15/12/2021 - 7:26
Pesquisadores de todo o mundo estão trabalhando arduamente para encontrar respostas sobre as propriedades da nova variante ômicron e de onde ela vem. Em última análise, o esforço visa saber quando a pandemia finalmente terminará e como as pessoas podem se proteger melhor contra futuras variantes.
Mesmo que os dados ainda sejam escassos, uma coisa é certa: a ômicron é perigosa. Devido às suas cerca de 50 mutações na proteína spike, a qual o patógeno usa para penetrar nas células humanas, a variante ômicron não pode ser reconhecida tão facilmente pelas vacinas existentes, escapando em grande parte da resposta imunológica. Isso significa que as pessoas vacinadas também podem ser infectadas com a ômicron.
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A nova cepa também é mais contagiosa, e mais infecções em um curto período de tempo podem sobrecarregar os sistemas de saúde mais rapidamente. Quadros mais graves também são possíveis, existem pacientes com ômicron hospitalizados, e as primeiras mortes relacionadas à variante já foram registradas.
É por isso que as vacinações e reforços com as vacinas existentes são tão importantes. A ômicron continuará a se espalhar rapidamente e pode suplantar nos próximos meses a variante delta, que ainda prevalece em muitas partes do mundo.
Pois provavelmente não será possível erradicar completamente o vírus em todo o planeta tão rapidamente. O SARS-Cov-2 pode se tornar endêmico, ou seja, não haverá mais uma pandemia global, mas o vírus aparecerá repetidamente localmente em determinados momentos, assim como o vírus da gripe ocorre repetidamente no inverno, e a vacinação anual contra a gripe se mantém como uma medida de proteção contra a doença.
Surgimento em paralelo com outras variantes
O súbito aparecimento da variante ômicron altamente contagiosa é de interesse extremo para a ciência, porque não é apenas um desenvolvimento de variantes que já existiam, mas aparentemente surgiu antes ou em paralelo com alfa, beta, gama e delta.
“Como a ômicron é tão diferente das outras cepas, os parentes mais próximos dessa variante são difíceis de serem determinados”, diz Emma Hodcroft, virologista da Universidade de Berna, em entrevista ao programa DW Covid-19 Special.
A árvore genealógica da ômicron no banco de dados Nextstrain, no qual pesquisadores de todo o mundo alimentam seus resultados sobre sequenciamentos de vírus, mostra claramente que esse desenvolvimento paralelo pode ter começado já em meados de 2020.
Os pesquisadores têm três explicações possíveis para a origem da ômicron.
Primeira teoria: surgiu em população isolada
A variante pode ter se desenvolvido em uma população isolada onde o vírus já circulava há muito tempo. Onde muitos já haviam sido infectados e se recuperaram sem que isso fosse percebido por testes e sequenciamento.
Essa teoria é a favorizada por Christian Drosten, virologista-chefe do hospital universitário Charité, de Berlim. “Suponho que não se desenvolveu na África do Sul, onde muitos sequenciamentos são realizados atualmente, mas em algum lugar do sul da África durante a onda de inverno”, afirmou o especialista, em entrevista à revista Science Magazin. “Havia por lá muitas infecções por muito tempo, e para o desenvolvimento de um vírus assim é necessária uma tremenda pressão evolutiva.”
Andrew Rambaut, da Universidade de Edimburgo, não considera essa teoria tão convincente. Ele não acha possível que o vírus possa ter estado escondido em um grupo de pessoas por tanto tempo. “Não tenho certeza se existe realmente algum lugar no mundo que seja tão isolado que esse tipo de vírus possa ser transmitido por um longo período de tempo sem aparecer em lugares diferentes.”
Segunda teoria: originado em pessoas imunodeprimidas
A ômicron pode ter se desenvolvido em um paciente com covid-19 cronicamente infectado, provavelmente alguém cuja resposta imunológica estava comprometida por outra doença ou medicamento.
Podem ser pacientes com câncer ou pacientes com HIV, por exemplo, porque em pessoas imunodeprimidas, o corpo luta mais contra o vírus. O vírus, por sua vez, tem mais tempo para desenvolver mutações a fim de escapar da resposta imune.
Os defensores dessa teoria, como é o caso de Richard Lessells, da Universidade de KwaZulu-Natal, lembram, nesse contexto, o caso de uma jovem na África do Sul com uma infecção por HIV não tratada que carregou o novo coronavírus por mais de seis meses. Nela e em outros pacientes nos quais a infecção durou semanas ou meses, foram observadas as mesmas mutações que também foram encontradas nas variantes mais preocupantes.
No entanto, de acordo com Christian Drosten, toda a experiência com influenza e outros vírus em pacientes imunodeprimidos fala claramente contra essa teoria. Embora essas pessoas desenvolvam variantes que escapam do sistema imunológico, essas mutações são acompanhadas por uma série de outras alterações que diminuem sua capacidade de transmissão, segundo Christian Drosten. E a ômicron é claramente mais contagiosa em comparação com outras variantes do coronavírus.
Terceira teoria: originária de um animal
O vírus também pode ter se escondido em um hospedeiro animal e se desenvolvido nesse organismo, se espalhando para os humanos. Essa teoria é defendida por Kristian Andersen, pesquisador de doenças infecciosas da Scripps Research, e pelo biólogo evolucionário Mike Worobey, da Universidade do Arizona, em Tucson.
Um dos fatores que dão força a essa teoria é o fato de que já foi suficientemente provado que certos animais também são suscetíveis ao coronavírus. Essa também é a razão pela qual a maioria dos pesquisadores também presume que o tipo original do novo coronavírus, surgido pela primeira vez há dois anos em Wuhan, China, era de origem animal.
Em 2020, milhões de visons tiveram que ser abatidos, especialmente na Dinamarca, porque os pesquisadores detectaram neles uma versão mutante do coronavírus. Os veterinários presumem que o vírus se espalhou de humanos para os animais. Eles temiam que os animais pudessem, por sua vez, infectar humanos com a versão mutante.
Segundo os defensores dessa teoria, outro indício é que o vírus enfrenta em um animal pressões evolutivas completamente diferentes, o que poderia explicar as muitas mutações novas e às vezes únicas na ômicron.