18/05/2022 - 13:35
Quatro indicadores críticos das mudanças climáticas bateram novos recordes em 2021, revelou um relatório da ONU divulgado nesta quinta-feira (18/05). As Nações Unidas alertaram ainda que o sistema global de energia e a comportamento humano estão levando a humanidade para a catástrofe.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, o aumento do nível do mar, a temperatura e a acidificação dos oceanos atingiram no ano passado o maior nível já registrado. O relatório confirmou ainda que os últimos sete anos foram os mais quentes já registados.
A OMM afirmou que, apesar dos fenômenos climáticos relacionados com o La Nina no início e no final de 2021 terem resfriado o clima global no ano passado, em 2021, a temperatura média global foi 1,11°C mais alta do que na era pré-industrial.
“Nosso clima está mudando diante de nossos olhos. O calor retido pelos gases de efeito estufa induzidos pela humanidade aquecerá o planeta por muitas gerações”, declarou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em comunicado. “O aumento do nível do mar, o calor e a acidificação dos oceanos continuarão por centenas de anos”, acrescentou.
As concentrações de gases com efeito estufa atingiram uma nova alta global em 2020, quando o acúmulo de dióxido de carbono (CO2) chegou a 413,2 partes por milhão (ppm) em todo o mundo –149% dos níveis pré-industriais. Os dados indicam que essa tendência de aumento se manteve em 2021 e no início de 2022.
Impactos nos oceanos
Os oceanos absorvem mais de 90% do calor retido pelos gases do efeito estufa e suas temperaturas bateram um recorde no ano passado. Espera-se que os primeiros 2 mil metros de profundidade do oceano continuem ficando mais quentes no futuro – “uma mudança irreversível em escalas de tempo de séculos a milênios”, afirma o documento.
O nível médio global do mar também atingiu um novo recorde em 2021, depois de subir uma média de 4,5 milímetros por ano de 2013 a 2021, informa o documento. Entre 1993 e 2002, esse aumento foi de 2,1 mm por ano. Essa elevação nos últimos anos é impulsionada pelo derretimento das camadas de gelo das calotas polares e geleiras.
O oceano absorve cerca de 23% das emissões anuais de CO2. Embora retarde o aumento das concentrações atmosféricas deste gás, esse efeito aumenta a acidez dos mares, que ameaça a vida selvagem e corais. O relatório afirmou que os oceanos estão mais ácidos agora do que há pelo menos 26 mil anos.
O documento também citou que o buraco na camada de ozônio da Antártida é “profundo e extenso” com 24,8 milhões de quilômetros quadrados em 2021, impulsionado por um vórtice polar forte e estável.
Catástrofe anunciada
A OMM reiterou que esses sinais claros do impacto da humanidade no planeta já produzem efeitos duradouros. Em 2021, ondas de calor extremos foram registrados em várias regiões, houve ainda enchentes catastróficas na Ásia e na Europa e, pela primeira vez, choveu no cume da camada de gelo da Groenlândia.
A agência da ONU ressaltou que o clima extremo causou muitas mortes e suas consequências custaram bilhões aos cofres públicos, cujo prejuízo dos efeitos das mudanças climáticas foi estimado em 100 bilhões de dólares somente em 2021.
Este documento é “uma ladainha lamentável do fracasso da humanidade em combater as mudanças climáticas”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres. “O sistema global de energia está quebrado e nos aproxima cada vez mais da catástrofe climática”, alertou.
Transição energética
Guterres fez um apelo para governos acelerarem a transição energética e, desta forma, acabar com a poluição causada pelos combustíveis fósseis. Ele divulgou um plano de cinco pontos voltados a aumentar os investimentos em energias renováveis.
A proposta prevê acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, triplicar o investimento em energias renováveis, reduzir a burocracia, garantir o fornecimento de matérias-primas para tecnologias de energias renováveis e tornar essas tecnologias bens públicos globais disponíveis gratuitamente.
“Se agirmos juntos, a transformação das energias renováveis pode ser o projeto de paz do século 21”, disse Guterres.
cn (afp, DW, Lusa, ots)