14/11/2022 - 6:34
O céu ganhou cor de fogo. Uma enorme coluna de fumaça subiu do horizonte até a lua. De repente, o templo de Hutzilo-Poktli estava em chamas. Assim, sem mais nem por quê. Não era incêndio criminoso nem resultado da queda de um raio. O templo Tzon-Molco igualmente era devorado pelo fogo. No céu, podiam-se ver cometas. Uma tempestade repentina abateu-se sobre o lago de Tenochtitlán, que fervia. Em todas as casas da cidade se podia ouvir uma voz de mulher: “Nós estamos perdidos. Ó meus filhos, onde posso escondê-los?”
Este relato histórico de mau prenúncio faz parte da mitologia dos tlaxcaltecas. Os feiticeiros dessa tribo indígena tentavam decifrar o sentido da mensagem. Um ano após o sinal dos céus e dos inexplicáveis incêndios dos templos, Don Hernán Cortés entrava em Tenochtitlán, a capital dos poderosos astecas. O espanhol foi saudado como um deus. Pouco depois, porém, os deuses a cavalo transformaram-se em demônios, que deviam aniquilar os astecas para sempre.
Don Hernán Cortés e seu exército de 600 soldados haviam partido em 15 caravelas de Havana, em Cuba, em 18 de fevereiro de 1519. Durante meses, Cortés e seus homens atravessaram o México lutando. O destino era a capital asteca, Tenochtitlán, então com 300 mil habitantes. Dizia-se que havia um gigantesco tesouro em ouro naquela que viria ser a atual Cidade do México. Cortés providenciou para que lá corresse o boato de que ele era um deus.
Oferta de ouro atiçou a cobiça
O rei asteca Montezuma soube logo da aproximação dos deuses e tentou satisfazê-los com presentes. Ele temia a ira e enviou ouro. Mas a iniciativa estimulou ainda mais a cobiça em Cortés, decidido a entrar finalmente na metrópole asteca. Para chegar aos muros de Tenochtitlán, o conquistador espanhol batalhou palmo a palmo desde Vera Cruz, passando por Popocatepétl e Iztac-Cihuatl.
A 8 de novembro de 1519, Cortés e seu exército alcançaram a cidade. Os homens tremiam de medo. Uma impressionante muralha protegia, por todos os lados, Tenochtitlán, construída em meio a um lago salgado. A cidade superdesenvolvida era palco de feiras gigantescas. Até 50 mil mercadores compravam e vendiam seus produtos. E dali Montezuma reinava.
Ereto, o rei asteca desceu do alto do muro de quatro metros e, ao pé da larga escada, ajoelhou-se. O poderoso asteca ajoelhou-se diante do deus que ele via em Cortés. Montezuma tinha respeito e temor diante dos forasteiros que haviam se infiltrado em seu território. E foram exatamente o medo e a crença de que Cortés e seus homens brancos eram deuses que significou o fim de Montezuma e, com ele, do Império Asteca.
Uma semana mais tarde, a prisão
Em princípio, Cortés aproveitou-se da insegurança do rei. O espanhol ofereceu-lhe a conversão ao cristianismo. Montezuma recusou, mas concordou com a construção de uma capela. O asteca tornou-se o porta-voz do conquistador. Em 14 de novembro de 1519, exatamente uma semana após a saudação na entrada de Tenochtitlán, Cortés mandou prender Montezuma.
A partir de então, o conquistador passou a ditar as ordens, alegando serem desejos do asteca supremo. O ex-todo-poderoso e orgulhoso Montezuma acabou por trair seu povo ao assinar um documento no qual transferia todos os direitos do soberano do Império Asteca ao rei Carlos 5º, da Espanha.
No entanto, foi só quando os soldados destruíram e arrasaram os templos e locais sagrados dos astecas que se acabou a tolerância do povo indígena. Após um massacre dos espanhóis, os astecas reagiram e obrigaram os conquistadores a abandonar Tenochtitlán. Mas o fim dos outrora ricos e poderosos astecas já estava determinado.
Pouco mais de dois anos depois da chegada de Cortés, Tenochtitlán foi quase riscada do mapa pelas tropas espanholas em agosto de 1521, após um cerco que durou três meses. O propalado tesouro de Montezuma jamais foi encontrado. O prenúncio que os feiticeiros não souberam interpretar, porém, confirmara-se cruelmente.