01/06/2011 - 0:00
Até o início da década de 60 a Coreia do Sul, oficialmente República da Coreia, era um país agrário e pobre, numa península dividida ao meio pela guerra fratricida com a Coreia do Norte (1950-1953), com o trauma de mais de um milhão de mortos. Um em cada três coreanos era analfabeto e boa parte da população passava fome. Apesar disso, em 40 anos o país virou um “tigre asiático” e se tornou o 13o PIB mundial. Hoje, oito de cada dez habitantes ingressam na universidade. Para mudar, os coreanos revolucionaram seu sistema educacional, desde o nível mais básico até a pesquisa científica.
Cerimônia de graduação de estudantes na Universidade de Seul.
O país entendeu que a chave para o êxito do ensino superior era concentrar recursos no ensino fundamental. Hoje, a Coreia investe 4% do PIB em educação e todas as suas salas de aula são equipadas com computadores modernos, conectados à internet por banda larga. A internet é uma mania nacional e o país, campeão mundial em fibras óticas e banda larga (100 Mbps). Nove em cada dez residências usam a rede. Todos os alunos do ensino fundamental e médio recebem livros didáticos digitais gratuitamente. Desde cedo as crianças são estimuladas a pensar no futuro e no país com visão empreendedora. Com 7 anos já simulam entrevistas de emprego e as escolas trabalham sob slogans como “Economia Forte É País Forte”, ou “Economize um Centavo, Orgulhe Seu País”.
Uma administração centralizada supervisiona e administra as escolas com uma política coerente de estímulos a professores e alunos. O sistema de reconhecimento de mérito premia os bons professores e os estudantes desde a escola até as últimas etapas do aprendizado. Os mais talentosos são automaticamente incentivados com bolsas de estudo e cursos extracurriculares. Os professores são vistos como elementos-chave do processo educacional e gozam de alto prestígio na sociedade. Trabalham em regime de dedicação exclusiva a uma única escola e são proibidos de manter um segundo emprego. Estão entre os mais bem pagos do mundo: um profissional experiente pode ganhar US$ 6 mil mensais.
Universidade da Coreia, um dos vários centros de excelência de ensino superior.
Outro aspecto decisivo do sistema é o envolvimento familiar. Pais seriamente comprometidos tornam os filhos motivados e criativos. É comum as famílias investirem cerca de 20% de seus rendimentos no custeio de cursos extracurriculares para os filhos. O governo apoia a cultura do esforço familiar e investe na construção de grandes bibliotecas, com vastos acervos e recursos tecnológicos que atraem famílias inteiras nos fins de semana.
Os investimentos na construção do capital humano foram fundamentais para a arrancada do desenvolvimento econômico. Num passado não distante, a Coreia do Sul e o Brasil compartilhavam semelhanças. Em 1960, ambos eram países subdesenvolvidos que patinavam em índices socioeconômicos calamitosos e taxas nefastas de analfabetismo rondando os 35%. Na época, o Sudão e a Coreia do Sul tinham a mesma renda per capita: US$ 900 anuais. O Brasil então estava à frente, com o dobro desse valor.
Até 1987 a Coreia foi um foco da Guerra Fria, atravessada por uma zona desmilitarizada que separa tropas norte-coreanas apoiadas por chineses e soviéticos, ao norte, de tropas sul-coreanas e norte-americanas, ao sul. A instabilidade política gerou várias ditaduras e golpes militares, mas desde as manifestações democráticas e as eleições de 1987, o país mantém a estabilidade e o desenvolvimento econômico.
Em 40 anos, Brasil e Coreia do Sul se distanciaram dramaticamente nos rankings educionais. O analfabetismo coreano foi erradicado e hoje 82% dos jovens frequentam universidades. O Brasil ainda tem entre 9,7% e 11% de analfabetos e apenas 18% de estudantes na universidade. A economia coreana cresce vigorosamente e a população alcançou um alto nível de bem-estar social. A Coreia é o terceiro maior detentor de patentes no mundo, depois dos Estados Unidos e do Japão.
