01/05/2011 - 0:00
Químico vietnamita conduz trabalho de pesquisa de substâncias naturais associado à multinacional Bayer. Amostras de plantas são submetidas à análise em laboratório e seus componentes são então disponibilizados para testes sobre eficiência biológica.
Em 4 de outubro de 2010, um desastre aconteceu na Hungria. Na fábrica de alumínio da empresa MAL perto da cidade de Kolontar, a 160 quilômetros de Budapeste, as paredes de um reservatório cederam. Uma torrente de lodo vermelho tóxico com dois metros de altura foi derramada, soterrando pessoas e casas em seu rastro. Nove pessoas morreram, 150 ficaram feridas. Várias centenas de milhares de toneladas de lixo tóxico contaminaram 40 quilômetros quadrados de terra. Produto residual do processo de fabricação do alumínio, o lodo era perigoso porque continha hidróxido de sódio e metais pesados tóxicos, como o mercúrio, o arsênico e o cromo.
Nas últimas décadas, os acidentes químicos têm sido repetidamente motivo de horror e desânimo – e as imagens apocalípticas geradas tiveram um efeito negativo duradouro sobre a indústria química. Em 1976, o gás dioxina vazou de uma usina operada pela Icmesa, uma subsidiária da multinacional francesa Roche, em Seveso, cidade do norte de Itália, perto de Milão. A nuvem do gás, milhares de vezes mais tóxico que o cianeto de potássio, deixou um rastro de morte e destruição – plantas murchas, árvores desfolhadas e milhares de animais mortos. Fotos de rostos de crianças desfigurados e trabalhadores usando máscaras de gás e roupas de proteção brancas correram o mundo.
Oito anos mais tarde, houve um acidente ainda mais horrível na Índia. Quarenta toneladas do gás isocianato de metila, altamente tóxico, escaparam de uma fábrica da gigante norteamericana Union Carbide (agora subsidiária da multinacional Dow Chemical) em Bhopal, no centro da Índia. Vários milhares de pessoas morreram e meio milhão ainda sofre as consequências do desastre ocorrido em 1984. Bhopal é considerado o mais grave acidente químico já ocorrido.
Dois anos depois, novamente na Europa, um armazém perto da Basileia (Suíça) pertencente à multinacional Sandoz (hoje Novartis) foi consumido pelas chamas. Pesticidas tóxicos derramados no Rio Reno tingiram a água de vermelho por centenas de quilômetros; toneladas de peixes mortos desceram o curso d’água.
Poluidor nº 1
Kolontar, Bhopal, Seveso, Basileia. As razões para esses desastres são quase sempre as mesmas – negligência, desleixo e erro humano. E quase sempre as empresas tentam encobrir e minimizar as causas e as consequências dos acidentes. Os resultados também são similares – paisagem devastada, vegetação destruída, animais mortos e, no meio deles, trabalhadores com vestes de proteção parecendo alienígenas.
O público está cada vez mais preocupado com esses perigos invisíveis mortais – agora não apenas radiação, mas contaminação química também – e o movimento ambientalista surgido nos anos 1970-1980 não para de crescer. Com frequência cada vez maior, práticas deploráveis das empresas – como simplesmente despejar seus resíduos tóxicos no ambiente ou enviá-los para países pobres – estão sendo expostas. Aos olhos de uma opinião pública cada vez mais consciente em termos ecológicos, a indústria química se tornou o poluidor nº 1.
A palavra “química” virou sinônimo de “tóxico”. Hoje, o rótulo “livre de produtos químicos” ajuda a estimular as vendas. No espaço de poucas décadas houve uma dramática mudança de imagem. Nos anos 1950, náilon, plástico e sabão em pó significavam progresso; nas décadas de 1970 e 80, a imagem da indústria química tornou-se deploravelmente suja.
Nos anos 1950, náilon, plástico e sabão em pó significavam progresso; nos anos 1970 e 1980, a imagem passada pela indústria química era flagrantemente suja
A propósito, a antiga palavra egípcia kemi se referia ao solo negro do Egito e também a um delineador de olhos preto (kohl). Em árabe, kemi tornou-se al-kimia, ou alquimia. Esse antigo passatempo ocultista tornou-se uma ciência formal por volta do século 18 e, a partir do século 19, uma das indústrias mais importantes do mundo. Foi quando nasceram os grandes protagonistas globais de hoje: Basf, Bayer, Du- Pont e Roche.
