12/09/2022 - 12:27
Quando Colombo desembarcou em 1492, as Américas estavam colonizadas há dezenas de milhares de anos. Ele não foi a primeira pessoa a descobrir o continente. Em vez disso, sua descoberta foi a última de muitas descobertas.
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Ao todo, as pessoas encontraram as Américas pelo menos sete vezes diferentes. Em pelo menos seis dessas vezes, isso não era tão novo, afinal. Os descobridores vieram por mar e por terra, trazendo novos genes, novas linguagens, novas tecnologias. Alguns ficaram, exploraram e construíram impérios. Outros foram para casa e deixaram poucas dicas de que já tinham estado lá.
Da última à primeira, aqui está a história de como descobrimos as Américas.
7) Cristóvão Colombo: 1492 d.C.
Em 1492, os europeus podiam chegar à Ásia pela Rota da Seda, ou navegando pela Rota do Cabo ao redor da ponta sul da África. Navegar para o oeste da Europa era considerado impossível.
Os antigos gregos calcularam com precisão que a circunferência da Terra era de 40 mil quilômetros, o que colocava a Ásia muito a oeste. Mas Colombo errou em seus cálculos. Um erro na conversão de unidades deu a ele uma circunferência de apenas 30 mil km.
Esse erro, com outras suposições nascidas do desejo, deu uma distância de apenas 4.500 km da Europa ao Japão. A distância real é de quase 20 mil quilômetros.
Assim, os navios de Colombo partiram sem suprimentos suficientes para chegar à Ásia. Felizmente para ele, atingiram as Américas. Colombo, pensando ter encontrado as Índias Orientais, chamou seu povo de “índios”. Ele finalmente morreu sem perceber seu erro. Foi o navegador Américo Vespúcio que percebeu que Colombo havia encontrado uma terra desconhecida e em 1507 o nome América foi aplicado em homenagem a Vespúcio.
6) Polinésios: 1200 d.C.
Por volta de 2500 a.C., um povo marítimo partiu de Taiwan para encontrar novas terras. Eles navegaram para o sul pelas Filipinas, para o leste pela Melanésia, depois para o vasto Pacífico Sul. Esses povos, os polinésios, eram mestres navegadores, lendo vento, ondas e estrelas para atravessar milhares de quilômetros de mar aberto.
Usando enormes canoas duplas, os polinésios colonizaram Samoa, Fiji, Tonga e as Ilhas Cook. Alguns foram para o sul rumo à Nova Zelândia, tornando-se os maoris. Outros foram para o leste rumo ao Taiti, Havaí, Ilha de Páscoa e Marquesas. A partir daqui, eles finalmente atingiram a América do Sul. Então, tendo explorado a maior parte do Pacífico, eles desistiram da exploração e esqueceram completamente a América do Sul.
Mas a evidência dessa viagem notável permaneceu. Os sul-americanos adquiriram galinhas dos polinésios, enquanto os polinésios podem ter adquirido batatas-doces sul-americanas. E eles compartilhavam mais do que comida. Os polinésios orientais têm DNA nativo americano. Os polinésios não apenas conheceram os nativos americanos –casaram-se com eles.
5) Nórdicos: 1021 d.C.
De acordo com as sagas vikings, por volta de 980 d.C., Erik, o Vermelho, viking feroz e vendedor astuto, nomeou um vasto e gelado deserto de “Groenlândia” para atrair as pessoas a se mudarem para lá. Então, em 986 d.C., um barco da Groenlândia avistou a costa do Canadá.
Por volta de 1021 d.C., o filho de Erik, Leif, estabeleceu um assentamento na Terra Nova. Os vikings lutaram contra o clima severo, antes que a guerra com os nativos americanos os obrigasse a voltar para a Groenlândia. Essas histórias foram por muito tempo descartadas como mitos, até 1960, quando os arqueólogos desenterraram os restos dos assentamentos vikings na Terra Nova.
4) Inuits: 900 d.C.
Pouco antes dos vikings, o povo inuit viajou da Sibéria ao Alasca em barcos de pele. Caçando baleias e focas, vivendo em cabanas e iglus, eles estavam bem adaptados ao frio Oceano Ártico e margearam suas costas até a Groenlândia.
Curiosamente, seu DNA é o mais próximo dos nativos do Alasca, o que implica que seus ancestrais colonizaram a Ásia a partir do Alasca, depois voltaram para descobrir as Américas novamente.
3) Esquimós-aleutas: 2000-2500 a.C.
Os inuits descendem de uma migração anterior: a dos falantes das línguas esquimós-aleutas. Estes são distintos de outras línguas nativas americanas e podem até estar distantes de línguas urálicas, como finlandês e húngaro.
