02/06/2017 - 16:00
Raposa no galinheiro
Às voltas com a oposição republicana no Congresso, o então presidente americano Barack Obama encontrou nas atribuições regulatórias da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) a base para fazer avançar sua agenda na área. Com o emprego dessa estratégia, ele estabeleceu, por exemplo, normas para reduzir o consumo de combustíveis fósseis, expandir a produção de energias alternativas e, no final, levar os Estados Unidos a assinar o Acordo do Clima de Paris, em 2015. Mas essa estrutura frágil tem tudo para desabar com o governo republicano de Donald Trump, a começar pela designação de Scott Pruitt como o novo diretor da EPA.
Pruitt recebeu dinheiro do lobby de combustíveis fósseis e já processou a EPA, como procurador-geral do estado de Oklahoma, por aspectos referentes à agenda climática do órgão (em seu perfil numa rede social, ele se definiu como “advogado contra a EPA”). Acima de tudo, tal como seu chefe, ele é um cético em relação ao aquecimento global e diz não acreditar que o gás carbônico tenha tanta influência assim no processo – ao contrário de quase 100% da comunidade científica. Democratas e ambientalistas já esperam o desmonte do legado ambiental de Obama, a começar pelo corte de 31% no orçamento da EPA, anunciado em março. Pior para o mundo, sem dúvida.
Intrusos na floresta
A antes considerada intocada flora amazônica foi moldada por povos pré-colombianos, afirma uma equipe internacional de cientistas em estudo publicado em março na revista Science. Liderados pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), os 152 pesquisadores (53 dos quais brasileiros) chegaram a essa conclusão ao sobrepor dados de mais de mil inventários florestais, da Rede de Diversidade das Árvores da Amazônia (ATDN), com o mapa de 3 mil sítios arqueológicos espalhados pela região. As análises revelam uma relação entre a ocupação humana e a presença de plantas domesticadas na floresta. Segundo a pesquisadora Carolina Levis, do Inpa e da Wageningen University and Research Center, da Holanda, 25% das espécies de árvores domesticadas por esses povos são amplamente distribuídas na região e dominam grandes extensões de matas. A relação inclui cacau, castanha-do-pará, açaí, bacaba, patauá, mapati, seringueira e pupunha.
Salvação pelo turismo
O novo governo das Maldivas, país insular no Oceano Índico, anunciou em março uma forte guinada em relação às preocupações ambientais do antecessor Mohamed Nasheed. Em 2008, Nasheed afirmara que pretendia comprar terras para salvar a população do país (400 mil habitantes), ameaçada pela elevação dos mares associada ao aquecimento global. O novo presidente, Abdulla Yameen, tem outras prioridades: para ele, só o turismo de massa e megaempreendimentos no setor permitirão às Maldivas enfrentar a mudança climática e desenvolver-se. Os planos envolvem criar ilhas artificiais, transferir moradores de ilhas menores para as maiores e usar os atóis vagos para erguer 50 novos resorts. Um deles seria o atol Faafu, no norte, que seria arrendado à família real saudita por US$ 10 bilhões.
dos 5.208 minerais reconhecidos oficialmente pela Associação Mineralógica Internacional têm origem na atividade humana, embora alguns deles também possam ser formados naturalmente. O levantamento, feito por pesquisadores americanos, é mais uma evidência a reforçar a hipótese de que já entramos numa nova era geológica, o Antropoceno.
Revisão evolutiva
Cientistas chineses descobriram no sudeste do seu país o fóssil de uma fêmea de dinocefalossauro, réptil que viveu há cerca de 245 milhões de anos (período Triássico), o qual deve mudar a forma como compreendemos a evolução dos sistemas reprodutivos de vertebrados. A fêmea, grávida, tinha um embrião em desenvolvimento no seu corpo, em vez de um ovo. Tal como mamíferos e alguns répteis, como certas cobras e lagartos, a espécie já era vivípara, ou seja, dava à luz seus filhotes. Com quatro metros de comprimento, o dinocefalossauro é o primeiro membro de um grupo de vertebrados chamado Archosauromorpha a dar à luz dessa forma, segundo o paleontólogo Jun Liu, da Universidade Hefei.
O oitavo continente
Um novo continente descoberto no Hemisfério Sul está quase totalmente submerso e seu ponto mais alto é o já conhecido Monte Cook, na Nova Zelândia. De acordo com um artigo publicado em fevereiro na revista da Sociedade Geológica da América, o continente, denominado Zelândia, tem 5 milhões de quilômetros quadrados. Os cientistas estão concentrados em uma campanha para reconhecer a novidade, mesmo considerando-se que 94% da superfície de Zelândia esteja submersa (apenas as ilhas do Norte e do Sul da Nova Zelândia e a Nova Caledônia estão acima do nível do mar). Os critérios científicos levados em conta são: elevação maior em relação ao entorno, geologia distinta, área bem definida e crosta mais espessa do que a do fundo do oceano. Se reconhecida, a Zelândia será o oitavo nome na relação que já inclui Europa, Ásia, África, Antártida, Oceania, América do Norte e América do Sul.
