16/03/2022 - 8:19
Pesquisa divulgada pela Universidade de Oxford mostrou que uma variante do HIV, identificada como VB, encontrada em pacientes da Holanda, é mais transmissível e prejudicial à saúde. Uma pessoa morre por minuto no mundo por HIV, segundo a Unaids (programa das Nações Unidas criado em 1996, cuja função é a de criar soluções e ajudar nações no combate à aids).
De acordo com Ricardo Vasconcelos, médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, isso ocorre porque “o HIV sofreu mutações em seu material genético original e essas mutações, que são mais de 300, modificaram de alguma forma as proteínas que o vírus usa para se replicar. A mudança permitiu que ele se tornasse mais ágil, possibilitando, ao infectar uma pessoa, atingir cargas virais mais altas e fazer mais cópias de HIV no organismo. Isso faz com que a doença tenha uma progressão mais rápida que o habitual. Quanto maior a carga viral, maior a transmissibilidade dessa pessoa”. Ainda não há informações se essa variante chegou ao Brasil, mas já foi possível verificar que, apesar de sua agressividade, ela responde bem aos tratamentos atualmente existentes.
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Dificuldades no vínculo ao tratamento
Hoje em dia, 38 milhões de pessoas vivem com HIV. Desse total, 28 milhões estão em tratamento antirretroviral. Desde a década de 90, os retrovirais são utilizados, além de novos medicamentos, no tratamento. Para o infectologista, conter a doença não é tão difícil, mas conseguir diagnosticar todo mundo e conter a epidemia é mais complicado. “A dificuldade é fazer as pessoas com HIV se testarem e enfrentarem toda a discriminação e sorofobia que existem no mundo e continuarem vinculadas ao tratamento, ao Serviço de Saúde, às consultas, aos exames. Essa é a dificuldade. Quando a pessoa consegue passar por todas essas etapas, não tem dificuldade.”
O infectologista se arrisca a dizer que “discriminação, preconceito, homo e transfobia, desigualdade social e machismo causam muito mais obstáculos para a gente controlar a pandemia de HIV do que uma variante genética, porque todos os métodos de prevenção, diagnósticos e tratamento para o HIV que já existem, disponíveis, funcionam para essa variante, basta a gente conseguir colocar em prática”. Segundo a Unaids, estima-se que 79 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus, que ainda não tem vacina, nem cura. Desde o início da pandemia, cerca de 36 milhões de pessoas morreram de doenças relacionadas à aids e um milhão e meio foram recém-infectadas pelo HIV em 2020.
* Confira a íntegra da entrevista do professor Ricardo Vasconcelos ao Jornal da USP no Ar acessando o link disponível na matéria original.