05/12/2022 - 10:37
Como o Tyrannosaurus rex pegava sua comida? Olhando para o crânio fossilizado desse temível dinossauro carnívoro, a resposta pode parecer óbvia: mandíbulas monstruosas e dentes afiados capazes de fornecer uma força de mordida de várias toneladas.
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Mas os tiranossauros faziam mais do que apenas usar suas cabeças para capturar presas, de acordo com uma equipe de pesquisadores. Seu estudo, publicado na revista Vertebrate Anatomy Morphology Paleontology, revelou que os tiranossauros tinham ligamentos únicos que davam uma capacidade extra a suas patas, permitindo que esses animais se movessem rapidamente por grandes distâncias.
“As pessoas há muito se sentem atraídas pelo poder impressionante e pelos braços ridiculamente pequenos do Tyrannosaurus rex e seus parentes, mas as pernas – e especialmente as patas – dos tiranossauros também eram altamente especializadas”, disse o paleontólogo de vertebrados Thomas R. Holtz Jr., professor principal do Departamento de Geologia da Universidade de Maryland (EUA) e coautor do novo trabalho. “Este novo estudo ajuda a mostrar que, mesmo em nível microscópico, os tiranossauros eram adaptados tanto para corridas de longa distância quanto para acelerações rápidas.”
Forma incomum e misteriosa
Proporcionalmente, os tiranossauros tinham patas mais longas do que qualquer outro grande dinossauro carnívoro, mas a singularidade de suas patas não parava em seus passos largos. O grande osso médio da pata é triangular quando visto de frente ou transversal, e afunila em um tornozelo estreito – uma característica que Holtz apelidou de “arctometatarso” na década de 1990.
Estudos anteriores de Holtz, Eric Snively (da Universidade Estadual de Oklahoma, nos EUA, e também coautor do novo artigo) e outros pesquisadores mostraram que um longo arco metatarso permitia uma locomoção relativamente rápida, mas a razão para essa forma incomum permanecia um mistério.
A nova pesquisa de Holtz, Snively e outros coautores testou a hipótese de que grandes ligamentos fortaleciam as solas das patas dos tiranossauros perto dos dedos de uma forma que teria sido única entre os grandes dinossauros e não está presente em nenhum animal moderno.
Anthony Russell, pesquisador da Universidade de Calgary (Canadá), demonstrou para o estudo que a tração de ligamentos e tendões pode causar a extrusão dos ossos dos tiranossauros, deixando para trás superfícies ásperas e onduladas no osso. Snively identificou superfícies ásperas em fósseis de tiranossauros, mas ainda é possível que a cartilagem não fossilizada ou o crescimento rápido possam ser responsáveis pelo terreno acidentado.
Ligamentos muito fortes
Lara Surring, do Alberta Health Services (Canadá), principal autora do estudo, percebeu que os pesquisadores poderiam testar os ligamentos treinando um microscópio eletrônico de varredura (SEM) nas superfícies ásperas onde os ossos se tocam no tiranossauro Gorgosaurus. Os autores então extraíram seções finas e translúcidas de ossos metatarsos de um tiranossauro e de um dinossauro “controle”, o pequeno carnívoro Coelophysis.
O SEM revelou cavidades na superfície áspera do osso, que correspondem a ligamentos apertados em animais modernos. A estrutura óssea interna do tiranossauro mostrou ligamentos mineralizados que ancoravam os tendões dentro do osso. O Coelophysis carecia de ligações tão fortes.
Os pesquisadores descobriram ainda mais conexões de ligamentos que uniam a pata, tanto externa quanto internamente. Os métodos dos autores também permitiram testar rigorosamente a presença de tecidos moles em fósseis de animais como tiranossauros. Tecidos moles como ligamentos e tendões são essenciais para o funcionamento do esqueleto, mas raramente são preservados em fósseis. Encontrar evidências desses tecidos ajuda a elucidar como esses animais antigos funcionavam como seres vivos.
Lesões comuns
“Com a microscopia externa e interna revelando seus tecidos moles desbotados, um pequeno passo para um tiranossauro se transforma em um salto modesto para a compreensão de um passado vívido”, disse Snively.
Além de responderem a uma pergunta de longa data, as complexidades dos pés do tiranossauro também são relevantes para a saúde humana. Os seres humanos estão entre os melhores caminhantes e corredores de longa distância entre os animais hoje, mas lesões de ligamentos e tendões são comuns, representando cerca de 30%-50% das lesões esportivas.
O esforço excessivo pode distender tendões e ligamentos. Assim, entender como essas estruturas se ligam aos ossos – mesmo em animais extintos como os dinossauros – pode ajudar os humanos a evitar tais lesões.
“Temos esperança de que aprender como os tiranossauros fizeram ajustes esqueléticos para se manterem funcionais nos limites do tamanho animal nos ajudará a avaliar e melhorar os esqueletos humanos após lesões ou envelhecimento”, disse Surring. “Esta pesquisa é mais um passo nessa direção.”