A Nasa revelou nesta terça-feira (12/07) mais imagens coloridas obtidas pelo poderoso telescópio espacial James Webb, fornecendo um vislumbre inédito de como era o universo em seu princípio. As imagens estão entre as mais detalhadas do cosmos já capturadas.

A primeira delas foi divulgada ainda na segunda-feira, acompanhada de um evento na Casa Branca com a presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. “É um dia histórico”, declarou o democrata na cerimônia.

Ela mostra o aglomerado de galáxias SMACS 0723, conforme aparentava há cerca de 4,6 bilhões de anos. A massa combinada do aglomerado atua como uma lente gravitacional e amplia galáxias muito mais distantes atrás dele.

SMACS 0732: imagem de cerca de 4,6 bilhões de anos atrás. Crédito: Nasa/ESA/CSA/STScI

Segundo a agência espacial americana, trata-se da “mais profunda e nítida imagem infravermelha do universo primitivo já capturada”.

“Se você segurasse um grão de areia na ponta do dedo a uma distância equivalente ao comprimento do braço, essa é a parte do universo que você está vendo [nesta imagem]. Aqui, você vê galáxias brilhando ao redor de outras galáxias”, explicou o administrador da Nasa, Bill Nelson.

Planetas habitáveis?

O James Webb também expôs a análise atmosférica de um exoplaneta gigante chamado Wasp-96b – um planeta gasoso que orbita uma estrela fora do sistema solar da Terra. O astro, localizado a cerca de 1.150 anos-luz da Terra, orbita sua estrela a cada 3,4 dias. Ele foi descoberto em 2014 e tem cerca de metade da massa de Júpiter.

Atmosfera do planeta WASP-96 b. Crédito: Nasa/ESA/CSA/STScI

O novo telescópio espacial da Nasa “é tão preciso que veremos se os planetas são ou não habitáveis, porque podemos determinar a composição química de suas atmosferas”, disse Nelson.

O último suspiro de uma estrela em vias de morrer

Em outra imagem, o telescópio Webb mostrou a Nebulosa do Anel Sul, que é uma nebulosa planetária – ou seja, uma nuvem de gás e poeira que envolve uma estrela em vias de morrer.

Ela tem quase meio ano-luz de diâmetro e está localizada a aproximadamente 2 mil anos-luz da Terra. A estrela em seu centro vem emitindo anéis de gás e poeira há milhares de anos em todas as direções. Gás ionizado quente é aquecido pelo núcleo quente da estrela, criando a névoa azul em volta dela.

Nebulosa planetária do Anel Sul. Crédito: Nasa/ESA/CSA/STScI

A imagem mostra ainda uma série de galáxias, que são os pontos de luz multicoloridos ao redor da nebulosa.

Grupo de galáxias

O Webb obteve ainda uma nítida imagem do Quinteto de Stephan, um grupo de cinco galáxias na constelação de Pégaso, a cerca de 290 milhões de anos-luz da Terra. Cada galáxia contém milhões ou centenas de milhões de estrelas. É notável por ser o primeiro grupo compacto de galáxias a ser descoberto, lá em 1877.

Quinteto de Stephan, na constelação de Pégaso. Crédito: Nasa/ESA/CSA/STScI

A imagem do Webb mostra a evolução das diferentes galáxias, bem como o processo de nascimento e evolução das estrelas. É a maior imagem entre as capturadas pelo telescópio, cobrindo o equivalente a um quinto do diâmetro da Lua e composta de mais de mil arquivos separados.

Por fim, a Nasa revelou também uma imagem dos penhascos cósmicos na Nebulosa Carina, com centenas de novas estrelas que nunca haviam sido vistas antes.

O que se vê na imagem é a borda de uma região de formação de estrelas chamada NGC 3324. Grandes aglomerados de galáxias em primeiro plano ampliam e distorcem a luz dos objetos atrás deles. Essa gigantesca cavidade gasosa está a cerca de 7.600 anos-luz de distância da Terra.

Uma história mais precisa do universo

As novas imagens têm mais do que apenas valor estético. As imagens capturadas pelo telescópio espacial Hubble foram cruciais para ajudar os cientistas a entender como planetas, estrelas e galáxias são formados. Até ajudou a obter uma data de nascimento mais precisa para o universo – cerca de 13,8 bilhões de anos atrás.

O Hubble ainda está em operação, mas os novos avanços tecnológicos incorporados ao telescópio espacial James Webb devem aprofundar ainda mais o conhecimento mundial sobre o universo, e de forma mais eficiente.

“Com o Hubble, foram necessárias duas semanas de imagens contínuas para obter imagens detalhadas, mas com o Webb obtivemos a imagem antes do café da manhã”, afirmou Jane Rigby, cientista de operações do Webb, em um comunicado à imprensa nesta terça-feira.

O novo telescópio está pronto para ensinar ao mundo sobre as origens do cosmos de uma forma jamais vista, desde a formação de estrelas e planetas até o nascimento das primeiras galáxias no início do universo.

O James Webb

O maior e mais poderoso telescópio espacial do mundo foi lançado ao espaço em dezembro de 2021 a partir da Guiana Francesa.

Em janeiro, ele atingiu seu ponto de observação a 1,6 milhão de quilômetros da Terra, quatro vezes mais longe que a Lua, de onde oferece uma visão inédita do universo.

Para se ter uma ideia, o Hubble, que era o maior telescópio em operação antes do Webb, está a 600 quilômetros da Terra desde 1990, entrando e saindo da sombra do planeta a cada 90 minutos.

O Webb é incomparável em tamanho e complexidade. Seu espelho mede 6,5 metros de diâmetro – três vezes o tamanho do espelho do Hubble – e é feito de 18 seções hexagonais.

O telescópio usa câmeras térmicas infravermelhas para capturar partes do espectro eletromagnético invisíveis a olho nu. O infravermelho permite que os astrônomos vejam através de nuvens de poeira que, de outra forma, bloqueariam a visão.

Seu objetivo é dar aos cientistas e ao mundo um vislumbre dos primeiros dias do universo de 13,7 bilhões de anos, além de aumentar o zoom em objetos cósmicos mais próximos, até mesmo o Sistema Solar, com foco mais nítido. O Hubble, por exemplo, conseguiu voltar no tempo em 13,4 bilhões de anos.

O James Webb é resultado de uma colaboração entre a Nasa, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial do Canadá (CSA).