11/01/2022 - 11:25
Como os humanos, as fêmeas dos golfinhos têm um clitóris funcional, de acordo com um estudo de pesquisadores americanos publicado na revista Current Biology. Os resultados são baseados na descoberta de que a estrutura semelhante a um clitóris posicionada na entrada vaginal dos golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) tem muitos nervos sensoriais e corpos eréteis.
“O clitóris dos golfinhos tem muitas características que sugerem que funciona para proporcionar prazer às fêmeas”, disse Patricia Brennan, professora assistente de ciências biológicas no Mount Holyoke College (EUA) e primeira autora do estudo.
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Os cientistas sabem que os golfinhos são altamente sociais. Eles fazem sexo durante todo o ano como forma de forjar e manter laços sociais. Também se observou que as fêmeas dos golfinhos têm um clitóris na vagina em um local que tornaria provável a estimulação durante a cópula. Houve ainda relatos de fêmeas esfregando os clitóris umas das outras com seus focinhos, nadadeiras e partes da cauda.
No novo estudo, Brennan e seus colegas examinaram mais de perto o clitóris dos golfinhos. Eles analisaram cuidadosamente os clitóris de 11 fêmeas que morreram naturalmente em relação à presença, forma e configuração de corpos eréteis. Os pesquisadores também observaram como as fibras nervosas percorrem os tecidos. O que eles viram corrobora a noção de um clitóris ativo nos golfinhos.
Papel funcional
“Assim como o clitóris humano, o clitóris dos golfinhos tem grandes áreas de tecido erétil que se enchem de sangue”, disse Brennan.
A forma do tecido erétil muda à medida que os animais se tornam adultos, acrescentou ela, sugerindo que adquire um papel funcional. Os estudos mostram ainda que o corpo do clitóris tem nervos grandes e muitas terminações nervosas livres logo abaixo da pele, que é muito mais fina ali do que na pele adjacente. Os pesquisadores também encontraram corpúsculos genitais muito semelhantes aos descritos anteriormente no clitóris humano e na ponta do pênis, conhecidos por estarem envolvidos na resposta de prazer.
No geral, Brennan disse que os corpos eréteis dos golfinhos são “surpreendentemente semelhantes” à forma dos corpos eréteis dos humanos.
“Uma vez que toda a pelve dos golfinhos é tão diferente da dos humanos, foi surpreendente ver como as formas eram semelhantes”, afirmou ela. “Além disso, o tamanho dos nervos no corpo do clitóris era muito surpreendente. Alguns eram maiores que meio milímetro de diâmetro.”
Brennan contou ter ficado curiosa sobre o clitóris dos golfinhos enquanto estudava a evolução das vaginas nesses animais.
Poucos estudos
“Cada vez que dissecávamos uma vagina, víamos um clitóris muito grande e ficávamos curiosos para saber se alguém o havia examinado em detalhes para ver se funcionava como um clitóris humano”, disse ela. “Sabíamos que os golfinhos fazem sexo não apenas para se reproduzir, mas também para solidificar os laços sociais, então parecia provável que o clitóris pudesse ser funcional.”
Os pesquisadores observam que há poucos estudos sobre o clitóris e o prazer sexual feminino na natureza. Na verdade, mesmo o clitóris humano não foi totalmente descrito até a década de 1990.
“Essa negligência no estudo da sexualidade feminina nos deixou com uma imagem incompleta da verdadeira natureza dos comportamentos sexuais”, observou Brennan. “Estudar e compreender os comportamentos sexuais na natureza é uma parte fundamental para entender a experiência animal e pode até ter importantes aplicações médicas no futuro.” Brennan e sua equipe continuarão a examinar o clitóris e a genitália de golfinhos e muitos outros vertebrados para ajudar a preencher essas lacunas.