16/11/2021 - 10:33
As partes da Floresta Amazônica desprovidas de contato humano direto estão sendo impactadas pela mudança climática induzida pelo homem, de acordo com um novo estudo feito uma equipe internacional cientistas que incluiu pesquisadores brasileiros. O trabalho foi publicado na revista Science Advances.
Novas análises de dados coletados nas últimas quatro décadas mostram que não apenas o número de pássaros residentes sensíveis em toda a Floresta Amazônica diminuiu, mas o tamanho do corpo e o comprimento das asas mudaram para a maioria das espécies estudadas. Essas mudanças físicas nas aves acompanham as condições cada vez mais quentes e áridas na estação seca, de junho a novembro.
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“Mesmo no meio dessa floresta amazônica intocada, estamos vendo os efeitos globais das mudanças climáticas causadas por pessoas, incluindo nós”, disse Vitek Jirinec, ecologista associado do Integral Ecology Research Center e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e autor principal do estudo, realizado quando ele ainda estava na Universidade Estadual da Louisiana (EUA).
Mais leves
Os pássaros da Floresta Amazônica tornaram-se menores e suas asas ficaram mais longas ao longo de várias gerações, indicando uma resposta às mudanças nas condições ambientais que podem incluir novos desafios fisiológicos ou nutricionais.
Esse é o primeiro estudo para descobrir essas mudanças no tamanho e na forma do corpo de aves não migratórias e eliminar outros fatores que podem ter influenciado essas mudanças fisiológicas.
Jirinec e colegas estudaram dados coletados em mais de 15 mil pássaros individuais que foram capturados, medidos, pesados, marcados com um anel na pata e soltos, em mais de 40 anos de trabalho de campo na maior floresta tropical do mundo. Os dados revelam que quase todos os corpos das aves diminuíram em termos de massa, ou ficaram mais leves, desde a década de 1980. A maioria das espécies de pássaros perdeu em média cerca de 2% do peso corporal a cada década. Para uma espécie de ave média que pesava cerca de 30 gramas na década de 1980, a população agora é em média cerca de 27,6 gramas. Quão significativo é isso?
“Esses pássaros não variam muito em tamanho. Eles são bem ajustados. Então quando todos na população são alguns gramas menores, isso é significativo”, disse o coautor Philip Stouffer, professor na Escola de Recursos Naturais Renováveis da Universidade Estadual da Louisiana.
Fenômeno generalizado
O conjunto de dados cobre uma grande variedade da floresta tropical. Assim, as mudanças nos corpos e asas dos pássaros nas comunidades não estão vinculadas a um local específico, o que significa que o fenômeno é generalizado.
“Sem dúvida, isso está acontecendo em todo lugar e provavelmente não apenas com os pássaros”, disse Stouffer. “Se você olha pela janela e considera o que está vendo lá fora, as condições não são as mesmas de 40 anos atrás e é muito provável que as plantas e os animais também estejam respondendo a essas mudanças.”
Os cientistas investigaram 77 espécies de pássaros da floresta tropical que vivem desde o solo frio e escuro da floresta até o meio da floresta mais quente e iluminado pelo sol. Eles descobriram que os pássaros que residem na parte mais alta do meio da mata e são os mais expostos ao calor e a condições mais secas tiveram a mudança mais dramática no peso corporal e no tamanho das asas. Esses pássaros também tendem a voar mais do que os pássaros que vivem no solo da floresta.
A ideia é que essas aves se adaptaram a um clima mais quente e seco, reduzindo sua carga de asas e, portanto, tornando-se mais eficientes em termos de energia durante o voo. Pense em um caça a jato pesado e com asas curtas, que requerem muita energia para voar rapidamente, em comparação com um avião planador com corpo esguio e asas longas, que podem voar com menos energia. Se um pássaro tem uma carga de asas maior, ele precisa bater suas asas mais rapidamente para se manter no ar, que requer mais energia e produz mais calor metabólico. Reduzir o peso corporal e o aumento do comprimento das asas leva a um uso mais eficiente dos recursos, ao mesmo tempo que essas aves se mantêm mais frias em um clima quente.
Questão sem resposta
Ryan Burner, atualmente no US Geological Survey e ex-aluno da Universidade Estadual da Louisiana, conduziu grande parte da análise que revelou a variação entre os grupos de pássaros ao longo dos anos. Ele é o segundo autor do estudo.
A questão da capacidade futura das aves amazônicas de lidar com ambientes cada vez mais quentes e ressequidos, especialmente na estação seca, permanece sem resposta. A mesma pergunta pode ser feita para muitos lugares e espécies que vivem à margem de ainda mais extremos ambientais.
“Pode haver outros pesquisadores em outros lugares com dados relevantes das décadas de 1970 e 1980 que poderiam ser comparados aos dados modernos, porque o protocolo de anilhamento que usamos é bastante padrão”, disse Stouffer. “Então, se você medir a massa e as asas, talvez haja mais conjuntos de dados que surgirão e poderemos ter uma ideia mais ampla da variação no espaço e como ela pode estar mudando em diferentes sistemas.”