A indústria química produz mais de 70 mil diferentes produtos, de plásticos e fertilizantes a detergentes e remédios. A produção global anual vale espantosos US$ 3,6 trilhões (o dobro do PIB brasileiro), de acordo com o Conselho Americano de Química (ACC, na sigla em inglês). Essa indústria mudou drasticamente para melhorar nossas vidas. É impossível pensar em civilização moderna sem ela.
Depois de uma história de sucesso de um século, a indústria química, inflada pela produção em massa mecanizada, foi a causa de um crescente número de problemas ecológicos. Ela consome uma enormidade de recursos e energia, muitos solventes e catalisadores tóxicos. A eliminação dos resíduos é complicada e cara e substâncias tóxicas e cancerígenas são liberadas no ar e na água. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a Europa Ocidental produziu 42 milhões de toneladas de resíduos tóxicos no ano 2000, cinco milhões dos quais foram exportados em 2001.
Cientista trabalha na Bayer Bioscience para otimizar as propriedades de plantas alterando sua biologia molecular. Na página ao lado, pesquisadores da Basf estudam os efeitos de remédios à base de plantas na água.
Transição gradual
O descarte de resíduos sem cuidados foi por um longo tempo tolerado ou dissimulado pelos políticos. A indústria química era muito importante para a economia. Depois de Bhopal e Seveso, porém, eles tinham de responder. Nos anos 1980 e 1990, as empresas do setor químico foram obrigadas a seguir exigências ambientais cada vez mais rigorosas. Em 1990, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) conseguiu aprovar o Ato de Prevenção à Poluição, pelo qual os processos de manufatura e os produtos precisam se tornar sustentáveis e a poluição, evitada. A química suja gradualmente começava a ficar verde.
“Depois de definir o termo ‘química verde’ em 1991, ficou claro que seria desejável um projeto para aqueles que quisessem pôr a teoria na prática”, diz Paul Anastas, considerado o pai da “química verde”. Ele dirige o Centro de Química Verde da Universidade de Yale e também trabalha para a EPA. Em 1998, publicou o livro Doze Princípios da Química Verde com o colega Jack Warner. O primeiro desses princípios determina que “é melhor prevenir resíduos do que tratar ou limpá-los após eles serem criados”. Além disso, alternativas inofensivas devem ser encontradas para produtos químicos tóxicos e solventes.
O mais recente marco no caminho para a química verde foi o regulamento Reach (Registro, Avaliação e Restrição de Produtos Químicos) da União Europeia, em vigor desde 2007. Agora já não cabe às autoridades demonstrar aos fabricantes que as substâncias que usam são potencialmente nocivas. Graças ao Reach, cerca de 40 mil produtos químicos têm de ser testados agora.
Outros objetivos da química verde são reduzir o consumo de energia, melhorar a eficiência do processo de produção e mudar para recursos renováveis. Afinal, a indústria química também depende do petróleo – consome 10% da produção mundial para fazer entre 80% e 90% de seus produtos. O setor também é devorador de energia: em 2008, por exemplo, a indústria química alemã consumiu cerca de 12,5% da demanda nacional de energia.
Entre os objetivos da química verde estão a redução do consumo de energia, a melhora da eficiência no processo produtivo e a adoção de recursos renováveis
Desde os anos 1990 as indústrias alemãs têm cada vez mais perseguido o objetivo de sustentabilidade, ao mesmo tempo em que buscam melhorar sua imagem. A Basf (maior empresa química do mundo, com vendas anuais de cerca de R$ 115 bilhões e mais de 100 mil colaboradores) e outros gigantes do setor como DuPont, Dow e Bayer querem se tornar mais verdes. “Na Basf estamos executando todas as nossas atividades de acordo com princípios do desenvolvimento sustentável”, diz o diretor-geral da empresa, Jürgen Hambrecht. “Estamos desenvolvendo produtos que ajudam nossos clientes a poupar energia e recursos enquanto melhoram a qualidade de vida”. Esses são, primariamente, materiais isolantes que permitem a proprietários de casas reduzir custos de aquecimento e emissões de carbono.
A Basf publica suas emissões de carbono não apenas para suas próprias instalações fabris, mas para o ciclo de vida inteiro de seus produtos – desde a extração das matérias-primas até o descarte final. O site da empresa revela que a fabricação dos bens levou à liberação total de cerca de 90 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera em 2010 (ou 10% do total de emissões alemãs desse gás). Por volta de 2020, a Basf quer baixar suas emissões de gases-estufa relacionadas à fabricação de produtos em 25% na comparação com 2002. Mas, uma vez que o processo de produção representa apenas parte do total, essa meta de redução significa apenas 7,5% das emissões totais da Basf.
