25/08/2016 - 20:23
O Brasil é um dos países com a produção de energia mais limpa e sustentável do mundo. Em termos de energia elétrica, geramos 75% da eletricidade com fontes renováveis. Confira a seguir a atual situação dessas fontes no país e o que se pode esperar delas.
HIDRELÉTRICAS: TRADIÇÃO NACIONAL
Aproveitando-se do seu clima tropical, geografia continental e várias bacias hidrográficas, o Brasil construiu uma forte tradição em geração hidráulica na sua matriz elétrica. Para o físico José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ex-secretário da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente do governo federal, as hidrelétricas são as que produzem eletricidade a menor custo e com menos poluição. “O potencial inexplorado permitiria dobrar a quantidade de eletricidade produzida hoje”, afirma.
As principais vantagens dessa fonte incluem capacidade de armazenamento, geração de grandes quantidades de energia, funcionamento ininterrupto e resposta rápida às demandas, além de tecnologia consolidada e que permite controle de tensão e frequência, com respostas também rápidas, explica Goldemberg. “Isso é facilitado pela existência de um sistema interligado de usinas por linhas de transmissão”, diz o engenheiro eletricista e doutor em engenharia elétrica Jorge Luiz do Nascimento, chefe do Laboratório de Fontes Alternativas de Energia (Lafae) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nascimento defende que o Brasil não abandone totalmente as hidrelétricas devido às suas vantagens. Com o aumento dos cuidados ambientais, porém, os extensos alagamentos feitos em décadas passadas para a construção de usinas como Itaipu e Balbina estão dando lugar à geração hidráulica a fio d’água, de menor impacto socioambiental e mais dependente do caudal dos rios, por não estocar grandes volumes de água.
Entre as desvantagens, Nascimento cita os grandes impactos ambientais durante a construção, implantação e operação das hidrelétricas, a possibilidade de mudar o clima das regiões próximas (sobretudo o regime de chuvas), o deslocamento de populações devido à construção dos lagos e à procura de emprego, a possibilidade de afetar a fauna e a flora locais.
SOLAR: PROMESSA QUENTE
Apesar de uma participação de menos de 1% na matriz elétrica nacional, a energia solar tem enorme potencial para o futuro. Izete Zanesco, do Núcleo Tecnológico de Energia Solar (NT-Solar), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), frisa que, ao contrário da energia eólica, centrais para produção de eletricidade usando o Sol podem ser instaladas em todo o país e em sistemas de pequeno porte no local do consumo de eletricidade, interligados à rede pública de distribuição.
Há duas formas de usar a energia solar para gerar energia elétrica. Uma é a fotovoltaica de menor escala ou de geração distribuída, baseada em painéis para captar os fótons da luz. Já as plantas concentradoras (CSP, do inglês Concentrate Solar Power) usam uma espécie de espelho refletor para concentrar a radiação em um ponto de modo a aquecer um fluido, como se fosse uma termelétrica.
Além de ser limpa, segura e renovável, essa fonte causa pouco impacto na construção e nenhum na operação. A vantagem é também econômica: a energia solar é muito indicada para gerar água quente para banho, substituindo uma parte importante da demanda residencial que vem de chuveiros elétricos.
Como depende de fornecedores e serviços de manutenção, ela estimula o surgimento de pequenas e médias empresas, espalhando empregos. Segundo Thiago Almeida, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace, até 2018, esse setor vai receber em investimentos R$ 12,5 bilhões com o que já tem contratado, o que deve gerar até 60 mil empregos. Segundo a ONG, em alguns estados o investimento em placas para uma casa de quatro pessoas é de R$ 15 mil, que se paga em cinco anos e gera energia por 25 anos.
A intermitência e a impossibilidade de ser armazenada estão entre as principais desvantagens dessa fonte.
