10/01/2017 - 12:27
As marcas físicas
• 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, aproximadamente, se espalharam ao longo de 650 quilômetros na bacia do rio Doce, a partir do rompimento da barragem de Fundão, situada em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015. A barragem pertencia à mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton
• 6 meses (de outubro a março) dura o período de chuvas na região. Com ele vem o perigo de que a lama despejada no rompimento volte a poluir os rios, cause danos à fauna e à flora atingidas, force o corte no abastecimento de água e prejudique ainda mais as populações ribeirinhas
O drama humano
• 19 pessoas foram mortas e 1.265 ficaram desabrigadas em consequência da tragédia
• 2 distritos de Mariana (Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo) e 1 da vizinha Barra Longa (Gesteira) foram os mais fortemente impactados pelo rompimento da barragem. Todos serão reassentados em novas comunidades até 2019
• 236 famílias viviam no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro de Mariana. O local, o mais atingido pelo desastre, foi totalmente inundado pela lama
• 38 municípios foram atingidos no total: 35 em Minas Gerais e 3 no Espírito Santo
• 6 milhões de pessoas foram afetadas pelo desastre
Danos à flora e à fauna
• 98 espécies de peixes do rio Doce morreram em consequência do desastre, por asfixia causada pela elevada turbidez (redução da transparência devido à presença de materiais em suspensão) da água. Dessas espécies, 13 só viviam no rio e 11 já corriam risco de extinção. Mais de 200 espécies de peixes vivem no rio Doce
• 29 mil carcaças de peixes, aproximadamente, foram recolhidas depois que a lama passou; somadas a outros seres aquáticos mortos, resultaram em 11 toneladas
• 1 espécie de ave, a andorinha-do-mar, foi duramente atingida pela lama que escureceu o mar em Regência (ES), na foz do rio Doce. Ela não conseguiu encontrar peixes na água e, assim, ficou sem alimento
• 1.176 hectares foram destruídos ao longo do rio Doce, dos quais 46% serviam para a criação de animais e 43% tinham vegetação nativa da região
• 86% dos pontos vistoriados pelo Ibama em outubro de 2016 na região afetada pelo desastre exibiam plantas nativas; 50% desses pontos apresentaram sinais de vida selvagem animal, como pegadas
Poluição na água
• 14 de 17 pontos do rio Doce visitados em outubro de 2016 por uma equipe da Fundação SOS Mata Atlântica apresentaram água que ainda não pode ser usada, segundo os pesquisadores
• 50 vezes acima do que a legislação permite (até 100 partículas por litro), aproximadamente, foi o nível de turbidez apresentado em Barra Longa (MG), o maior registrado pela fundação; em Rio Doce (MG), chegou a 38 vezes acima do permitido
• 8 mil vezes, aproximadamente, foi o nível de turbidez apresentado nesse trecho, o mais devastado pela lama, alguns dias após o vazamento
• 2 vezes maior que o limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), aproximadamente, foi o nível de ferro e manganês presente na água em um ponto em Colatina (ES); o estudo, de André Pinheiro de Almeida, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (RJ), mostra que há outros pontos com níveis de metais acima dos limites do Conama
Desdobramentos jurídicos
• R$ 4,4 bilhões é o desembolso acertado entre Samarco, Advocacia-Geral da União, de Minas Gerais e do Espírito Santo em fevereiro deste ano para compensar danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão; os recursos serão pagos até 2018
• 10 mil hectares deverão ser reflorestados pela Samarco, de acordo com o Plano de Recuperação Integrado, entregue em agosto de 2016
• 30 mil hectares de vegetação deverão ser restaurados
• 13 autos de infração foram emitidos pelo Ibama para a mineradora até novembro de 2016; o valor das multas, somado, ultrapassa R$ 300 milhões. A Samarco está recorrendo de todas elas
• 157 mil metros cúbicos de rejeitos a Samarco alega ter retirado do município de Barra Longa; outros 500 mil m3 de rejeitos teriam sido retirados da hidrelétrica de Candonga, em Santa Cruz do Escalvado (MG), também atingida pelo vazamento
• R$ 1 bilhão, aproximadamente, a empresa teria investido até novembro de 2016 no pagamento de ações de remediação, compensação e de indenização
• 5 mil nascentes do rio Doce deverão ser recuperadas
• 69 notificações à Samarco foram emitidas pelo Ibama desde o incidente até novembro de 2016; segundo o órgão, a mineradora cumpriu apenas 5% das recomendações feitas
• 3% do rejeito vazado da barragem de Fundão fora retirado até junho, segundo o Ibama; em outubro, não se constataram novas retiradas e em 12% dos pontos analisados o rejeito foi incorporado ao solo
• 4 empresas e 22 executivos responsáveis pela barragem foram denunciados pelo Ministério Público Federal um ano após a tragédia. Entre os crimes listados na denúncia estão homicídio qualificado com dolo eventual (quando se assume o risco de matar), crimes de inundação, lesão corporal, desabamento e crimes ambientais