Isso, com evidências de DNA, sugere que a esquimó-aleuta foi uma migração distinta. Eles cruzaram o Mar de Bering da atual Rússia ao Alasca, talvez 4.000-4.500 anos atrás, parcialmente deslocando e misturando-se com migrantes anteriores: o povo dene.
2) Denes: 3000-8000 a.C.
Outro grupo, o dene, atravessou o Mar de Bering até o Alasca há cerca de 5 mil anos, embora outros estudos sugiram que eles se estabeleceram nas Américas há 10 mil anos.
O DNA de seus ossos os liga não a pessoas modernas do grupo esquimó-aleuta, mas a nativos americanos que falam a família linguística dene, como os povos navajo, tlingit e apache. As línguas dene estão mais próximas das línguas faladas na Sibéria, sugerindo novamente que representam uma migração distinta.
1) Primeiros americanos: 16 mil-35 mil anos atrás
Quase todas as tribos nativas americanas – sioux, comanche, iroquês, cherokee, asteca, maia, quéchua, ianomâmi e dezenas de outras – falam línguas semelhantes. Isso sugere que suas línguas evoluíram de uma língua ancestral comum, falada por uma única tribo que entrou nas Américas há muito tempo. A baixa diversidade genética de seus descendentes sugere que essa tribo fundadora era pequena, talvez com menos de 80 pessoas.
Como eles chegaram lá? Antes do fim da última era glacial, há 11.700 anos, havia tanta água presa nas geleiras que o nível do mar caiu. O fundo do Mar de Bering secou, criando a Ponte Terrestre de Bering. As primeiras pessoas da América simplesmente caminharam da Rússia para o Alasca. Mas o momento de sua migração é controverso.
Os arqueólogos pensavam que o povo Clóvis, que viveu há 13 mil anos, foi o primeiro povoador da América. Mas as evidências agora sugerem que os humanos chegaram às Américas muito antes.
Achados em Washington, Oregon, Texas, na costa leste dos EUA e na Flórida sugerem que as pessoas chegaram às Américas muito antes do povo Clóvis.
Pegadas no Novo México datam de 23 mil anos atrás. Ferramentas de pedra em uma caverna mexicana podem datar de 32 mil anos atrás. Um mamute abatido no Colorado data de 31.000-38.000 anos atrás. E vestígios de fogo colocaram humanos no Alasca 32 mil anos atrás.
Algumas dessas datas podem estar incorretas, mas a cada nova descoberta parece cada vez mais improvável que estejam todas erradas.
Mistério por resolver
Uma migração precoce resolveria perfeitamente um grande mistério. Há 13 mil anos, uma vasta geleira, o Manto de Gelo Laurenciano, enterrou o Canadá em gelo de até três quilômetros de espessura. Se as pessoas chegaram à América do Norte então, como elas cruzaram o gelo? A costa acidentada do sudeste do Alasca, cheia de geleiras e fiordes, provavelmente era intransitável, e os primeiros americanos provavelmente não tinham barcos. Mas 30 mil anos atrás, a camada de gelo não estava totalmente formada.
Antes que o gelo se espalhasse, as pessoas poderiam ter caçado mamutes e cavalos a leste do Alasca até os Territórios do Noroeste, depois ao sul através de Alberta e Saskatchewan até Montana. Notavelmente, os humanos podem ter se estabelecido nas Américas antes da Europa Ocidental. No entanto, isso pode fazer sentido. O Ártico do Alasca é duro, mas a Europa tinha neandertais potencialmente hostis.
O fim da descoberta
A de 1492 foi a última descoberta das Américas. Após as viagens de Colombo, Fernão de Magalhães e James Cook, os descendentes dispersos da diáspora da humanidade foram finalmente reunidos. Com exceção de algumas tribos isoladas, todos os lugares eram conhecidos por todos. A descoberta era impossível.
Mas a história do assentamento nas Américas ainda está sendo escrita e nosso entendimento está evoluindo. A migração esquimó-aleuta pode ter sido duas migrações diferentes, não uma. Os genes sugerem a possibilidade de outras populações fundadoras precoces. E dada a pouca evidência que os polinésios e nórdicos deixaram de suas visitas, é concebível que houve outras migrações, das quais temos poucas evidências.
Há muita coisa que não sabemos. Ninguém mais pode descobrir as Américas, mas ainda existe muito o que descobrir sobre sua descoberta.
* Nicholas R. Longrich é professor sênior de paleontologia e biologia evolutiva na Universidade de Bath (Reino Unido).
** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.