Mesmo assim, Hambrecht destaca que os próprios produtos da Basf também geram redução de emissões de carbono – um total de 287 milhões de toneladas de CO2 por ano, ou três vezes o total liberado na fabricação, como o portal da empresa anuncia orgulhosamente. Além disso, a Basf promete implementar o regulamento Reach até 2015 e reduzir a quantidade de compostos orgânicos, compostos de nitrogênio e metais pesados liberados no ar e na água em cerca de 70% até 2020. Também está à procura de recursos renováveis, como o uso de óleo de mamona na fabricação de colchões e o plástico biodegradável Ecovio, feito a partir do ácido polilático, derivado do milho.
A química verde não se expande apenas no Ocidente. Em economias emergentes, como Índia e China, ela “tem sido implementada na academia, em instituições de pesquisa e na indústria em um ritmo muito mais rápido que em qualquer outro lugar do mundo”, diz Paul Anastas. Parece que esses países não pretendem cometer os mesmos erros do Ocidente.
*O jornalista alemão Jens Lubbadeh é correspondente do Unesco Courier e escreve para o Greenpeace Magazine.
Um plano para proteger o carbono azul
A destruição dos ecossistemas costeiros, como manguezais, brejos e marismas (terrenos alagadiços à beira-mar), que armazenam grande quantidade de carbono, está causando uma emissão rápida de dióxido de carbono (CO2) no oceano e na atmosfera, segundo 32 dos principais cientistas marinhos do mundo. A conclusão realça uma série de advertências e recomendações elaboradas pelo Grupo de Trabalho Internacional para Carbono Azul Costeiro, que realizou sua primeira reunião em Paris, em março. O grupo foi criado como um primeiro passo no avanço de metas de gestão, ciência e política da Iniciativa Carbono Azul, cujos membros fundadores incluem a Conservação Internacional (CI), a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (IOC, na sigla em inglês) da Unesco.
Os ecossistemas costeiros recebem o apelido de “carbono azul” por sua habilidade de sequestrar e armazenar grandes quantidades de carbono, tanto nas plantas como nas camadas mais profundas do solo. Num quilômetro quadrado, o carbono armazenado nesses ecossistemas pode ser até cinco vezes maior do que o armazenado em florestas tropicais. Em algumas áreas, eles contêm até 50 vezes mais carbono do que em certas áreas de floresta. A gestão dos ecossistemas costeiros pode reforçar o trabalho para reduzir as emissões da floresta tropical degradada.
De acordo com os cientistas do Grupo de Trabalho Carbono Azul, que reúne especialistas de 11 países, o conhecimento existente dos estoques de carbono e das emissões de ecossistemas costeiros degradados ou convertidos é “suficiente para justificar atos de aprimoramento de gestão agora”. Emily Pidgeon, diretora de Mudança Climática da CI, afirmou: “Sabemos há algum tempo da importância dos ecossistemas costeiros para a pesca e a proteção da costa diante de tempestades e maremotos. Agora estamos aprendendo que esses ecossistemas, se destruídos ou degradados, tornam-se grandes emissores de CO2 por anos a fio, depois de as plantas serem removidas. Em termos simples, é como uma longa e lenta sangria difícil de coagular. Assim, precisamos interromper com urgência a perda desses ecossistemas para frear a progressão da mudança climática.”
A drenagem de uma área úmida costeira típica lança 250 mil toneladas de CO2 para cada quilômetro quadrado de solo perdido. Os dados globais mostram que manguezais, brejos e marismas estão sendo degradados ou destruídos ao longo dos litorais do mundo em ritmo acelerado. Entre 1980 e 2005, 35 mil quilômetros quadrados de mangues foram destruídos no mundo, uma área do tamanho da Bélgica. Essa área degradada continua a liberar até 175 milhões de toneladas de CO2 anualmente – o equivalente às emissões anuais de países como Holanda ou Venezuela.
Wendy Watson-Wright, diretora da IOC, ressaltou: “Estudos científicos têm demonstrado que, embora manguezais, brejos e marismas respondam por menos de 1% da biomassa das plantas em terra, neles circula quase a mesma quantidade de carbono que nos 99% restantes. Assim, o declínio desses ecossistemas de alto carbono é uma razão válida de preocupação.”