Futebol e demência
Um estudo do Instituto de Neurologia do University College London, na Inglaterra, indica que os choques das cabeças de jogadores de futebol com a bola e as cabeças de outros atletas aumentam o risco do surgimento de demência e doença de Alzheimer. Exames nos cérebro de seis jogadores que desenvolveram demência ao longo da vida revelaram que todos tinham Alzheimer e quatro possuíam sinais de encefalopatia crônica traumática (ETC), uma doença degenerativa ligada a pancadas sucessivas na cabeça. Os autores do estudo admitem, porém, que não está claro se os atletas teriam desenvolvido demência se não tivessem passado tanto tempo jogando e qual a frequência de golpes na cabeça que poderia desencadear a doença.
Campeã da energia solar
Os investimentos maciços da China em energia renovável, motivados em boa parte pela necessidade de reduzir a enorme poluição atmosférica do país, têm um novo destaque: em fevereiro, o Parque Solar de Longyangxia, iniciado em 2013, tornou-se a maior usina do setor no mundo, com capacidade para produzir 850 megawatts. A usina, situada no noroeste do país, possui cerca de 4 milhões de painéis solares instalados em 27 km2. Longyangxia é um reforço poderoso no parque solar chinês, cuja capacidade instalada no setor em 2016 já atingia 77 gigawatts, bem à frente de outros produtores de destaque, como Estados Unidos, Alemanha e Japão. Mas sua liderança não deverá durar muito: um projeto na região de Ningxia, também no noroeste da China, deverá atingir 2.000 MW de capacidade.
Faxina espacial adiada
Ainda não foi dessa vez que o problema do lixo espacial encontrou uma solução. A tentativa da Agência de Exploração Espacial do Japão (Jaxa, na sigla em inglês) de usar um tipo de cabo eletrodinâmico de 700 metros de extensão para coletar os detritos em órbita e pô-los numa órbita mais baixa, realizada em fevereiro, fracassou. A ideia era fazer o lixo penetrar na atmosfera e ser destruído na queda, sem atingir a superfície. Desde o início, porém, o cabo – lançado de uma nave que levava suprimentos para a Estação Espacial Internacional – registrou falhas no funcionamento. Calcula-se que orbitam a Terra mais de 100 milhões de pedaços de lixo, como artefatos de lançamento de velhos satélites e pedaços de foguetes. Esse volume representa um risco para o futuro da exploração espacial.
Sujeira nas profundezas
A poluição marinha já chega às águas superprofundas, segundo um estudo publicado em fevereiro. O Hirondellea gigas (foto acima), um tipo de crustáceo que vive entre 6 mil e 11 mil metros de profundidade na Fossa das Marianas (o local mais profundo da superfície terrestre, no Pacífico ocidental), apresentou níveis “extraordinários” de contaminação por produtos químicos proibidos, como fluidos resfriadores. A concentração de poluentes encontrada nos crustáceos era 50 vezes maior do que a detectada em caranguejos às margens do rio Liaohe, um dos mais contaminados da China.
Microinimigos do homem
A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou em fevereiro uma lista das 12 famílias de bactérias resistentes aos antibióticos que representam a maior ameaça para a saúde humana. Especialistas em saúde já haviam alertado que a resistência às drogas usadas para combater infecções poderia causar uma ameaça à humanidade maior do que o câncer. Se os antibióticos perdem sua eficácia, procedimentos médicos como transplantes de órgãos, cesarianas, trocas de articulações e quimioterapia podem até tornar-se inviáveis pelo risco elevado associado a eles.
A cada ano, cerca de 700 mil pessoas morrem no mundo devido a infecções resistentes aos medicamentos. Se nada for feito, calcula-se que essas infecções matarão 10 milhões de pessoas por ano por volta de 2050. Segundo a OMS, as 12 bactérias da lista conseguem achar novas formas de resistir ao tratamento e podem transmitir material genético que permite que outras bactérias também se tornem resistentes aos fármacos. O grupo mais crítico inclui bactérias que podem causar infecções graves e muitas vezes mortais, como infecções da corrente sanguínea e pneumonia. Conheça a lista a seguir.
das mortes de crianças de até 5 anos no mundo são provocadas pela poluição, de acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde divulgado em março. As causas principais mencionadas para os cerca de 1,7 milhão de casos do gênero registrados a cada ano são o ar tóxico, a água contaminada e a falta de saneamento básico.
