04/09/2025 - 15:34
“Quando vai sair o anticoncepcional masculino?” A pergunta ecoa há décadas, especialmente entre mulheres que lidam com os efeitos colaterais de pílulas e os desconfortos do DIU. A verdade é que a ciência vem testando opções desde os anos 1970, mas, apesar dos avanços, a responsabilidade contraceptiva continua a recair majoritariamente sobre elas. Mas por quê?
Os dois caminhos: hormonal vs. não hormonal
A busca por um contraceptivo masculino segue duas abordagens principais. A via hormonal busca reduzir a contagem de espermatozoides alterando hormônios como a testosterona. No entanto, os efeitos colaterais — acne, alterações de humor e na libido — foram suficientes para interromper um grande estudo em 2016, um rigor que nunca impediu o lançamento de pílulas femininas com efeitos similares. Atualmente, a opção hormonal mais avançada é um gel de aplicação diária que aguarda financiamento para a fase final de testes.
Já a via não hormonal é vista como mais promissora. Nela, destacam-se dois projetos:
YCT-529: Um contraceptivo oral que inibe a produção de esperma e já começou a ser testado em humanos.
RISUG: Um polímero injetável que “mata” os espermatozoides nos canais deferentes. Considerado revolucionário, já passou pela fase 3 de testes na Índia e aguarda o início da fabricação.
Se a ciência avança, o que impede o lançamento?
Contrariando o senso comum, o problema não é a falta de interesse dos homens. Pesquisas em vários países mostram que a maioria está disposta a dividir a responsabilidade da contracepção.
O verdadeiro obstáculo é económico. As fases finais de testes clínicos são extremamente caras, e parece haver uma falta de interesse da indústria farmacêutica em investir pesado para levar os produtos às prateleiras. Para muitos analistas, o mercado de contraceptivos femininos é tão consolidado e lucrativo que lançar uma alternativa masculina é visto como um risco financeiro desnecessário.
Assim, o anticoncepcional masculino continua no limbo: a ciência avança, os homens demonstram interesse, mas, por enquanto, a promessa de que ele “chega em poucos anos” continua a ser apenas uma promessa.