16/05/2022 - 13:09
Relatos de avistamentos de monstros do Lago [Loch, como se fala na Escócia] Ness continuam chegando. O mais recente relato, acompanhado por um vídeo, é de uma criatura de 6 a 9,1 metros de comprimento ocasionalmente irrompendo sobre a superfície da água. Embora o vídeo mostre claramente uma esteira em forma de V em movimento, ele não revela a fonte subjacente. As testemunhas certamente viram alguma coisa, mas o quê?
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Houve mais de 85 teorias sobre o que é o monstro do Lago Ness, variando do prosaico (manchas de vento, reflexos, restos de plantas e rastros de barcos) ao implausível zoológico (anacondas, orcas e o peixe-lua do oceano) e aos francamente malucos (dinossauros fantasmas). As pessoas que inventaram essas teorias não estavam necessariamente familiarizadas com o lago.
Muitas sugestões iniciais de zoólogos estrangeiros implicavam que eles pensavam que o lago era de água salgada, o que explica as sugestões de peixes-lua, baleias, tubarões e arraias. Algumas teorias foram reinventadas de forma independente, mostrando a engenhosidade de cada geração de inventores de Nessie. Por exemplo, a ideia de que o monstro do Lago Ness era originariamente um elefante nadador de um circo visitante ressurgiu três vezes, em 1934, 1979 e 2005. A cada vez, a pessoa afirmava que a ideia era original.
Nessie, o réptil
No entanto, foi a noção do monstro do Lago Ness como um réptil pré-histórico que realmente capturou a imaginação do público na década de 1930. A gênese moderna de Nessie realmente começou em abril de 1933. Os primeiros relatos de testemunhas oculares de um animal estranho no lago começaram em 1930.
Mas foi apenas em agosto de 1933 que a testemunha George Spicer, que viu Nessie em terra, sugeriu pela primeira vez que a criatura era um réptil. Até então, comentaristas bem informados supunham que, se havia um animal no lago, era algum tipo de animal errante de água doce, como uma foca, que havia vindo de Moray Firth [enseada a nordeste de Inverness]. Spicer apenas o descreveu como um réptil pré-histórico. Ele alegou que tinha um pescoço longo, o que permitiu a um jornalista cinco dias depois sugerir que era um plesiossauro, um tipo de réptil marinho de pescoço comprido dos períodos Jurássico e Cretáceo. Uma (mas não a única) imagem popular do monstro do Lago Ness nasceu.
O fato de que a imagem do plesiossauro de Nessie surgiu em agosto de 1933 lança dúvidas sobre a teoria de Daniel Loxton e Donald Prothero (2013) de que Nessie se originou com o altamente popular filme King Kong, de 1933, com seu retrato de um réptil devorador de homens, com pescoço comprido e morador do pântano. É mais provável que King Kong tenha apenas influenciado, em vez de criado, o Nessie moderno. Os primeiros avistamentos do monstro do Lago Ness foram em 1930 e, embora houvesse mais avistamentos em 1933, eles começaram em abril, antes de King Kong ser exibido na Escócia.
Complicações
A maioria dos relatos do monstro do Lago Ness não apresenta pescoços longos. O bioquímico (e investigador de Nessie) Roy Mackal disse em 1976 que havia mais de 10 mil relatos do monstro do Lago Ness, mas não deu nenhuma evidência para apoiar isso, e uma tabela em seu livro Monsters of Loch Ness contém apenas 251 relatos. Eu conheço 1.452 encontros distintos. Apenas cerca de 20% dos relatos mencionam um pescoço de qualquer comprimento, então não é essa a forma normal do monstro. Também menos de 1% das criaturas nos relatos são descritas como reptilianas ou escamosas. Portanto, acho razoável supor que, seja qual for o fenômeno relatado do monstro do Lago Ness, não é baseado em vislumbres de um réptil pré-histórico.
Na realidade, o monstro do Lago Ness tem múltiplas identidades. Pode não ser uma morsa, alce, camelo ou visitantes extraterrestres, como alguns sugeriram, mas pode ser uma miríade de fenômenos antropogênicos (barcos, esteiras, detritos) e naturais (animais, tapetes de vegetação) e físicos (efeitos do vento, reflexos). O monstro do Lago Ness pode variar de cor de rosa a preto, pode ser fosco ou brilhante, peludo ou escamoso. Pode ter corcovas e crinas, pode ter chifres e viajar em grande velocidade ou não se mover. Nenhuma identidade captura a variedade de características relatadas de Nessie.
Isso sugere que Nessie é uma função da psicologia humana e não da natureza. E talvez seja a psicologia humana, e não a natureza, que sustentou a ideia de Nessie desde a década de 1930.
Então, o que as últimas testemunhas viram? A realidade é que temos muito pouca informação para chegar a uma conclusão firme sobre o que estava acontecendo no vídeo. O problema com a grande maioria dos relatórios de Nessie é que eles simplesmente não têm detalhes de que você precisa para identificar um animal. E quaisquer detalhes relatados podem ser interpretações errôneas. O fato de que a esteira visível se move indica que era um animal real (em vez de vegetação presa). Mas foi um animal de 6 a 9 metros ou alguma ave aquática ou uma lontra debaixo d’água que criou um grande rastro na água lisa? Simplesmente nunca saberemos.
* Charles Paxton é pesquisador bolsista na Escola de Matemática e Estatística da Universidade de St. Andrews (Reino Unido).
** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.