Uma caverna no sul da Espanha foi usada por humanos antigos como tela para obras de arte e como local de sepultamento por mais de 50 mil anos. A conclusão está em um estudo de José Ramos-Muñoz, da Universidade de Cádiz (Espanha), e colegas, publicado na revista PLOS ONE.

Cueva de Ardales, uma caverna em Málaga, na Espanha, é famosa por conter mais de mil pinturas e gravuras feitas por povos pré-históricos, além de artefatos e restos humanos. No entanto, a natureza do uso humano dessa caverna não era bem compreendida. No recente estudo, os autores apresentam os resultados das primeiras escavações nessa gruta, que lançam luz sobre a história da cultura humana na Península Ibérica.

Uma combinação de datação radiométrica e análise de restos e artefatos dentro da caverna fornecem evidências de que os primeiros ocupantes do local provavelmente eram neandertais, há mais de 65 mil anos. Os humanos modernos chegaram mais tarde, cerca de 35 mil anos atrás, e usaram a caverna esporadicamente até o início da Idade do Cobre. A arte rupestre mais antiga da caverna consiste em sinais abstratos, como pontos, pontas de dedos e estênceis de mão criados com pigmento vermelho, enquanto obras de arte posteriores retratam pinturas figurativas, como animais. Restos humanos indicam o uso da caverna como local de sepultamento no Holoceno, mas a evidência de atividades domésticas é extremamente pobre, sugerindo que os humanos não viviam na caverna.

Pedras das camadas do Paleolítico Médio da zona 3 da escavação. A: Núcleo de quartzito ou ferramenta pesada; B: Lâmina; C: Lasca extraída pela técnica Levallois; D: Pedra de raspar. Crédito: Ramos-Muñoz et al., 2022, PLOS ONE, CC-BY 4.0 (creativecommons.org/licenses/by/4.0/)

Atividades especiais

Os resultados confirmam a importância da Cueva de Ardales como local de alto valor simbólico. Esse local oferece uma incrível história da atividade humana na Espanha e, juntamente com locais semelhantes – existem mais de 30 outras cavernas na região com pinturas semelhantes –, torna a Península Ibérica um local-chave para investigar a profunda história da cultura europeia.

Os autores acrescentaram: “Nossa pesquisa apresenta uma série bem estratificada de mais de 50 datas radiométricas na Cueva de Ardales que confirmam a antiguidade da arte paleolítica de mais de 58 mil anos atrás. Também confirma que a caverna era um local de atividades especiais ligadas à arte, pois numerosos fragmentos de ocre foram descobertos nos níveis do Paleolítico Médio”.