05/07/2021 - 13:22
Cientistas encontraram um depósito inexplicável de dentes de tubarão fossilizados em uma área onde não deveria haver nenhum deles: em um local de 2.900 anos na Cidade de Davi – a região da cidade de Jerusalém habitada há mais tempo. O local fica a pelo menos 80 quilômetros de onde se espera normalmente que esses fósseis sejam encontrados.
Não há prova conclusiva de por que o depósito foi criado. Pode ser, no entanto, que os dentes de 80 milhões de anos fizessem parte de uma coleção, datada de logo após a morte do rei Salomão. (A descoberta data da época dos descendentes imediatos do rei Salomão: Roboão, Abija, Assa e Jehoshapat.) A mesma equipe agora desenterrou achados inexplicáveis semelhantes em outras partes da antiga Judeia. Seu estudo foi publicado na revista Frontiers in Ecology and Evolution.
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Ao apresentar o trabalho na Goldschmidt Conference (conferência internacional em geoquímica realizada pela Geochemical Society e pela European Association of Geochemistry) o pesquisador principal, dr. Thomas Tuetken, da Universidade de Mainz (Alemanha), disse: “Esses fósseis não estão em seu cenário original, então eles foram movidos. Eles provavelmente eram valiosos para alguém. Apenas não sabemos por que, ou por que itens semelhantes foram encontrados em mais de um lugar em Israel”.
Conexão possível com a classe administrativa ou governante
Os dentes foram encontrados enterrados em material usado para preencher um porão antes de o imóvel ser convertido em uma grande casa da Idade do Ferro. A casa em si estava situada na Cidade de Davi, situada hoje em dia na aldeia palestina de Silwan. Eles foram encontrados junto com ossos de peixes jogados fora como restos de comida há 2.900 anos, e outros materiais de enchimento, como cerâmica. Curiosamente, foram encontrados junto com centenas de bulas – itens usados para lacrar cartas e pacotes confidenciais –, sugerindo uma possível conexão com a classe administrativa ou governante em algum momento.
Normalmente, o material arqueológico é datado de acordo com as circunstâncias em que foi encontrado. Portanto, a princípio, supôs-se que os dentes eram contemporâneos ao resto do achado. Tuetken disse: “A princípio presumimos que os dentes de tubarão eram restos de comida despejada há quase 3 mil anos. Mas quando enviamos um artigo para publicação, um dos revisores apontou que o dente só poderia ter vindo de um tubarão extinto do Cretáceo Tardio, há pelo menos 66 milhões de anos”.
Tuetken prosseguiu: “Isso nos levou de volta às amostras, e medir a matéria orgânica, a composição elementar e a cristalinidade dos dentes confirmou que, de fato, todos os dentes de tubarão eram fósseis. Sua composição de isótopos de estrôncio indica uma idade de cerca de 80 milhões de anos. Isso confirmou que todos os 29 dentes de tubarão encontrados na Cidade de Davi eram fósseis do Cretáceo Superior – contemporâneos de dinossauros. Mais do que isso, eles não foram simplesmente removidos do leito rochoso abaixo do local, mas provavelmente transportados longe, possivelmente do Negev, a pelo menos 80 km de distância, onde fósseis semelhantes são encontrados”.
Tendência para coleta
Desde as primeiras descobertas, a equipe encontrou mais fósseis de dentes de tubarão em outras partes de Israel, nos locais de Maresha e Miqne. É provável que esses dentes também tenham sido desenterrados e removidos de seus locais originais.
Tuetken disse: “Nossa hipótese de trabalho é que os dentes foram reunidos por coletores, mas não temos nada que confirme isso. Não há marcas de desgaste que possam mostrar que foram usados como ferramentas, e não há furos para indicar que podem ter joalheria. Sabemos que ainda hoje existe mercado para dentes de tubarão. Por isso, pode ser que existisse uma tendência da Idade do Ferro para a coleta desse tipo de artigos. Esse foi um período de riquezas na corte judaica. No entanto, é muito fácil somar 2 e 2 e obter 5. Provavelmente nunca teremos certeza”.
Os dentes de tubarão que foram identificados provêm de várias espécies, incluindo-se aí o extinto grupo Squalicorax. O Squalicorax, que atingia entre 2 e 5 metros de comprimento, viveu apenas durante o período do Cretáceo Superior (o mesmo período dos dinossauros tardios). Então, ele atua como um ponto de referência na datação desses fósseis.