30/11/2022 - 19:34
Deputados alemães aprovaram nesta quarta-feira (30/11) uma resolução que declara as ações do governo soviético que resultaram na morte de milhões de ucranianos entre 1932 e 1933 como genocídio.
O fatídico episódio é chamado de Holodomor, que em ucraniano significa “morte por fome”, e foi causado por políticas do regime soviético liderado pelo ditador Josef Stalin.
A resolução também aponta que o Holodomor constitui um “crime contra a humanidade”. “A liderança política da União Soviética sob Josef Stalin foi responsável”, diz o texto.
Os três partidos da coalizão governista do chanceler federal Olaf Scholz, os Social-Democratas (SPD), Verdes e Liberais Democratas (FDP), bem como a principal sigla da oposição, os Democratas-Cristãos (CDU) e a conservadora União Social Cristã (CSU), votaram a favor da resolução no Parlamento (Bundestag).
O deputado verde Robin Wagener disse durante discurso no parlamento que “a morte pela fome também teve como objetivo a repressão política da identidade nacional ucraniana, cultura e língua ucranianas”. Ele ainda disse que “os paralelos com a atualidade são claros” – um ponto repetido por outros oradores no Parlamento nove meses após o início da guerra de agressão da Rússia na Ucrânia.
“A atual guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia está inserida nesta tradição histórica”, disse o deputado conservador Volker Ullrich.
Ultradireita e esquerda se abstêm
Durante a votação da resolução, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e a legenda A Esquerda, que reúnem juntas mais pouco mais de 100 deputados, escolheram se abster.
Estima-se que o Holodomor provocou a morte de pelo menos 3,5 milhões de ucranianos. O episódio foi negado pela União Soviética até 1987 e foi muito debatido no final dos anos 80 e e é hoje considerado uma das maiores políticas de extermínio em massa na Europa, no século 20, antes do Holocausto.
Em 2006, a Ucrânia reconheceu a grande fome como um genocídio. Todos os anos, no quarto sábado de novembro, o país presta suas homenagens às vítimas no Dia em Memória ao Holodomor.
A Rússia, por outro lado, nega veementemente o genocídio, alegando que não foram apenas ucranianos, mas também russos, cazaques, alemães da região do rio Volga e outros que foram vítimas da grande fome no início da década de 30.
Ao justificar a abstenção, o deputado da AfD Marc Jongen denunciou o que chamou de “instrumentalização da história” e se opôs a uma “equação histórica” com a atual guerra na Ucrânia. Nos últimos anos, deputados da ultradireitista AfD provocaram repúdio na Alemanha por posições pró-Putin e por viajarem à Crimeia ocupada.
Já na legenda A Esquerda, que foi em parte fundada por remanescentes do antigo partido comunista da Alemanha Oriental, o deputado Gregor Gysi também alertou contra tentativas de traçar equivalências entre o ditador Adolf Hitler e Josef Stalin: “Stalin era ruim, muito ruim, mas nenhum Hitler”, disse.
Embaixador ucraniano elogia resultado
Após a aprovação da resolução, o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Oleksii Makeiev, disse à DW que estar “muito satisfeito” com a decisão do Bundestag.
“Esta é uma decisão muito importante do parlamento alemão que os ucranianos esperam há décadas. Também é importante que hoje todos os oradores da Coalizão de governo e da Oposição façam paralelos com a guerra genocida, que está sendo liderada pela Federação Russa contra a Ucrânia. Portanto, todos esses crimes, crimes genocidas, crimes contra a humanidade e crimes de guerra devem ser punidos.”
Alguns historiadores afirmam que Stalin orquestrou propositadamente a fome para eliminar o movimento de independência ucraniano. Outros dizem que o Holodomor foi o resultado das políticas fracassadas da União Soviética para coletivizar terras agrícolas.
Já a resolução apresentada ao Bundestag adotou a seguinte linha: “as mortes em massa por fome não foram resultado de colheitas fracassadas; a liderança política da União Soviética sob Josef Stalin foi responsável por eles.”
A Alemanha não é o primeiro país a reconhecer o Holodomor da Ucrânia como genocídio.
De acordo com o Museu Holomodor em Kiev, 16 países até agora reconheceram o episódio como genocídio: Austrália, Equador, Estônia, Canadá, Colômbia, Geórgia, Hungria, Letônia, Lituânia, México, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Estados Unidos e Vaticano.
jps (DW, ots)