Paisagem lunar a 2.700 metros de altitude.

Pimeiro parque nacional criado no Brasil, situado à beira da Via Dutra, entre as duas maiores metrópoles do país. Só isso já bastaria para tornar o Parque Nacional do Itatiaia uma vitrine da conservação da natureza para brasileiros e estrangeiros – sobretudo os que virão para a Copa do Mundo e a Olimpíada. Certo? Não.

Desfrutar desse patrimônio natural implica usar a infraestrutura oferecida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, em termos de acesso e apoio, e aí a situação fica delicada, para dizer o mínimo. Uma estrada federal espantosamente precária e uma carência clamorosa de funcionários são as evidências mais gritantes da falta de verbas com que o mais antigo parque nacional é obrigado a conviver – assim como toda a política de conservação ambiental do país. Qualquer comparação com outros parques tradicionais em países desenvolvidos deixa o Brasil “mal na foto” (veja quadro à pág. 26).

Mesmo assim, quem quiser encarar o desafio não irá se arrepender. Itatiaia é um tesouro que merece não uma, mas várias visitas. Para começar, são dois parques em um, com acessos diferentes, cada qual com diversos e peculiares atrativos, que um fim de semana dificilmente esgota. Adeptos de caminhadas, montanhistas, observadores de pássaros, naturalistas, amantes da natureza ou simplesmente pessoas que querem sossego num lugar inspirador, sem a onipresença de celulares e da internet, vão ter razões de sobra para apreciar a viagem.

Turistas deliciamse no Lago Azul, piscina natural formada pelo Rio Campo Belo.

O Parque do Itatiaia (“pedra cheia de pontas”, em tupi) está situado no maciço de mesmo nome, na Serra da Mantiqueira, no sudoeste do Rio de Janeiro (municípios de Resende e Itatiaia) e no sul de Minas Gerais (municípios de Bocaina de Minas, Alagoa e Itamonte), quase na divisa com São Paulo. Seus 30 mil hectares (300 km2) abrangem desde terrenos mais baixos, cobertos por mata atlântica, até algumas das mais elevadas montanhas do país, como o Pico das Agulhas Negras (2.787 metros de altitude, a sétima maior).

 

Acima, escalada na parte alta do parque, rumo ao Pico das Agulhas Negras (2.787 metros de altitude).

A criação do parque já havia sido pr oposta em 1913, mas só se tornou realidade 24 anos depois, no governo de Getúlio Vargas

As terras onde hoje se assenta o parque pertenciam ao lendário Visconde de Mauá, o primeiro grande empresário, industrial e banqueiro brasileiro. O Ministério da Fazenda adquiriu-as em 1908 para instalar dois núcleos agrícolas destinados a colonos estrangeiros. Como a iniciativa fracassou, os terrenos foram repassados ao Ministério da Agricultura, que em 1929 criou ali uma estação biológica.

Desde 1913, porém, o botânico Alberto Loefgren já defendia a conversão da área em parque nacional. Debatida naquele ano numa conferência da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, a ideia foi endossada por vários pesquisadores. O parque só acabou sendo criado em 1937, por decreto do então presidente Getúlio Vargas. Em 1982, outro decreto, do presidente João Figueiredo, adicionou aos seus 12 mil hectares iniciais outros 18 mil hectares – mas, ao avançar sobre propriedades com escritura lavrada, produziu um imbróglio cuja solução se arrasta há décadas (ver quadro à pág. 25).

Acima, a cachoeira Véu da Noiva, no Rio Maromba, uma das principais atrações do Itatiaia. Abaixo, entrada do Centro de Visitantes, que abriga museu, biblioteca, auditório e laboratório científico.

 

Viveiro de aves

Há dois grandes ecossistemas. O primeiro é composto pela úmida e verdejante mata atlântica da parte baixa, recomendada para quem não faz questão de frio e prefere programas menos exigentes. Ali se concentra a maior parte das mais de 1.200 espécies animais do parque, como macacos (entre os quais o ameaçado monocarvoeiro), preguiças, lobos-guarás, cachorrosdo- mato e jaguatiricas.

As aves são um espetáculo à parte. Mais de 300 espécies diferentes – beija-flores, codornas, juritis, pica-paus, sabiás, tucanos e gaviões – produzem um festival de cantos que cativa os visitantes. Apenas os pássaros do Itatiaia já constituem um chamariz especial, atraindo pessoas do Brasil e do Exterior para o parque.

Infelizmente, com a passagem de colonos, antes da criação do parque, boa parte da cobertura original de árvores se perdeu, substituída por espécies plantadas pelos moradores. A riqueza vegetal, porém, impressiona. Há cedros, ipês, paineiras e várias espécies de canelas e o hoje raro pinheiro-do-paraná, além de fartura de samambaias.