EÓLICA: AO SABOR DO VENTO
O vento é a fonte com maior crescimento no Brasil. Entre abril de 2014 e abril de 2015, a capacidade instalada aumentou 102%, chegando a 5,8 megawatts (MW). Segundo o relatório de 2015 do Conselho Mundial de Energia Eólica, divulgado em abril, o país foi o quarto em crescimento de energia eólica em 2015, com 4,3% do total de nova capacidade instalada no mundo, ficando atrás apenas de China, Estados Unidos e Alemanha.
A tendência deve continuar nos próximos anos. Números da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) mostram que, em março de 2016, a capacidade já passou a 9,2 GW, distribuída em 369 parques eólicos, o que dá ao Brasil o 10º lugar no ranking mundial dessa fonte.
Além de ser limpa e inesgotável, a energia eólica não causa impactos ambientais durante o funcionamento, tem custo de operação baixo e possibilidade de operar complementarmente à energia solar, pois, em períodos sem sol, o vento é mais forte. Os contras incluem geração intermitente, impossibilidade de armazenamento e geração de pequenas quantidades de eletricidade, quando comparado a hidrelétricas. De acordo com o pesquisador José Luz Silveira, do Grupo de Otimização de Sistemas Energéticos, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é preciso conceber projetos não apenas para as concessionárias, mas também para pequenos autogeradores. “Além disso, é necessário investimento maciço na fabricação de turbogeradores eólicos e torres”, acrescenta.
BIOMASSA: PLANTAÇÃO DE ENERGIA
A biomassa é uma das fontes que mais se destacam no país. Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME), lembra que, segundo o Balanço Energético Nacional, a biomassa da cana-de-açúcar representa quase 16% da energia ofertada no Brasil e cerca de 40% da oferta total da renovável. Ela usa resíduos ou rejeitos inservíveis na geração de energia e é inesgotável e limpa, pois a planta absorve o CO2 emitido. Atrelada à política de etanol, porém, ela sofre com os vaivéns na área.
Maria Cristina Milinsk, coordenadora do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ressalta que há, ainda, grandes desafios tecnológicos a ser superados para uma produção mais eficiente. “Precisamos trabalhar para a formação de recursos humanos qualificados e desenvolver materiais e equipamentos que possam atender as diferentes fontes de biomassa disponíveis para a geração de energia”, diz.
NUCLEAR: ALTAMENTE CONTROVERSA
Como lembra o engenheiro mecânico e mestre em Energia Arnaldo Vieira de Carvalho Jr., que trabalha há 19 anos no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, como especialista líder em energia sustentável, o Brasil começou bem seu programa nuclear há 40 anos, acompanhado por forte desenvolvimento industrial associado ao ciclo de combustível e de produção de equipamentos de geração. No entanto, ele observa, as sucessivas interrupções e atrasos de cronograma tornaram seus custos insustentáveis.
Mas a necessidade de fontes de baixa emissão de carbono e de plantas de geração elétrica de base oferece novas oportunidades para a energia nuclear, diz Carvalho Jr. Ela é limpa, pois não emite poluentes, e tem grande potencial no Brasil, dono de uma das maiores reservas de urânio do mundo.Mas a necessidade de fontes de baixa emissão de carbono e de plantas de geração elétrica de base oferece novas oportunidades para a energia nuclear, diz Carvalho Jr. Ela é limpa, pois não emite poluentes, e tem grande potencial no Brasil, dono de uma das maiores reservas de urânio do mundo.
Por outro lado, essa energia é cara e problemática. José Goldemberg lembra que ela exige pesados investimentos de capital e tem originado grandes acidentes, como Chernobyl. “Provavelmente, é uma opção a ser usada apenas na ausência de alternativas menos custosas e problemáticas”, avalia. O Greenpeace não contempla nem essa hipótese: “É extremamente arriscada, como já se sabe, e as usinas só são construídas com grandes subsídios do governo. Angra 3 começou em 1984 e já custou R$ 7 bilhões para o país”, diz Thiago Almeida.