomum, habitado por aves raras e outras espécies selvagens.

Estima-se que Barbuda venha a ser descoberta, em breve, como um dos hits intocados do Caribe. Para isso, são necessários investimentos em infraestrutura e muito cuidado com o delicado equilíbrio ambiental. Mas isso não parece ser um grande problema atualmente. Um único empreendimento – um resort cinco-estrelas que o ator Robert De Niro e o magnata australiano James Packer vão erguer na ilha – já injetará US$ 250 milhões na economia local.

14_PL514_VIAGEM12

—–

Carnaval em agosto

Antígua e Barbuda tem seu carnaval próprio, comemorado não 40 dias antes da Páscoa, como no Brasil ou na Itália, mas em agosto. O motivo é mais do que compreensível: foi nesse mês que ocorreu a abolição da escravatura no país. Desfiles, shows, festivais e competições que duram dez dias fazem desse o evento mais importante do calendário turístico do país, responsável por atrair milhares de viajantes a cada ano.

Mais informações
Portal oficial de turismo do país: www.visitAntiguabarbuda.com