10/04/2022 - 7:22
Após a subvariante da ômicron BA.1 ter sido responsável pelo surto de covid-19 que ocorreu entre dezembro e janeiro e ainda ser predominante no Brasil, a BA.2 – que já está crescendo entre infectados no país – tem causado preocupação de especialistas por ser mais contagiosa que suas antecessoras.
A BA.2 já é responsável pelo aumento de infecções por covid-19 em toda a Europa. Embora seja mais transmissível do que a ômicron original, dados sugerem que a BA.2 não causa uma forma mais grave da doença do que as subvariantes anteriores da ômicron.
Mas quem já contraiu a ômicron pode se reinfectar com a BA.2? Quando a variante ômicron começou a se espalhar no final de 2021, ela provocou o maior surto da pandemia de coronavírus. Acreditava-se que a ômicron causava infecções mais leves do que as variantes anteriores, mesmo sendo mais infecciosa.
Tanto as pessoas que já haviam se recuperado da covid-19 quanto as vacinadas contraíram a ômicron – mesmo aquelas que receberam uma dose de reforço da vacina anticovid. A subvariante BA.2 pode ser mais contagiosa que a ômicron original, conhecida como BA.1.
Mas os dados até agora são inconclusivos, e os cientistas estão divididos. Alguns dizem que podemos estar lidando com uma variante completamente nova do coronavírus.
Reinfecções são possíveis, mas podem ser raras
Dados iniciais do Reino Unido mostram que algumas pessoas estão se infectando tanto com a variante original da ômicron (BA.1) quanto com sua subvariante BA.2.
Isso parece ser apoiado por evidências do Vanderbilt University Medical Center, nos EUA. Os médicos disseram à DW que viram casos de pessoas sendo reinfectadas com a ômicron, a exemplo dos dados coletados por médicos do Reino Unido.
Mas Shira Doron, médica e professora associada da Tufts University School of Medicine, nos EUA, não reportou nenhuma reinfecção pela ômicron. Doron afirmou que os casos relatados como reinfecções podem, de fato, se tratar de “falsos positivos”.
“Quando vejo alguém que foi reinfectado, sempre o convido para refazer o teste. E, muitas vezes, vejo que o segundo exame dá negativo”, contou Doron.
Já um estudo dinamarquês do final de fevereiro sugere que a reinfecção é possível, mas extremamente rara.
O estudo analisou cerca de 1,8 milhão de casos durante a onda inicial da ômicron – do final de novembro de 2021 a meados de fevereiro de 2022.
Durante esse período, os pesquisadores disseram que os médicos registraram 187 reinfecções por covid-19 – sendo que 47 delas foram de pessoas que se infectaram tanto com a BA.1 quanto com a BA.2.
Essa é uma proporção muito baixa – 47 em 1,8 milhão –, o que sugere que as reinfecções são realmente raras. Mas os dados podem mudar conforme por quanto tempo mais os coletamos.
Monica Gandhi, professora de medicina da Universidade da Califórnia, nos EUA, disse que as reinfecções por ômicron podem se tornar mais comuns do que sugere o estudo dinamarquês. Gandhi contou que os anticorpos fornecidos pela infecção ou por uma vacina de reforço podem durar apenas cerca de quatro meses. Assim, à medida que essa proteção diminui, nos tornamos vulneráveis novamente.
Mas não é isso que os pesquisadores estão vendo em Israel.
Cyrille Cohen, médico e conselheiro do Ministério da Saúde de Israel, afirmou que os dados coletados no país indicam que a reinfecção em um curto período de tempo – ou seja, dentro de dois meses – é muito rara.
Cohen diz que, entre as 2,5 milhões de pessoas que testaram positivo para o coronavírus de novembro a início de fevereiro, foram observadas apenas algumas centenas de casos de reinfecção.
Será que a BA.2 é apenas mais uma ômicron?
Assim como em todos os dados sobre a BA.2, a ciência também está dividida quanto à sua origem.
No final de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse num comunicado sobre a BA.2 que ela “deveria ser considerada uma variante de preocupação e que deveria permanecer classificada como ômicron”.
Cohen parece concordar – pelo menos com o último ponto que a BA.2 é outra forma de ômicron. O médico diz que BA.1 e BA.2 são geneticamente semelhantes. Como resultado, disse Cohen, é improvável que vejamos uma grande onda de infecções por BA.2, porque muitas pessoas já estão imunes à BA.1.
Mas isso, mais uma vez, não é o que outros pesquisadores afirmam.
Um estudo japonês publicado em meados de fevereiro sugere que há diferenças genéticas significativas entre BA.1 e BA.2 – e que elas podem ser maiores do que pensamos.
Os pesquisadores escrevem que a BA.2 é tão geneticamente diferente da BA.1 que merece sua própria letra do alfabeto grego – o que significa que deveria ser reconhecida como uma variante do coronavírus.
Eles descobriram que a variante BA.2 não era mais transmissível do que a BA.1, mas também que a BA.2 é melhor para evitar a imunidade existente ao vírus.
No entanto, seus estudos usaram um pseudovírus BA.2 – em vez do vírus real. E isso pode significar que eles obteriam resultados diferentes se fizessem testes semelhantes com pessoas.
Vacinação ainda desempenha papel importante
As vacinas fornecem um bom nível de proteção contra a covid-19. Você ainda pode ser infectado, mas é menos provável que sofra uma infecção grave.
Quanto à reinfecção, a pesquisa foi, mais uma vez, inconclusiva.
Um estudo realizado na Áustria em março mostrou: pessoas não vacinadas que tenham sido primeiramente infectadas pela ômicron desenvolveram apenas anticorpos contra a variante BA.1. É provável, disseram os pesquisadores, que essas pessoas não tenham proteção contra outras cepas da covid-19.
Enquanto isso, outro estudo nos EUA mostrou que pessoas que foram vacinadas após contraírem a BA.1 desenvolveram anticorpos robustos contra a BA.2.
Os autores do estudo dizem que “a única pessoa que não tinha [anticorpos] neutralizantes detectáveis não era vacinada”.
Dado tudo o que a ciência ainda não sabe, aqui está o que parece ser verdade: a subvariante BA.2 está se espalhando rapidamente e parece ser 30% mais contagiosa do que a BA.1. Ela circula na Europa desde o início de fevereiro – exclui-se aí a Alemanha, que viu seu maior número de infecções em meados de março.
Já no Brasil, segundo um estudo divulgado no final de março pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS), a proporção de casos prováveis da linhagem BA.2 da variante ômicron subiu de 3,8% em relação ao total de diagnósticos positivos para 27,2% em três semanas.