04/04/2022 - 18:39
Há bilhões de anos, algum lugar desconhecido na Terra se tornou um caldeirão de moléculas orgânicas complexas do qual surgiram as primeiras células. Ao longo dos anos, pesquisadores criaram algumas hipóteses sobre como isso aconteceu, lançando a pergunta: como a primeira proteína se formou sem vida para produzi-la?
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Em um artigo publicado no mês passado na revista científica Nature Astronomy, um grupo de astrobiólogos mostrou que os peptídeos, as subunidades moleculares das proteínas, podem se formar espontaneamente nas partículas sólidas e congeladas de poeira cósmica que flutuam pelo universo.
Segundo a equipe responsável pela pesquisa, esses peptídeos poderiam, em teoria, ter viajado dentro de cometas e meteoritos para a jovem Terra (e para outros mundos) para se tornarem alguns dos materiais iniciais para a vida.
A simplicidade e a termodinâmica favorável deste novo mecanismo baseado no espaço para formar peptídeos o tornam uma alternativa mais promissora para os processos puramente químicos conhecidos que poderiam ter ocorrido em uma Terra sem vida, de acordo com Serge Krasnokutski, principal autor do novo artigo e pesquisador pesquisador do Instituto Max Planck de Astronomia e da Universidade Friedrich Schiller, na Alemanha.
De acordo com ele, essa simplicidade sugere que as proteínas estavam entre as primeiras moléculas envolvidas no processo evolutivo que leva à vida. Se esses peptídeos poderiam ter sobrevivido à sua árdua jornada do espaço e contribuído significativamente para a origem da vida é uma questão em aberto.
Para Paul Falkowski, professor da Escola de Ciências Ambientais e Biológicas da Universidade Rutgers, a química demonstrada no novo artigo é “muito legal”, mas “ainda não preenche a lacuna fenomenal entre a química proto-prebiótica e a primeira evidência da vida”. Segundo ele, “há uma faísca que ainda está faltando”.
Ainda assim, a descoberta de Krasnokutski e seus colegas mostra que os peptídeos podem ser um recurso muito mais prontamente disponível em todo o universo do que os cientistas acreditavam, uma possibilidade que também pode ter consequências para as perspectivas de vida em outros planetas.