20/05/2022 - 13:28
Vamos supor que você fosse um astronauta que acabou de pousar no planeta Marte. O que você precisaria para sobreviver?
Para começar, aqui está uma pequena lista: água, comida, abrigo – e oxigênio.
- Robô Perseverance revela a velocidade do som em Marte
- Marte: Perseverance traz novos dados sobre a história do planeta
- Rover Perseverance extrai com sucesso sua primeira rocha em Marte
O oxigênio está no ar que respiramos aqui na Terra. Plantas e alguns tipos de bactérias fornecem isso para nós.
Mas o oxigênio não é o único gás na atmosfera da Terra. Não é nem o mais abundante. Na verdade, apenas 21% do nosso ar é composto de oxigênio. Quase todo o resto é nitrogênio – cerca de 78%.
Agora você deve estar se perguntando: se há mais nitrogênio no ar, por que respiramos oxigênio?
É assim que funciona: tecnicamente, quando você inspira, absorve tudo o que está na atmosfera. Mas seu corpo usa apenas o oxigênio; você se livra do resto quando expira.
O ar em Marte
A atmosfera marciana é fina – seu volume é apenas 1% da atmosfera da Terra. Dito de outra forma, há 99% menos ar em Marte do que na Terra.
Isso é em parte porque Marte tem cerca de metade do tamanho da Terra. Sua gravidade não é forte o suficiente para impedir que os gases atmosféricos escapem para o espaço.
E o gás mais abundante nesse ar rarefeito é o dióxido de carbono. Para as pessoas na Terra, esse é um gás venenoso em altas concentrações. Felizmente, representa muito menos de 1% da nossa atmosfera. Mas em Marte, o dióxido de carbono é 96% do ar!
Enquanto isso, Marte quase não tem oxigênio; é apenas um décimo de 1% do ar, não o suficiente para os humanos sobreviverem.
Se você tentasse respirar na superfície de Marte sem um traje espacial fornecendo seu oxigênio – má ideia –, morreria em um instante. Você sufocaria e, por causa da baixa pressão atmosférica, seu sangue ferveria, ambos ao mesmo tempo.
Bilhões de anos atrás, a Cratera Jezero de Marte abrigava um antigo lago
A vida sem oxigênio
Até agora, os pesquisadores não encontraram nenhuma evidência de vida em Marte. Mas a busca está apenas começando; nossas sondas robóticas mal arranharam a superfície.
Sem dúvida, Marte é um ambiente extremo. E não é só o ar. Muito pouca água líquida está na superfície marciana. As temperaturas são incrivelmente frias – à noite, é mais de -73 graus Celsius.
Mas muitos organismos na Terra sobrevivem a ambientes extremos. A vida foi encontrada no gelo da Antártida, no fundo do oceano e quilômetros abaixo da superfície da Terra. Muitos desses lugares têm temperaturas extremamente quentes ou frias, quase sem água e pouco ou nenhum oxigênio.
E mesmo que a vida não exista mais em Marte, talvez já existisse bilhões de anos atrás, quando o planeta tinha uma atmosfera mais espessa, mais oxigênio, temperaturas mais quentes e quantidades significativas de água líquida na superfície.
Esse é um dos objetivos da missão do rover Mars Perseverance da Nasa – procurar sinais de vida marciana antiga. É por isso que o Perseverance está procurando dentro das rochas marcianas por fósseis de organismos que já viveram – provavelmente, vida primitiva, como micróbios marcianos.
Faça você mesmo seu oxigênio
Entre os sete instrumentos a bordo do rover Perseverance está o MOXIE, um dispositivo incrível que retira dióxido de carbono da atmosfera marciana e o transforma em oxigênio.
Se o MOXIE funcionar da maneira que os cientistas esperam, os futuros astronautas não apenas produzirão seu próprio oxigênio; eles poderiam usá-lo como um componente do combustível de foguete de que precisarão para voltar à Terra. Quanto mais oxigênio as pessoas conseguirem produzir em Marte, menos precisarão trazer da Terra – e mais fácil será para os visitantes irem até lá. Mas mesmo com oxigênio “caseiro”, os astronautas ainda precisarão de um traje espacial.
No momento, a Nasa está trabalhando nas novas tecnologias necessárias para enviar humanos a Marte. Isso pode acontecer na próxima década, talvez em algum momento no final da década de 2030. Até lá, os leitores desta matéria hoje crianças já serão adultos – e talvez algumas das primeiras pessoas a dar seus passos em Marte.
* Phylindia Gant é pós-doutoranda em Ciências Geológicas na Universidade da Flórida (EUA); Amy J. Williams é professora assistente de Geologia na Universidade da Flórida.
** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.