Muita gente procura o parque para conhecer suas cachoeiras e piscinas naturais. O Maciço de Itatiaia é um divisor de águas das bacias dos rios Paraíba do Sul e Grande. Vários cursos d’água nascem ali. Os destaques da parte baixa são os rios Campo Belo e Maromba, cujas águas cristalinas são um verdadeiro ímã de turistas.

A 1.150 metros de altitude, por exemplo, o Maromba despenca 40 metros para formar a famosa cachoeira Véu da Noiva e, logo a seguir, desce para outra queda d’água e uma piscina natural que leva o nome do rio. O Campo Belo forma as belas cachoeiras e piscinas naturais de Itaporani e Poranga, além do Lago Azul – uma piscina natural cuja proximidade do Centro de Visitantes a torna concorridíssima. A água é fria em todos esses locais, mas o banho vale a pena. Outro aviso importante: rústica, a trilha que leva ao Véu da Noiva exige um bom par de tênis e razoável condição física.

 

Dois mirantes enriquecem a parte baixa. Três Picos, ponto situado a 1.662 metros de altitude, no fim de uma trilha de seis quilômetros no meio da mata, propicia uma vista privilegiada do vale do Paraíba do Sul, da Mantiqueira e da Serra do Mar. Já o Mirante do Último Adeus, a dois quilômetros da entrada do parque, oferece belas vistas do vale do Rio Campo Belo e da Serra do Mar.

Quem gosta de informações didáticas deve conhecer o Centro de Visitantes, a pouca distância da entrada do parque. Ali estão o Museu Regional da Fauna e Flora (com bom acervo de plantas, mamíferos, répteis, aves e insetos da região), uma biblioteca técnico-científica, um auditório com 64 lugares e um laboratório científico. Exposições temporárias ajudam a movimentar a programação do local.

Montanhas frias

Na parte alta do parque, também chamada de Planalto, a paisagem muda drasticamente. Depois de vencer um trecho épico da BR-485, que faz o trajeto da parte baixa parecer uma autoestrada alemã, o visitante se vê diante de um planalto com altitude média de 2.450 metros, marcado por várzeas, vegetação rasteira, temperaturas baixas (que chegam a -15°C no inverno) e grandes formações rochosas. O cenário é amplo, aberto e propício a caminhadas e escaladas. E traiçoeiro: as variações climáticas e a possibilidade de se perder tornam arriscado percorrê-lo sem um guia que conheça bem a região.

A vegetação rasteira é das mais interessantes. Ali se encontram espécies inexistentes em outras regiões do Brasil. Há, por exemplo, belos exemplares de orquídeas terrestres, bromélias, quaresmeiras, brincos-de-princesa, margaridas e lírios. Mais modesta do que na parte baixa, a fauna local tem como destaques os ameaçados gavião-real e onça-suçuarana e dezenas de espécies de anfíbios, como o sapo flamenguinho e o lagarto mabuia.

As montanhas, com o Pico das Agulhas Negras à frente, são o grande chamariz da região. Um dos passeios mais populares tem como destino a Serra das Prateleiras, de cujo topo se aprecia uma imponente vista do vale do Paraíba do Sul. A área oferece diversas vias de escalada, com vários graus de dificuldade. Nos arredores há lagos e formações rochosas atraentes, como a Pedra da Tartaruga e a Pedra Assentada. A Pedra do Altar, com uma face desafiadora, é uma das preferidas dos montanhistas. Para quem sentir saudade de água corrente, a Cachoeira de Aiuruoca, acessível por uma trilha de seis quilômetros, é um regalo para os olhos – mas a água é gelada!

O planalto, com quase 2.500 metros de altitude média, é dominado por vegetação rasteira e grandes formações rochosas – cenário propício a caminhadas e escaladas

Nó fundiário

Setenta e quatro anos depois da criação de seu primeiro parque nacional, o Brasil ainda está longe de saber o que pretende exatamente com essas áreas. Não surpreende, portanto, que o muito bem localizado Itatiaia tenha acessos ruins e poucos funcionários para atender 100 mil visitantes anuais. Tampouco causa surpresa a falta de regularização fundiária – um problema recorrente em todo o Brasil, que, de acordo com o presidente do ICMBio, Rômulo Mello, atinge quase 40 milhões dos 78 milhões de hectares das unidades de conservação federais.

Promulgada no ano 2000, a lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) estabeleceu que os parques nacionais não podem conter propriedades privadas. Seus donos, portanto, teriam de ser desapropriados e indenizados o mais rápido possível. Nos 18 mil hectares incorporados ao Itatiaia em 1982 há vários imóveis particulares instalados legalmente há muito tempo (o Hotel Donati, por exemplo, foi fundado em 1931, antes da criação do parque).

