01/09/2022 - 13:03
A missão Artemis tem entre seus objetivo o de colocar a primeira mulher no solo lunar, o que sinaliza o crescente protagonismo do sexo feminino nos meios astronáuticos. Mas a presença das mulheres em voos de longa duração impõe a análise de fatores diversos dos que envolvem apenas os homens, e eles devem ser igualmente considerados para o sucesso da missão. Um dos mais óbvios – e recorrente nas dúvidas de curiosos – é como lidar com a menstruação no espaço.
- Estudo revela efeito de voo espacial prolongado no cérebro de astronautas
- Vermes ajudam a resolver problemas musculares de astronautas
- Aparelho está produzindo oxigênio de forma confiável em Marte
Não se tinha notícia dessa preocupação quando a russa Valentina Tereshkova se tornou a primeira mulher a sair da Terra, em 1963. “Quando as mulheres foram ao espaço pela primeira vez, não se sabia quais seriam os efeitos”, disse Varsha Jain, ginecologista e pesquisadora do King’s College London (Reino Unido), coautora de um artigo sobre menstruação em voos espaciais. Mas já se sabe que, embora a maioria dos sistemas do corpo humano seja fortemente afetada durante os voos espaciais, o ciclo menstrual feminino não parece mudar. ‘Isso pode acontecer normalmente no espaço, e se as mulheres optarem por deixar acontecer, elas podem”, afirmou Jain.
Peso adicional
Segundo a médica, algumas instalações de descarte de lixo a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) podem lidar com sangue humano, mas não foram originariamente projetadas para isso. Outra questão prática das mulheres que menstruam no espaço é o peso adicional e os cálculos de levar na bagagem itens como tampões e absorventes higiênicos.
Para reduzir os problemas, a maioria das astronautas usa contraceptivos e adia a menstruação, tanto na preparação quanto durante o voo espacial, informaram Jain e seus colegas. Em missões mais longas, porém, a questão volta à tona.
A astronauta italiana Samantha Cristoforetti, que integra a Expedição 67 a bordo da ISS e faz sua segunda viagem ao espaço, é a atual recordista europeia de um voo espacial ininterrupto, com 199 dias e 16 horas. Ela abordou o assunto como lidar com a menstruação no espaço em uma recente postagem no Twitter. Antes de detalhar a resposta para explicar o funcionamento interno da ISS, ela foi sintética na resposta: “Assim como você faz no solo”.
Cuidado com filtros extras
Segundo Cristoforetti, as astronautas têm amplos suprimentos de absorventes e tampões para as necessidades e preferências de todos. Mas, ela ressalva, a ISS tem um conjunto de processamento de urina (UPA) encarregado de reciclar a urina de todos os astronautas em água potável que “não se dá muito bem com o sangue menstrual”. Então, ela prossegue, “você tem que ter um pouco de cuidado com filtros extras para garantir que isso não afete a UPA. Pode ser por isso, acredito, que muitas astronautas optam por não menstruar no espaço, seja tomando uma pílula hormonal oral ou usando um dispositivo intrauterino (DIU)”.
Considerando-se que uma viagem a Marte levaria três anos, talvez já seja hora de a Nasa e outras agências espaciais pensem numa forma de resolver em definitivo essa questão.