01/06/2022 - 8:55
Olhe para a imagem reproduzida acima. Você percebe que o buraco negro central está se expandindo, como se você estivesse se movendo para um ambiente escuro ou caindo em um buraco? Se sim, você não está sozinho: um novo estudo mostra que essa ilusão de “buraco em expansão”, nova para a ciência, é percebida por aproximadamente 86% das pessoas.
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O dr. Bruno Laeng, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Oslo (Noruega) e primeiro autor do estudo publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience, disse: “O ‘buraco em expansão’ é uma ilusão altamente dinâmica: a mancha circular ou gradiente de sombra do buraco negro central evoca uma impressão marcada de fluxo óptico, como se o observador estivesse se dirigindo para um buraco ou túnel”.
As ilusões de ótica não são meros artifícios sem interesse científico: pesquisadores no campo da psicossociologia as estudam para entender melhor os processos complexos que nosso sistema visual usa para antecipar e dar sentido ao mundo visual – de uma maneira muito mais indireta do que um dispositivo como fotômetro, que simplesmente registra a quantidade de energia fotônica.
No novo estudo, Laeng e seus colegas mostram que a ilusão do “buraco em expansão” é tão boa para enganar nosso cérebro que até solicita um reflexo de dilatação das pupilas para deixar entrar mais luz, assim como aconteceria se estivéssemos realmente nos movendo para uma área escura.
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Percepção e realidade
“Aqui mostramos com base na nova ilusão de ‘buraco em expansão’ que a pupila reage à forma como percebemos a luz – mesmo que essa ‘luz’ seja imaginária como na ilusão – e não apenas à quantidade de energia luminosa que realmente entra no olho. A ilusão do buraco em expansão provoca uma dilatação correspondente da pupila, como aconteceria se a escuridão realmente aumentasse”, disse Laeng.
Laeng e seus colegas exploraram como a cor do buraco (além do preto: azul, ciano, verde, magenta, vermelho, amarelo ou branco) e a dos pontos ao redor afetam a intensidade com que reagimos mental e fisiologicamente à ilusão. Em uma tela, eles apresentaram variações da imagem do “buraco em expansão” para 50 mulheres e homens com visão normal, pedindo-lhes que avaliassem subjetivamente a intensidade com que percebiam a ilusão. Enquanto os participantes olhavam para a imagem, os pesquisadores mediram seus movimentos oculares e as constrições e dilatações inconscientes de suas pupilas. Como controles, os participantes viram versões “embaralhadas” da imagem do buraco em expansão, com luminância e cores iguais, mas sem nenhum padrão.
A ilusão parecia mais eficaz quando o buraco era preto. Quatorze por cento dos participantes não perceberam nenhuma expansão ilusória quando o buraco era preto, enquanto 20% não perceberam se o buraco era colorido. Entre aqueles que perceberam uma expansão, a força subjetiva da ilusão diferia marcadamente.
Os pesquisadores também descobriram que os buracos negros promoviam fortes dilatações reflexas das pupilas dos participantes, enquanto os buracos coloridos faziam com que suas pupilas se contraíssem. Para buracos negros, mas não para buracos coloridos, quanto mais fortes os participantes individuais classificaram subjetivamente sua percepção da ilusão, mais o diâmetro da pupila tendia a mudar.
Minoria não suscetível
Os pesquisadores ainda não sabem por que uma minoria parece não suscetível à ilusão do “buraco em expansão”. Tampouco sabem se outras espécies de vertebrados, ou mesmo animais não vertebrados com olhos do tipo de uma câmera, como os polvos, podem perceber a mesma ilusão que nós.
“Nossos resultados mostram que o reflexo de dilatação ou contração das pupilas não é um mecanismo de circuito fechado, como uma fotocélula abrindo uma porta, impermeável a qualquer outra informação além da quantidade real de luz que estimula o fotorreceptor. Em vez disso, o olho se ajusta à percepção e até à luz imaginada, não simplesmente à energia física. Estudos futuros podem revelar outros tipos de mudanças fisiológicas ou corporais que podem ‘lançar luz’ sobre como as ilusões funcionam”, concluiu Laeng.