Os jovens sul-coreanos estão entre os melhores em matemática, ciências e leitura, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 97% dos estudantes completam o ensino médio, o mais alto percentual entre os países pesquisados. Em uma avaliação de rendimento escolar de 40 países, a Coreia se saiu como o sistema mais igualitário, com diferenças mínimas entre os alunos, alcançando o terceiro lugar em matemática e o quarto lugar em ciências, enquanto o Brasil, que rejeita a implantação da meritocracia nas escolas, ficou, respectivamente, com a última e a penúltima colocação em ambas as matérias.
A Coreia não apenas investe muito em educação, como também faz uso mais eficaz e responsável do dinheiro. Os coreanos gastam duas vezes mais na formação de um universitário do que na de um aluno de ensino fundamental, o que é uma proporção equilibrada para os padrões internacionais. No Brasil, um universitário custa 17 vezes mais.
A virada começou com uma lei tornando o ensino básico prioridade e gratuito. Cerca de 50% das escolas de ensino médio são privadas e as faculdades são todas pagas, mesmo as públicas. Uma criança sul-coreana fica, anualmente, um mês a mais na escola do que uma criança norteamericana.
O sistema educac ional coreano premia os estudantes talentosos e recompensa os bons professores – é a meritocracia em ação
O governo incentiva pesquisas tecnológicas estratégicas e articula a aproximação das instituições acadêmicas e científicas com os chamados chaebol, os conglomerados de empresas como Hyundai, Samsung e LG Electronics. A Coreia é um país inovador em campos como investigação aeroespacial, robótica, biotecnologia, transporte, energia e comunicação. Atualmente, está determinada a virar uma economia “verde”, com baixa emissão de carbono e muito reflorestamento.
1. Protótipos de automóveis no Centro de Ciência e Tecnologia Avançada, que realiza pesquisa para as montadoras Hyundai e Kia.
2. Celebração estudantil do dia da independência, em 1o de março de 2011.
3. O budismo e o cristianismo são as duas principais religiões do país.
4. Templo budista Yahcheon-sa, na Ilha de Jeju.
A febre educacional revigorou a fascinante cultura milenar do país, que dispõe de um próprio alfabeto, o pictográfico hangul, inventado no século 15. O termo Daehan Min-guk, que em coreano significa Coreia do Sul, também pode ser traduzido como “Grande Nação do Sul” – um dos reinos mais antigos da Ásia. Há 5.000 anos a península era habitada por uma das mais antigas civilizações que se conhece. Gyeongju, no sul, foi a capital do célebre Reino de Silla e a mais importante cidade da Coreia durante séculos. O interesse dos coreanos pelo conhecimento não é de hoje. Em Gyeongju se encontra uma torre de pedra, com 18 metros de altura, de inestimável valor histórico: o observatório astronômico Cheomseongdae, do século 7 – o mais antigo da Ásia.
A febre educacional revigorou a cultura milenar da Coreia, uma das mais antigas civilizações da Ásia e do mundo
As duas maiores religiões do país são o cristianismo e o budismo, que na Coreia segue a linha tibetana. Há templos budistas em toda parte. A culinária é um espetáculo à parte, baseada em arroz, talharins, tofus, cogumelos, verduras, peixes e carnes. Os pratos são servidos com muitos acompanhamentos, os banchan, e a cerimônia do chá é uma das tradições populares mais sofisticadas.
Na cosmopolita Seul, capital com quase 10 milhões de habitantes, ao cair da noite pequenas tendas brancas acendem luzes sobre as calçadas. São os fortune tellers, os adivinhos que leem mãos e predizem o futuro. As cabines sempre lotadas dão pistas do quanto a prática é levada a sério. Na pujante e dinâmica educação coreana, também há lugar para os valores tradicionais.
Mais informações
Turismo cultural na Coreia: A Princess Travel é referência em viagens à Ásia e tem quatro viagens para a Coreia do Sul. Site: www.princesstravel.com.br. Fone: (11) 3388-5288.
1. Seul, metrópole de 10 milhões de habitantes.
2. Torre do observatório Cheomseongdae, em Gyeongju, o mais antigo da Ásia.
3. Culinária baseada em talharins, tofu e vegetais.
4. Inscrição antiga do alfabeto hangul, em Pusan.
5. As populares cabines de adivinhos em Seul.