Sem dinheiro para as indenizações, o governo federal foi empurrando a situação com a barriga. Enquanto isso, as propriedades se tornaram áreas de preservação permanente, subordinadas a regras de uso específicas.

Para desfazer o imbróglio, a Associação dos Amigos do Itatiaia (AAI), que reúne os proprietários, tentou, em 2008, converter 1.300 hectares do parque (nos quais estão a maioria das casas e hotéis) em Monumento Natural, área protegida que comporta a existência de imóveis particulares. Um ano depois, porém, o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, rejeitou a proposta e decidiu dar sequência a um plano do ICMBio para implementar o parque, efetuando as indenizações.

Em dezembro de 2010, dois dos imóveis em litígio passaram para a União. A transação (cerca de R$ 332 mil por 3 hectares) foi divulgada pela direção do parque como marco inicial das desapropriações e vista pela AAI como uma venda normal, proposta pelos antigos proprietários. Há grande discrepância entre os valores pretendidos pelos donos dos imóveis e o orçamento do parque.

Com a falta de sintonia entre os dois lados, a certeza é de que a discussão sobre as indenizações não terminará tão cedo. Integrantes da AAI prometem ir até o fim na defesa de seus direitos. Walter Behr, diretor do parque, afirmou em dezembro, por ocasião da compra dos imóveis, que outras aquisições se seguirão.

 

Benchmark longínquo

O Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, tem uma área dez vezes maior que a do Itatiaia (embora a visitação se concentre nos 18 km2 do Yosemite Valley). Uma comparação mostra que as diferenças entre as duas reservas são abissais – mesmo considerando que uma está nos Estados Unidos, país com o 1º PIB do mundo (US$ 14,6 trilhões), enquanto a outra está no Brasil, 7º PIB do mundo (US$ 2,1 trilhões).

Parque

Yosemite

Itatiaia

Área

3.080 km2

300 km²

Orçamento em 2010

R$ 49,9 milhões

R$ 1,3 milhão

Número de servidores

1.123 no verão; 743 no inverno

20

Número de terceirizados

1.180 no verão; 1.100 no inverno

57

 

O Rio Campo Belo desce as montanhas da parte baixa do parque, numa das belas paisagens visíveis do Mirante do Último Adeus.

Serviço

Como ir: Parte baixa: A partir do km 316 da Via Dutra (altura de Itatiaia), pela BR-485. Parte alta: pela BR-354 (Rio – Caxambu), que começa no km 330 da Dutra. No trecho denominado Garganta do Registro, a estrada se liga a outro segmento da BR-485, que leva à segunda entrada do parque.

Onde ficar: Parte baixa:Hotel Donati – tels. (24) 3352-1110 e (24) 3352-1509, site www.hoteldonati.com.br, e-mail donati@hoteldonati.com.br. Esse hotel a cerca de 850 metros de altitude, que já hospedou Vinícius de Moraes e o pintor Alberto Guignard, harmoniza rusticidade e conforto na dose certa, com culinária saborosa e guias para passeios.

Hotel do Ypê – tel. (24) 3352-1453, site www.hoteldoype.com.br. A 1.250 metros de altitude, o Ypê também investe na fórmula alimentação caprichada e contato facilitado com a natureza por meio de guias. Parte alta: Abrigo Rebouças – Essa opção oferecida pelo parque, a 2.540 metros de altitude, tem capacidade reduzida; as reservas são feitas pelos telefones (24) 3352- 1292 e (24) 3352-8694.

Hotel São Gotardo – tel. (35) 3363-9000, site www.hotelsaogotardo.com. br). Opção requintada, tem uma vantagem para quem deseja visitar o Planalto – fica na frente da entrada do parque, a 1.750 metros de altitude.

Outras informações: Site: www.icmbio.gov.br/parna_itatiaia,

tels. (24) 3352-1292 e 24.3352-8694.

 

Israel investe pesado em dessalinização

A maior usina de dessalinização do mundo foi inaugurada em fevereiro na cidade de Hadera (Israel), à beira do Mediterrâneo. A um custo total de quase US$ 500 milhões, a planta – a terceira desse tipo no país – capta água do mar e a torna potável. A produção estimada, de 127 milhões de metros cúbicos de água por ano, poderá abastecer um sexto da população israelense. O país, que vive em situação de risco quanto ao abastecimento de água, já está construindo mais duas usinas.

