A ciência tem visto com interesse cada vez maior as características que envolvem o relacionamento entre os cães e os seres humanos, e a sequência de resultados positivos observados chama a atenção de qualquer um. Estudos recentes já haviam mostrado que as pessoas acompanhadas por cães tendem a obter respostas mais prestativas de outros e que a presença desses animais no local de trabalho pode reduzir o estresse. Agora, outro aspecto se soma aos anteriores: os cães podem ser benéficos para as interações sociais em equipes. A conclusão apareceu em um estudo publicado em fevereiro na revista Anthrozoös.

Liderada pelo professor de psicologia Stephen Colarelli, uma equipe da Central Michigan University (EUA) distribuiu a pequenos grupos de pessoas algumas tarefas a serem executadas com – ou sem – um cão de companhia (aquele mais dependente do dono) na sala. No primeiro experimento, os grupos criaram um anúncio de 15 segundos e um slogan para uma campanha publicitária fictícia, um trabalho no qual se exige cooperação.

Na tarefa seguinte, eles disputaram uma versão modificada do “dilema do prisioneiro”, jogo no qual cada um deve decidir se vai cooperar com outros integrantes ou se vai agir de forma independente. Tudo isso foi filmado pelos pesquisadores. Depois disso, os participantes avaliaram sua satisfação em relação ao grupo em que estavam e quanto confiavam nos outros membros. Todo o material gravado foi analisado por avaliadores independentes, que buscaram nele sinais de cooperação, pistas verbais e físicas de vínculo ou proximidade e expressões de vulnerabilidade que indicavam confiança.

Cooperação maior

Os grupos que tinham um cão na sala sempre manifestaram mais sinais verbais e físicos de proximidade do que os demais. Eles também exibiram mais sinais de cooperação durante a primeira tarefa. Os relatos dos membros dos grupos a respeito da segunda tarefa indicam que eles sentiram mais confiança uns nos outros se um cachorro estava no local. Esses dados reforçam a ideia de que existe uma relação entre a presença de um cão no ambiente e o incremento de um comportamento amável e prestativo em grupos, observa Colarelli: “Quando as pessoas trabalham em equipe, a presença de um cão parece agir como um lubrificante social. Os cães parecem ser benéficos para as interações sociais das equipes”.

A presença de cães em determinados ambientes pode incomodar outras pessoas (Foto: Pekic/iStock)
A presença de cães em determinados ambientes pode incomodar outras pessoas (Foto: Pekic/iStock)

Uma explicação para isso poderia ser o efeito positivo dos cães sobre o bem-estar dos humanos, e para verificá-la os pesquisadores prepararam vídeos editados dos grupos na primeira tarefa, com 40 segundos de duração, nos quais se retiraram o áudio e as evidências de que havia um cão na sala. A seguir, os pesquisadores solicitaram aos avaliadores independentes que observassem, nesse material, quantas vezes apareciam indicações de emoções positivas (por exemplo, entusiasmo, energia e atenção). Os avaliadores confirmaram que havia muito mais demonstrações de bons sentimentos nos grupos com cachorros do que naqueles em que esses animais estavam ausentes.

Influência saudável

Não houve evidências de que a presença de cães significasse uma melhora no desempenho dos grupos durante os experimentos, mas Colarelli considera que os benefícios sociais e emocionais observados podem ter uma influência saudável nesse sentido com o passar do tempo. “Se, numa situação em que as pessoas estão trabalhando juntas por um longo período, a qualidade de relacionamento dessa equipe – se eles falam juntos, têm relacionamento, atuam de maneira cooperativa, ajudam uns aos outros – pode influenciar o resultado da equipe, então eu suspeito que um cão teria um impacto positivo”, afirma.

Colarelli adverte que não se pode interpretar essas evidências como um passe livre para a presença de cães em locais de trabalho, por exemplo. Muitas pessoas são alérgicas aos pelos dos animais; outras simplesmente não gostam deles. Tudo isso teria de ser cuidadosamente avaliado, observa o psicólogo americano. Mas as informações prévias já reunidas nesse sentido estimulam novas pesquisas, que vão delineando cada vez mais claramente a influência positiva dos animais de estimação.

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