28/11/2022 - 15:46
A cocaína é uma substância com aplicação médica, mas também apresenta riscos significativos de abuso e dependência. De acordo com um artigo publicado na revista New Scientist, cientistas chineses recriaram a bioquímica que leva à produção de cocaína na planta do tabaco. O complexo mecanismo que permite às plantas de coca produzir cocaína foi decodificado e recriado em um parente da planta de tabaco, afirmam os pesquisadores.
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Por mais de um século, a capacidade da planta de coca de produzir cocaína tem encantado os bioquímicos por causa de sua estrutura química complexa e única e da sua capacidade de estimular a atividade anestésica. A descoberta noticiada agora torna possível reproduzir a droga ou criar produtos químicos quimicamente relacionados com qualidades distintas, replicando o processo alterando geneticamente outras plantas ou microrganismos.
Sheng-Xiong Huang e seus colegas do Instituto de Botânica Kunming descobriram uma maneira de entender melhor essas características introduzindo na Nicotiana benthamiana, parente da planta do tabaco, duas enzimas anteriormente ausentes, denominadas EnMT4 e EnCYP81AN15. Dessa forma, os bioquímicos capacitaram geneticamente essa planta a produzir cocaína. Eles descobriram que poderiam criar 400 nanogramas de cocaína por miligrama de folha seca, ou cerca de 25% da quantidade encontrada em uma planta de coca.
Huang sublinhou que, atualmente, a produção de cocaína em tabaco é insuficiente para suprir a demanda em grande escala. Ele também mencionou que organismos com alta biomassa e rápido desenvolvimento, como a bactéria Escherichia coli ou a levedura Saccharomyces cerevisiae, podem montar a via biossintética estabelecida.
Presença milenar
Há mais de 4 mil anos, a planta da coca era tratada como remédio por moradores da Bolívia, do Peru e da Colômbia, segundo o Museu da DEA (Drug Enforcement Administration, agência do governo dos EUA encarregada da repressão e do controle de narcóticos). No século 16, exploradores europeus relataram que os habitantes locais mastigavam as folhas dessa planta para melhorar o humor, ajudar na digestão, aumentar o apetite e resistir melhor ao trabalho puxado.
No início dos anos 1900, a medicina ocidental modificou a planta da coca para funcionar como um agente anestésico. Já nos anos 1970, a cocaína foi reintroduzida como um narcótico que, na sequência, foi transformado em uma substância ilegal de fácil acesso e custo relativamente baixo.
De acordo com a DEA, a Coca-Cola incluiu a cocaína como um de seus principais ingredientes aromatizantes no final do século 19. No início dos anos 1900, porém, a cocaína bruta foi retirada de circulação. A Coca-Cola nega que tenha usado cocaína como aromatizante. Hoje em dia, segundo a DEA, o sabor da Coca-Cola está associado a uma versão “descocainizada” do extrato da folha de coca, e empresas farmacêuticas selecionadas usam restos de cocaína bruta para fazer remédios.