Degelo crescente
Os céticos quanto ao aquecimento global apontam aumentos nas áreas de gelo marinho na Antártida para justificar seu ponto de vista, mas registros colhidos pelo Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, na sigla em inglês) desmentem essa versão. Em 13 de fevereiro, a extensão de gelo marinho no continente atingiu 2,28 milhões de quilômetros quadrados, conforme dados diários do órgão. É um pouco menos do que o recorde mínimo anterior, de 1997. Em anos recentes, a extensão média do gelo marinho em torno da Antártida se expandiu, apesar da tendência de diminuir com o aquecimento global. Já no Oceano Ártico, o gelo marinho teve reduções sucessivas nos últimos anos. Em meados de fevereiro, ele apresentou sua menor extensão para essa época do ano: 5,38 milhões de quilômetros quadrados.
Radiação insuportável
Está complicado resolver o problema da super-radiação na usina nuclear de Fukushima, destruída após o terremoto seguido de tsunami ocorrido em 2011 no Japão. Como a radiação no local está muito acima do que um ser humano poderia suportar, engenheiros da Tokyo Electric Power Company (Tepco), responsável pela usina, estão usando robôs especialmente preparados, com câmeras acopladas, para investigar o status dos danos antes que se possa iniciar o trabalho de limpeza. Mas as máquinas não estão resistindo às condições do local. A tentativa mais recente foi feita com um robô fabricada pelo Toshiba, que funcionou durante um tempo cinco vezes menor do que o previsto. Ele deveria suportar 73 sieverts (sievert é a unidade usada para avaliar o impacto da radiação ionizante sobre os seres humanos), mas o nível registrado no reator atingiu 530 sieverts.
Robôs para idosos
Sistemas robóticos de detecção de movimentos podem prever com grande precisão quando um idoso corre um alto risco de cair. Um estudo conduzido em um centro de moradia para idosos no Missouri (EUA), divulgado em fevereiro, identificou sinais que indicam maior risco de queda, como o declínio repentino na velocidade de andar. Cerca de 86% dos examinados que apresentaram esse problema caíram no intervalo de três semanas após os exames. Os cientistas agora trabalham em uma versão de sistema na qual um software de inteligência artificial interpreta automaticamente dados de movimento e envia mensagens avisando familiares e uma equipe de ajuda sobre a possibilidade da queda ou da ocorrência dela. O sistema poderia viabilizar a ideia de idosos morando em suas próprias casas com mais segurança.
Armadilha de vidro
O moderníssimo US Bank Stadium, casa do time de futebol americano Minnesota Vikings inaugurada em junho de 2016, tem-se revelado um verdadeiro cemitério de pássaros. Erguido ao custo de mais de US$ 1 bilhão (dinheiro público, na maior parte), o estádio, em Minneapolis, tem um revestimento externo de vidro transparente de 18,6 mil metros quadrados que funciona como uma armadilha: as aves não o diferenciam do céu e colidem com ele. Segundo um relatório preparado por três entidades ambientais, em três anos pelo menos 360 pássaros morreram ao bater contra o edifício, mas o número deve ser bem maior, pois “não inclui aves removidas pelo pessoal de manutenção, seguranças e catadores”. Mudanças feitas em um prédio que havia cometido o mesmo erro de concepção – o Javits Center, em Nova York – reduziram os acidentes do tipo em 90%.
Robô sobre rodas
A fabricante de robôs Boston Dynamics, empresa controlada pela Alphabet (holding dona do Google), continua a impressionar o mercado. Seu mais recente lançamento, o Handle, mostrado em fevereiro, é um robô quadrúpede que se converte em bípede com facilidade. Suas “pernas” traseiras se apoiam em duas rodas, que lhe permitem acelerar movimentos sem grande dificuldade e rolar numa velocidade de até 9 km/h; enquanto isso, as dianteiras podem ser usadas para equilibrar-se e levar cargas de até 50 kg. Essas características simplificam o aparelho e aumentam sua eficiência.
Vaticano menos poluído
O papa Francisco aceitou a doação da consultoria de investimentos alemã Wermuth Asset Management e usará um carro 100% elétrico durante um ano, como parte de um projeto piloto que visa demonstrar que essa tecnologia é boa para o ambiente e a economia. A consultoria também doou ao papa quatro estudos sobre como tornar o Vaticano: 1) um dos primeiros Estados do mundo a usar 100% de energias renováveis; 2) um ambiente com 100% da mobilidade livre de emissões; 3) um dos pioneiros a usar baterias de veículos elétricos para armazenar energia; 4) uma economia com investimentos alinhados às metas da encíclica Laudato Si, a primeira na história da Igreja Católica a abordar questões ambientais. O projeto piloto e os estudos têm o endosso da iniciativa Right Now!, dedicada a alinhar a missão social da Igreja (como estabelecido em Laudato Si) com o conhecimento, a experiência e o vigor financeiro de empresários e investidores no domínio do investimento de impacto.
milhões de dólares é o preço calculado de uma passagem para uma viagem de ida e volta à Lua na nave SpaceX, do empresário Elon Musk. O voo – que apenas dará a volta no satélite, sem pousar nele – está inicialmente programado para o próximo ano, mas ainda existem muitos testes por fazer, a começar pelo ainda não testado foguete Falcon Heavy.