Os cientistas concluíram a reunião de Paris com um conjunto de prioridades e recomendações:
Intensificar as pesquisas nacionais e internacionais, tais como desenvolver metodologias de inventário e de contabilidade do carbono costeiro; realizar inventários de carbono; conduzir pesquisas e monitoramento para controlar com maior precisão a quantidade das emissões de gases de efeito estufa originária da perda do ecossistema costeiro; e criar uma rede de demonstrações em campo para aumentar a capacitação e a colaboração das comunidades locais.
Aprimorar práticas de manejo local e regional, identificando e reduzindo as principais causas da degradação de sistemas costeiros ricos em carbono (desenvolvimento urbano, agricultura, aquicultura, despejo de poluentes e nutrientes, dragagem e introdução de construções artificiais), reforçando as políticas de proteção dos sistemas costeiros ricos em carbono e começando a recuperar sistemas perdidos ou degradados.
Ampliar o reconhecimento internacional dos ecossistemas costeiros ricos em carbono através de organismos internacionais como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Os cientistas salientam que a melhoria no manejo dos ecossistemas costeiros deve se tornar não um empecilho para o desenvolvimento dos países, mas uma estratégia que prioriza a conservação de áreas costeiras específicas, que atuam como esponjas para o CO2 do mundo. Recomendam também que as nações e os gestores reconheçam mais os serviços que essas áreas prestam à humanidade e priorizem sua proteção.
O grupo vai se reunir em agosto para continuar seus estudos. Ele é financiado pela Fundação Waterloo, pela Nasa e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Brasil participa de experimento global sobre água
A edição deste ano do Dia Mundial da Água, 22 de março, foi oficialmente comemorada na Cidade do Cabo (África do Sul), tendo como marco o lançamento do Big Splash, um experimento de química global que prevê a análise da qualidade da água por crianças de escolas de todo o mundo. Descobrir como a água é filtrada, destilada e salinizada levou cerca de mil alunos entre 15 e 18 anos aos laboratórios na região do Cabo entre 22 e 25 de março.
Essa iniciativa, lançada pela Unesco e pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac) como parte do Ano Internacional da Química, visa sensibilizar os alunos do ensino primário e secundário sobre a importância da água como um recurso vital. Os alunos podem registrar os resultados de seus testes em um mapa interativo online.
No Brasil, a Universidade de Campinas (Unicamp), por meio do Instituto de Química, trabalhou com vários parceiros na produção do experimento. Foram distribuídos dez mil kits, que permitiram a participação de dois milhões de estudantes e de 50 mil professores brasileiros.
Após o lançamento, escolas do mundo podem aderir à experiência e ao programa por meio do site http://water.chemistry2011.org/ As análises e os resultados obtidos serão compilados a fim de mensurar: 1) o pH do planeta; 2) as condições das águas salinizadas do planeta; 3) a purificação da água. No Brasil, outra atividade desenvolvida por ocasião do Ano Internacional da Química, para alunos do ensino médio, é o Concurso de Trabalhos Escritos e Desenhos, cujo tema é Química – Nossa Vida, Nosso Futuro.
Jornalista iraniano preso recebe prêmio de liberdade de imprensa
O jornalista iraniano Ahmad Zeidabadi foi eleito por um júri internacional de 12 profissionais da mídia o vencedor do Prêmio Mundial de Liberdade de Imprensa Unesco/Guillermo Cano de 2011. Professor de ciências políticas e ex-editor-chefe do jornal Azad, Zeidabadi cumpre atualmente uma sentença de seis anos na prisão. Ao anunciar a decisão, a presidente do júri, Diana Senghor, declarou: “A escolha final de Ahmad Zeidabadi é um tributo à sua excepcional coragem, resistência e ao seu comprometimento com a liberdade de expressão, a democracia, os direitos humanos, a tolerância e a humanidade. Além dele, também serão premiados vários jornalistas iranianos que estão atualmente encarcerados.”
Nascido em 1966, Zeidabadi já havia sido preso em 2000 e 2001 por sua campanha pelos direitos civis. Em 2009, ele e outros 40 jornalistas que apoiavam o movimento reformista iraniano foram acusados de tramar a queda do governo por meio de uma “revolução suave”. Depois de cumprir seis anos na prisão, ele terá de ficar cinco anos em exílio interno e não poderá mais exercer o jornalismo.
O prêmio da Unesco, de US$ 25 mil, é concedido anualmente durante a celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em 3 de maio. Ele reconhece o trabalho de um indivíduo ou de uma organização em defesa ou na promoção da liberdade de expressão em qualquer lugar do mundo.