20/01/2023 - 13:50
A violência e a guerra eram generalizadas em muitas comunidades neolíticas no noroeste da Europa, um período associado à adoção da agricultura, sugere uma nova pesquisa.
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Dos restos mortais de mais de 2.300 primeiros agricultores de 180 locais datados de cerca de 8 mil a 4 mil anos atrás, mais de um em cada dez apresentava ferimentos causados por armas, descobriram bioarqueólogos do Reino Unido, da Suécia e da Alemanha. Suas conclusões foram apresentadas em artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Ao contrário da visão de que a era neolítica foi marcada pela cooperação pacífica, a equipe de pesquisadores internacionais diz que em algumas regiões o período de 6000 a.C. a 2000 a.C. pode ser um ponto alto de conflito e violência, com a destruição de comunidades inteiras.
Guerra formalizada
As descobertas também sugerem que o aumento do cultivo e do pastoreio de animais como forma de vida, substituindo a caça e a coleta, pode ter lançado as bases para a guerra formalizada.
Os pesquisadores usaram técnicas bioarqueológicas para estudar restos de esqueletos humanos de locais na Dinamarca, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Espanha e Suécia.
A equipe reuniu as descobertas para mapear, pela primeira vez, evidências de violência no noroeste da Europa neolítica, que tem a maior concentração de sítios neolíticos escavados no mundo.
A equipe, das universidades de Edimburgo, Bournemouth (Reino Unido) e de Lund (Suécia), e do Centro de Pesquisa Osteoarqueológica (Alemanha), examinou restos mortais em busca de evidências de lesões causadas predominantemente por força contundente no crânio.
Evidência de lesões
Mais de 10% apresentaram danos potencialmente causados por golpes frequentes na cabeça por instrumentos contundentes ou machados de pedra. Vários exemplos de lesões penetrantes, provavelmente por flechas, também foram encontrados.
Alguns dos feridos estavam ligados a enterros em massa, o que poderia sugerir a destruição de comunidades inteiras, dizem os pesquisadores.
“Ossos humanos são a forma mais direta e menos tendenciosa de evidência para hostilidades passadas e nossas habilidades para distinguir entre ferimentos fatais em oposição à quebra post-mortem melhoraram drasticamente nos últimos anos, além de diferenciar ferimentos acidentais de ataques com armas”, afirmou a drª Linda Fibiger, da Universidade de Edimburgo, primeira autora do artigo.
“O estudo levanta a questão de por que a violência parece ter sido tão prevalente durante esse período. A explicação mais plausível pode ser que a base econômica da sociedade mudou. Com a agricultura veio a desigualdade, e aqueles que tiveram menos sucesso às vezes parecem ter se engajado em invasão e violência coletiva como uma estratégia alternativa para o sucesso, com os resultados agora cada vez mais reconhecidos arqueologicamente”, observou o dr. Martin Smith, da Universidade de Bournemouth (Reino Unido), coautor do artigo.