01/04/2011 - 0:00
Que a meditação faz bem para a saúde, a concentração, a memória e o estado emocional, pouca gente duvida: diversos estudos ao redor do mundo comprovaram isso. Até recentemente, porém, as pesquisas no setor deixavam algumas dúvidas incômodas. Feitos com voluntários experientes, alguns com milhares de horas de prática, os testes não deixavam claro quando os benefícios começam a aparecer, nem mesmo se os meditadores têm uma predisposição física e mental capaz de favorecer tais mudanças. Um novo estudo norteamericano responde a essas perguntas e sugere que qualquer pessoa pode, num prazo relativamente curto, conquistar os efeitos positivos da meditação.
Publicado em janeiro na revista Psychiatry Research: Neuroimaging, o trabalho analisou 16 pessoas, com idade entre 25 e 55 anos, que participavam do Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR), o programa de treinamento desenvolvido há mais de 30 anos por Jon Kabat-Zinn, professor de medicina e diretor fundador da Clínica de Redução do Estresse e do Centro de Atenção Plena em Medicina da Universidade de Massachusetts. Em oito encontros semanais, os participantes do programa aprendem exercícios de meditação destinados a desenvolver as habilidades da atenção plena – a consciência ampla e tolerante dos pensamentos, dos sentimentos, das sensações corporais e do ambiente ao redor. Cabe a eles praticar esses exercícios no intervalo entre os encontros. Ao longo dos anos, o programa tem formado pessoas que alegam sentir menos estresse e mais emoções positivas. Quem tem dores crônicas afirma que elas são amenizadas após o curso.
A equipe do estudo examinou o cérebro de cada participante do MBSR duas semanas antes e logo depois do programa de oito semanas, comparandoo com os dos integrantes de um grupo de controle que não havia recebido o treinamento. Os que foram treinados – nenhum dos quais tinha experiência prévia na área – contaram que haviam dedicado pouco menos de meia hora por dia a essa meditação doméstica.
Nos exames realizados no fim do programa, o cérebro dos não treinados não apresentou alterações. Já no dos praticantes, a massa cinzenta mostrou-se bem mais espessa do que era antes, em várias regiões. Uma delas é o hipocampo, cujas atividades têm relação com a aprendizagem, a memória e a regulação das emoções. Estudos anteriores já haviam mostrado que muitas pacientes de depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) apresentam pouca massa cinzenta no hipocampo. Outras diferenças substanciais foram notadas no cerebelo (região relacionada à regulação das emoções), na junção têmporo-parietal e no córtex cingulado posterior do cérebro dos meditadores (áreas ligadas à empatia e à assunção da perspectiva de outra pessoa).
Para a principal autora da pesquisa, Britta Hölzel – pesquisadora do Massachusetts General Hospital e da Universidade de Geissen, na Alemanha -, essas alterações podem indicar que a meditação aprimora a capacidade de regular as emoções, controlar os níveis de estresse e sentir empatia por outras pessoas. “Acho que o que é realmente positivo e promissor sobre esse estudo é que ele sugere que nosso bem-estar está em nossas mãos”, afirma ela. Britta também comentou a evidência, reforçada por seu trabalho, da “plasticidade” do cérebro, pela qual ele pode mudar de forma com o tempo: “O que eu considero fascinante é que apenas prestar atenção de um modo diferente e estar mais consciente podem ter um impacto capaz de mudar a estrutura da nossa mente.”
É sempre bom salientar que a meditação não é o único recurso capaz de alterar o cérebro. Uma semana antes da divulgação do estudo de Britta, uma pesquisa publicada na revista The Proceedings of National Academy of Sciences mostrou que o hipocampo de pessoas com 60 anos aumentou em volume depois de andarem três vezes por semana, durante um ano, em uma pista comum. Em pessoas que, no mesmo período, fizeram menos exercícios aeróbicos, o volume do hipocampo chegou a diminuir.
Equipe Planeta