13/09/2022 - 7:02
Diamantes estranhos de um antigo planeta anão em nosso Sistema Solar podem ter se formado logo após esse planeta colidir com um grande asteroide há cerca de 4,5 bilhões de anos, segundo cientistas da Austrália e do Reino Unido. A equipe de pesquisa diz ter confirmado a existência de lonsdaleíta, uma rara forma hexagonal de diamante, em meteoritos de ureilita originários do manto do planeta anão.
- Diamante negro de origem extraterrena é leiloado por mais de US$ 4 milhões
- Vulcões, diamantes e bolhas: uma história surpreendente do interior da Terra
- Mercúrio pode abrigar gigantesca mina de diamantes, diz cientista
A lonsdaleíta recebeu o nome da famosa cristalógrafa britânica Dame Kathleen Lonsdale, a primeira mulher eleita como membro da Royal Society.
A equipe – com cientistas da Universidade Monash, do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (RMIT University), do CSIRO, do Australian Synchrotron (todos na Austrália) e da Universidade de Plymouth (Reino Unido) – encontrou evidências de como a lonsdaleíta se formou em meteoritos de ureilita. As descobertas foram apresentadas em artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). O estudo foi liderado pelo geólogo professor Andy Tomkins, da Universidade Monash.
Um dos pesquisadores seniores envolvidos, o professor do RMIT Dougal McCulloch, disse que a equipe previu que a estrutura hexagonal dos átomos da lonsdaleíta a tornava potencialmente mais difícil do que os diamantes regulares, que tinham uma estrutura cúbica.
“Este estudo prova categoricamente que a lonsdaleita existe na natureza”, disse McCulloch, diretor do RMIT Microscopy and Microanalysis Facility. “Também descobrimos os maiores cristais de lonsdaleíta conhecidos até hoje, com tamanho de até um mícron – muito, muito mais finos que um fio de cabelo humano.”
A equipe diz que a estrutura incomum da lonsdaleíta pode ajudar em relação a novas técnicas de fabricação de materiais ultraduros em aplicações de mineração.
Qual é a origem?
McCulloch e sua equipe do RMIT, o doutorando Alan Salek e o dr. Matthew Field, usaram técnicas avançadas de microscopia eletrônica para capturar fatias sólidas e intactas dos meteoritos a fim de criar imagens de como a lonsdaleíta e os diamantes regulares se formaram.
“Há fortes evidências de que há um processo de formação recém-descoberto para a lonsdaleíta e o diamante regular, que é como um processo de deposição de vapor químico supercrítico que ocorreu nessas rochas espaciais, provavelmente no planeta anão logo após uma colisão catastrófica”, afirmou McCulloch. “A deposição de vapor químico é uma das maneiras pelas quais as pessoas fazem diamantes em laboratório, essencialmente cultivando-os em uma câmara especializada.”
Segundo Tomkins, a equipe propôs que a lonsdaleíta nos meteoritos se formou a partir de um fluido supercrítico em alta temperatura e pressões moderadas, preservando quase que na totalidade a forma e as texturas do grafite preexistente.
“Mais tarde, a lonsdaleíta foi parcialmente substituída por diamante à medida que o ambiente esfriava e a pressão diminuía”, disse ele. “A natureza nos forneceu, assim, um processo para tentar replicar na indústria. Acreditamos que a lonsdaleíta poderia ser usada para fazer peças de máquinas minúsculas e ultraduras se pudermos desenvolver um processo industrial que promova a substituição de peças pré-moldadas de grafite por lonsdaleíta.”
Tomkins afirmou que os resultados do estudo ajudaram a resolver um mistério de longa data sobre a formação das fases de carbono em ureilitas.