14/09/2022 - 13:14
Um crustáceo que habita as águas oceânicas entre 200 e 900 metros de profundidade é mais um exemplo da incrível biodiversidade encontrada em nosso planeta. Semelhante a um camarão, e do tamanho de um punho fechado, o Cystisoma chama a atenção particularmente por sua cabeça – quase toda ela ocupada por seus olhos, especializados em ver no escuro.
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“Quanto mais você aumenta o seu olho, mais consegue capturar quaisquer fótons que estejam lá fora”, afirmou Karen Osborn, cientista da Smithsonian Institution (EUA), ao jornal The Guardian. Osborn fez parte da equipe que publicou um artigo sobre esse animal na revista Current Biology, em 2016.
Para habitantes de águas profundas como o Cystisoma, um problema substancial é ocultar-se de predadores. Osborn compara a situação a brincar de esconde-esconde em um campo de futebol: “Você não encontrará quase nada para se esconder”, disse ela.
Disfarce peculiar
O cenário fica particularmente desafiador quando se consideram os olhos do crustáceo, uma vez que as retinas em geral precisam conter pigmentos fracos e absorventes de fótons, algo que os predadores podem distinguir nas profundezas. Mas o Cystisoma tem um recurso de disfarce peculiar, observa a cientista: em vez de seus pigmentos estarem concentrados em um ponto minúsculo, eles se espalham em uma folha fina de pequenos pontos avermelhados que também são modestos para a maioria dos animais.
A maior parte do corpo desses crustáceos é transparente – a ponto de, quando os cientistas os capturam em redes de arrasto e os despejam em um balde de água, eles aparecem como espaços vazios do tamanho de uma palma entre outros animais. “Você realmente não pode ver essas coisas corretamente até que as identifica fora da água”, afirmou Osborn.
A única coisa que se destacaria no corpo transparente do Cystisoma, afora os olhos, é o órgão digestivo. Mas ele lança uma sombra minúscula, enquanto o crustáceo fica em sua posição horizontal normal.
Revestimento antirreflexo
A detecção desses crustáceos debaixo d’água fica ainda mais difícil porque eles reduzem a luz que reflete em seus corpos transparentes. Os cientistas descobriram em 2016 protuberâncias que Osborn compara a um tapete felpudo, e áreas protegidas por uma única camada de formas esféricas – talvez colônias de um tipo misterioso de germes. O “tapete” e as nanoesferas fazem com que a luz tenha 100 vezes mais chance de passar direto pelo Cystisoma, em vez de refletir no olho de um predador que passa. “Funcionará exatamente da mesma maneira que um revestimento antirreflexo em uma lente de câmera digital”, afirmou Osborn.
A cobertura antirreflexo e das articulações cobertas por esferas beneficiam especialmente as pernas do Cystisoma. Sem tais propriedades, elas pegariam facilmente a luz enquanto se agitam e se contorcem. “Esses caras são mestres completos da camuflagem transparente no meio da água”, observou Osborn.
E o que esses animais fazem quando querem ser notados, como em ações destinadas ao acasalamento? As enormes antenas do Cystisoma macho dão uma pista. Elas são cobertas de construções que detectam substâncias químicas na água circundante. Para Osborn, isso indica que esses animais estão “cheirando” uns aos outros.