02/11/2022 - 8:59
Pesquisadores australianos e chilenos liderados pela Universidade de Queensland (Austrália) descobriram que a covid-19 ativa a mesma resposta inflamatória no cérebro que a doença de Parkinson. A descoberta identificou um potencial risco futuro para condições neurodegenerativas em pessoas que tiveram covid-19, mas também um possível tratamento.
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Publicado na revista Molecular Psychiatry, o estudo foi conduzido pelo professor Trent Woodruff e o dr. Eduardo Albornoz Balmaceda, da Escola de Ciências Biomédicas da Universidade de Queensland, e por virologistas da Escola de Química e Biociências Moleculares da Universidade de Queensland.
“Estudamos o efeito do vírus nas células imunes do cérebro, as micróglias, que são as principais células envolvidas na progressão de doenças cerebrais como Parkinson e Alzheimer”, disse o professor Woodruff. “Nossa equipe cultivou micróglias humanas em laboratório e infectou as células com SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19. Descobrimos que as células efetivamente ficaram ‘com raiva’, ativando o mesmo caminho que as proteínas de Parkinson e Alzheimer podem ativar na doença, os inflamassomas.”
“Fogo” no cérebro
Segundo o dr. Albornoz Balmaceda, o desencadeamento da via do inflamassoma desencadeou um “fogo” no cérebro, que inicia um processo crônico e sustentado de matar neurônios. “É uma espécie de assassino silencioso, porque você não vê nenhum sintoma externo por muitos anos”, disse ele. “Isso pode explicar por que algumas pessoas que tiveram covid-19 são mais vulneráveis ao desenvolvimento de sintomas neurológicos semelhantes à doença de Parkinson.”
Os pesquisadores descobriram que a proteína spike (espícula) do vírus foi suficiente para iniciar o processo e foi ainda mais exacerbada quando já havia proteínas no cérebro ligadas ao Parkinson. “Então, se alguém já está predisposto a ter Parkinson, ter covid-19 pode ser como derramar mais combustível nesse ‘fogo’ no cérebro”, disse o professor Woodruff. “O mesmo se aplica a uma predisposição para Alzheimer e outras demências que têm sido associadas a inflamassomas”, acrescentou.
Mas o estudo também encontrou um tratamento em potencial. Os pesquisadores administraram uma classe de drogas inibitórias desenvolvidas pela Universidade de Queensland que estão atualmente em ensaios clínicos com pacientes de Parkinson. “Descobrimos que (a droga) bloqueou com sucesso a via inflamatória ativada pela covid-19, essencialmente apagando o fogo”, disse Albornoz Balmaceda. “O medicamento reduziu a inflamação em camundongos infectados com covid-19 e nas micróglias de humanos, sugerindo uma possível abordagem de tratamento para prevenir a neurodegeneração no futuro.”
O professor Woodruff disse que, embora a semelhança entre a forma como a covid-19 e as demências afetam o cérebro seja preocupante, também significa que um possível tratamento já existia. “Mais pesquisas são necessárias, mas esta é potencialmente uma nova abordagem para tratar um vírus que, de outra forma, poderia ter ramificações de saúde incalculáveis em longo prazo.”