 

 

Faxina no Everest

Apa Sherpa, o “Super Sherpa”, um dos principais alpinistas do Nepal, lidera nesta temporada uma missão diferente ao maior pico da Terra: a Eco Everest Expedition 2011. As 58 pessoas da equipe (entre eles 23 estrangeiros) vão coletar quatro toneladas de lixo na montanha, levá-las para o campo-base e participar do programa Cash for Trash, criado por uma empresa de trekking. Cada quilo de lixo rende cerca de R$ 3,60. Garrafas vazias de oxigênio, cordas e tendas são os itens mais descartados.

Desmatamento cai na Amazônia e no Cerrado

O Ministério do Meio Ambiente divulgou em abril dados que revelam a queda no desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Em 2010, o desmate caiu 23% nos 43 municípios da região amazônica que mais abatem árvores. No Cerrado, a taxa anual de desmatamento, que era de 14,2 mil quilômetros quadrados entre 2002 e 2008, caiu cerca de 50%, para 7,6 mil quilômetros quadrados, entre 2008 e 2009. Mesmo com essa queda, o Cerrado ainda é um dos biomas mais ameaçados do país.

 

Buraco recorde na camada de ozônio

Entre dezembro de 2010 e março de 2011, o buraco na camada de ozônio situada sobre a região ártica cresceu 40%, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OM). O índice supera em dez pontos percentuais o recorde anterior, obtido várias vezes nos últimos 15 anos. A OM atribui o fenômeno a um inverno excepcionalmente frio na estratosfera e à presença contínua de substâncias destruidoras do ozônio na atmosfera, como os clorofluorcarbonos (CFCs), que levam décadas para se dispersar.

 

Rio de Janeiro mais quente no século 21

A região metropolitana do Rio de Janeiro terá de conviver com temperaturas mais altas até o fim do século. De acordo com o relatório Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas, preparado por instituições como a Unicamp e a Fiocruz, divulgado em abril, o acréscimo deverá ser em média de 4,8ºC. A elevação está ligada a uma combinação de efeitos relacionados ao aquecimento global, como o aumento no número de eventos extremos (tempestades, secas) e a elevação do nível do mar.

 

Vitrine

Já em exibição na SescTV e com estreia prevista para 15 de maio na TV Cultura (SP), a série Somos1Só aborda a sustentabilidade de forma inovadora. Com argumento e direção-geral de Ana Dip e roteiro de José Roberto Torero, a obra é composta por oito episódios (Cidade, Consumismo, Cultura, Educação, Espiritualidade, Poder, Produção e Trabalho), um filme e 20 programetes que mesclam ficção e documentário e usam o humor e a ironia a fim de traduzir o conceito e suas implicações para o público em geral.

Lançado pelos centros de estudo em Sustentabilidade e em Administração Pública e Governo da Fundação Getulio Vargas, o livro Madeira de Ponta a Ponta: O caminho desde a floresta até o consumo, de Sérgio Adeodato, Malu Villela, Luciana Betiol e Mário Monzoni, mostra de forma didática a trajetória da madeira amazônica extraída ilegalmente e os prejuízos causados por esse procedimento, contrapondo-os às vantagens do manejo sustentável. A obra está disponível eletronicamente no site www.fgv.br/ces/raa.

Empresas + verdes

A Samsung lançou o “Preservar a Natureza. Você pode mais”, sistema de coleta e descarte dos toners usados nas impressoras e multifuncionais da marca. Para agendar a retirada, gratuita, consumidores finais, revendas e empresas devem se cadastrar em www.samsung.com.br/recicle e informar o modelo do toner, a quantidade, o local e a data da coleta.

 

O Programa de Eficiência Sustentável da fábrica da ThyssenKrupp Elevadores, em Guaíba (RS), conta com um banheiro sustentável que poupa até 60% de água da rede de abastecimento e funciona com energia 100% solar. O sistema coleta água da chuva, purificada com um filtro desenvolvido pelos funcionários; a descarga é seletiva e as torneiras possuem temporizador.

 

A Embalixo e a petroquímica Braskem uniram-se para fabricar sacos para lixo feitos a partir de plástico verde (que usa etanol de cana) 100% renovável. O produto é apresentado nas versões lixeira de cozinha, pia e banheiro, 15 litros, 30 litros, 50 litros, 100 litros e na opção 110 litros, indicada para condomínios e jardins.

A Petrobras reusou ao todo 17,3 bilhões de litros de água em 2010. Graças ao reuso, sua refinaria de Capuava (SP) – a primeira sul-americana com descarte zero de efluentes – deixou de captar 1 bilhão de litros de água por ano do Rio Tamanduateí, que corta o município onde fica a planta, e evitou lançar nele 700 milhões de litros de efluente industrial por ano.