24/09/2022 - 13:12
O total de mortes na atual onda de protestos no Irã aumentou para 35, segundo a contagem oficial, após a brutal repressão das forças de segurança durante os vários dias de manifestações pelo país.
Ao mesmo tempo, entidades denunciam o uso de munição real pela polícia contra manifestantes desarmados.
O estopim dos protestos foi a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos que estava sob custódia da polícia da moral iraniana. Ela tinha sido detida por não usar o véu islâmico obrigatório sobre a cabeça.
Amini foi dada como morta depois de passar 3 horas em coma. Ativistas denunciam que ela teria sofrido um golpe fatal na cabeça, o que foi negado pelos policiais. Mas uma foto da jovem a mostra deitada, com os olhos negros inchados e a orelha sangrando.
A imagem de Amani se espalhou rapidamente na internet, desencadeando protestos contra a humilhação diária e o abuso sofrido por mulheres iranianas devido ao uso obrigatório do hijab.
Na maior onda de protestos no país nos últimos três anos, iranianas queimaram véus islâmicos e cortaram seus cabelos em desafio ao rígido código de conduta imposto pelas autoridades.
A televisão estatal iraniana confirmou neste sábado (24/09) que o número de mortes quase dobrou, aumentando de 17 para 35, incluindo cinco membros das forças de segurança.
A polícia prendeu centenas de pessoas em todo o país. Somente na província de Guilan, no noroeste do país, foram anunciadas as prisões de 739 “agitadores”, incluindo 60 mulheres.
Polícia abre fogo contra civis
Vídeos postados na internet mostram protestos realizados na noite desta sexta-feira, com alguns destes se tornando violentos, principalmente em Teerã.
As imagens sugerem que as forças de segurança teriam utilizado munição real contra manifestantes desarmados nas cidades de Piranshahr, Mahabad e Urmia, no noroeste iraniano,
Um vídeo divulgado pela ONG Direitos Humanos no Irã, uma entidade com sede em Oslo, na Noruega, mostra um membro uniformizado das forças de segurança atirando com um fuzil AK-47 contra civis em Shahr-e Rey, no subúrbio de Teerã.
A Anistia Internacional disse ter coletado provas em 20 cidades iranianas que sugerem “um padrão assustador do uso ilegal e proposital de munição real contra manifestantes”. A ONG alertou para o “risco de novos derramamentos de sangue em meio a um blecaute na internet imposto deliberadamente”.
Segundo as informações obtidas pela AI, somente na noite de quarta-feira as forças de segurança mataram a tiros ao menos 19 pessoas, incluindo três crianças.
As autoridades também prenderam ativistas e jornalistas. Segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas, uma organização com base nos Estados Unidos, 11 profissionais foram detidos no Irã desde a segunda-feira.
Presidente pede “ações decisivas” contra manifestantes
Em contraste, milhares de pessoas participaram de manifestações organizadas pelo governo em Teerã e outras cidades a favor da imposição do hijab.
O presidente iraniano, o conservador Ebrahim Raisi, alertou neste sábado que a polícia deve “agir de maneira decisiva contra os que se opõe à segurança e tranquilidade do país”.
Em conversa por telefone com a família de um dos policiais mortos durante os protestos, Raisi, segundo um relato da imprensa estatal, teria “reforçado a necessidade de se distinguir entre protesto e perturbação da ordem pública e da segurança”, e qualificou como “revolta” os atos públicos desencadeados pela morte de Mahsa Amani.
rc (AFP, AP)