04/09/2022 - 14:39
João Paulo 1º, apelidado de “papa do sorriso”, foi beatificado pelo papa Francisco neste domingo (04/09), em uma missa que reuniu milhares de fiéis católicos no Vaticano.
O antigo pontífice, nascido Albino Luciani na Itália, é amplamente lembrado mais por sua morte súbita do que por seu papado. Isso porque ele foi papa por apenas 33 dias, até morrer de ataque cardíaco em 28 de setembro de 1978, aos 65 anos.
Neste domingo, Francisco o declarou “abençoado”, o prelúdio necessário para a santidade plena. “Com um sorriso, o papa João Paulo conseguiu comunicar sua bondade ao Senhor”, afirmou o pontífice em sua homilia.
“Como é bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, nunca endurece os corações, nunca se queixa ou guarda ressentimentos, não se zanga nem se impacienta, não parece austera nem sofre nostalgia do passado”, completou Francisco.
Para que um católico seja beatificado, o papa deve aprovar um milagre atribuído à intercessão pela oração. No caso de João Paulo 1º, esse milagre foi a recuperação sem explicação médica, em 2011, de uma menina de 11 anos hospitalizada com inflamação cerebral e choque séptico em Buenos Aires. Os pais da criança haviam orado ao ex-papa por ajuda.
Se for declarado que João Paulo 1º influenciou outro milagre, ele se torna então elegível para a canonização como santo.
Teorias da conspiração sobre a morte
Em 1978, a morte abrupta do papa – cujo corpo foi encontrado em seu quarto no Palácio Apostólico, residência oficial do papa na Cidade do Vaticano – gerou suspeitas instantâneas.
Para o biógrafo Christophe Henning, além da morte inesperada, a “comunicação calamitosa” do Vaticano na época também contribuiu para a circulação de rumores sobre o caso.
De início, o Vaticano não quis admitir a presença de uma mulher no quarto de João Paulo e afirmou que o papa foi encontrado sem vida por um padre. Contudo, mais tarde a Igreja corrigiu o relato para afirmar que uma freira havia achado o corpo.
Nenhuma autópsia foi realizada para determinar a causa da morte.
No livro Em nome de Deus: uma investigação em torno do assassinato do papa João Paulo 1º, de 1984, o autor britânico David Yallop sugere que o pontífice foi envenenado por conspiradores ligados à maçonaria que teriam vínculos com o Vaticano e seu banco. O jornal americano The New York Times, por sua vez, ridicularizou as técnicas investigativas de Yallop.
Em 1987, outro britânico, John Cornwell, escreveu um livro chamado A thief in the night, em que desmantela meticulosamente as teorias da conspiração.
“Não há qualquer verdade nelas”, afirmou o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, ao ser questionado sobre as teorias da conspiração na última sexta-feira, na TV italiana. “É uma pena que essa história, esse romance noir, continue. Foi uma morte natural, não há mistério nisso.”
A jornalista e autora italiana Stefania Falasca, que passou dez anos documentando a vida de João Paulo e teve acesso a seu histórico médico, chamou as teorias da conspiração de “lixo publicitário”. Ela também escreveu vários livros sobre o pontífice.
Vida de “virtudes heroicas”
João Paulo 1º, o último papa italiano, era visto como um homem de consenso, de humildade e simplicidade, com um forte senso de dever pastoral.
“Aberto ao diálogo e à escuta, ele deu prioridade às visitas pastorais e ao contato direto com os fiéis”, declarou o Vaticano em um folheto de beatificação.
O “papa do sorriso” defendeu a oposição da Igreja ao aborto e à contracepção, ao mesmo tempo que buscava reformar sua governança.
Um passo anterior no processo de santidade da Igreja Católica havia sido aprovado em 2017 pelo papa Francisco, com uma declaração de que João Paulo levou uma vida de “virtudes heroicas”.
ek (AFP, AP, Reuters)