23/02/2022 - 14:16
Uma equipe de arqueólogos jordanianos e franceses relatou ter encontrado um santuário neolítico de aproximadamente 9 mil anos num deserto remoto na Jordânia. As estruturas descobertas indicam que os seres humanos encurralavam e caçavam gazelas muito antes da tese atualmente difundida.
O complexo foi encontrado num acampamento neolítico perto de grandes estruturas conhecidas como “pipas do deserto”, que seriam armadilhas usadas para encurralar gazelas selvagens para o abate. Essas armadilhas consistem em pelo menos duas quilométricas paredes de pedra convergindo em direção a um cercado, onde os animais poderiam ser caçados com mais facilidade.
Embora tais estruturas também sejam encontradas em outras partes das paisagens áridas do Oriente Médio e do sudoeste da Ásia, os especialistas acreditam que as da Jordânia sejam as mais antigas, mais bem preservadas e maiores.
“Este é um local único, onde grandes quantidades de gazelas eram caçadas em rituais complexos. Não há rival no mundo desde a Idade da Pedra”, explicou o arqueólogo jordaniano Wael Abu Azizeh. “O sítio é único, também por causa de seu estado de preservação. Tem 9 mil anos e tudo estava quase intacto.”
Segundo um comunicado do Projeto Arqueológico do Sudeste da Badia (Sebap), que trabalha no local desde 2013, as estruturas de paredes convergentes “atestam o surgimento de estratégias de caça em massa extremamente sofisticadas, inesperadas num período tão precoce”.
Uma comunidade em torno da caça
A equipe de especialistas franceses e jordanianos também achou mais de 250 artefatos no local, incluindo quatro estatuetas de animais que, segundo os arqueólogos, teriam sido usadas em rituais para invocar forças sobrenaturais, a fim de garantir o sucesso na caça.
Dentro do santuário encontravam-se também duas estátuas de pedra antropomórficas – uma delas acompanhada por uma representação da “pipa do deserto”. Havia, ainda, um altar, lareira, 149 fósseis marinhos e um modelo em miniatura da armadilha das gazelas. Os objetos estão entre algumas das peças artísticas mais antigas já encontradas no Oriente Médio.
A proximidade entre o local e as armadilhas sugere que os habitantes eram caçadores especializados e que as armadilhas eram “o centro da sua vida cultural, econômica e até simbólica nesta zona marginal”, consta do comunicado.
As habitações circulares em forma de cabanas de assentamento e as grandes quantidades de restos de gazelas mostram que os habitantes não estavam apenas caçando para suas próprias necessidades, mas também trocavam suas caças com assentamentos vizinhos.
Segundo os pesquisadores, o santuário “lançou uma nova luz sobre o simbolismo, a expressão artística, bem como a cultura espiritual dessas populações neolíticas até então desconhecidas”.
O ministro do Turismo da Jordânia, Nayef al-Fayez, declarou que as descobertas são uma adição espetacular às joias arqueológicas do país, as quais incluem a cidade de Petra, escavada na rocha do deserto, a romana Gérasa e castelos da Idade Média.
pv/av (Reuters, AFP, DPA)