10/12/2025 - 9:26
Mais recente modelo de IA da Alphabet, Gemini 3, pressiona GPT-5, da OpenAI, que tenta responder. Corrida pela supremacia no setor envolve ainda outros concorrentes e enormes investimentos em infraestrutura.Os anúncios no setor de inteligência artificial (IA) se sucedem rapidamente. A OpenAI adiantou para esta semana o lançamento de um modelo de raciocínio (reasoning) que teria ficado à frente do Gemini 3 em avaliações internas. A informação é da revista online The Decoder, que cita fontes do setor.
O Gemini 3 havia sido apresentado no mês passado pela Alphabet (a controladora do Google) como sua versão mais recente de IA. Ele superou o GPT-5 em algumas áreas de testes padrão de benchmarking. Isso foi um choque para a OpenAI, que desde 2022 liderava a corrida no setor da inteligência artificial com o lançamento do ChatGPT, desbancando a então líder, a gigante Alphabet.
Agora não está mais claro se a OpenAI ainda mantém a liderança. A reação da empresa, portanto, não surpreende: o CEO Sam Altman enviou um memorando interno aos seus funcionários para declarar uma ordem de alerta “código vermelho”, de acordo com o site especializado The Information, citado pelo jornal The Wall Street Journal. Os funcionários foram instruídos a se concentrarem no ChatGPT e adiarem o desenvolvimento de outros produtos.
Só ter o melhor modelo não basta mais
“Não se trata mais apenas de criar os melhores modelos, mas também de poder de processamento e capacidade de gerar receita”, afirma o analista Adrian Cox, do Deutsche Bank Research. A OpenAI inicialmente liderou porque, nos anos após o lançamento do ChatGPT, possuía os melhores modelos.
Mas agora outros modelos de IA estão alcançando o ChatGPT, e eles têm a vantagem adicional de terem uma grande empresa por trás. Esse é o caso do Gemini 3. “Esses modelos dispõem de enormes opções de distribuição graças a uma ampla base de usuários online já consolidada, assim como de uma enorme capacidade de processamento por meio do acesso a inúmeros data centers”, diz Cox.
A OpenAI ainda tem uma posição dominante no mercado de chatbots, com mais de 800 milhões de usuários por semana. Já a Alphabet pode usar o Gemini 3 no seu mecanismo de busca, que continua sendo sua maior fonte de receita.
O app do Gemini alcança mais de 650 milhões de usuários por mês, de acordo com o CEO da Alphabet, Sundar Pichai, no Google Blog. “Mais de 70% dos clientes de nuvem usam nossa IA, 13 milhões de desenvolvedores já trabalharam com nossos modelos generativos – e isso é apenas uma pequena parte do impacto que estamos vendo”, afirmou.
Quando a OpenAI sairá do vermelho?
Se a Alphabet tem diversas maneiras de gerar receita além da IA, a OpenAI precisa lucrar com seus modelos de IA. Atualmente ela faz dinheiro com assinaturas para usuários que querem ter acesso às versões mais recentes do ChatGPT. Empresas também pagam para integrar produtos da OpenAI em seus aplicativos ou compram soluções prontas da empresa. Além disso, a Microsoft, que investiu pesadamente na OpenAI, integra a IA em seus próprios produtos. Mesmo assim, a OpenAI aparentemente não é lucrativa.
A empresa não publica resultados de receita ou lucro. No início de novembro, Altman afirmou que a OpenAI está a caminho de gerar mais de 20 bilhões de dólares em receita anualizada este ano, com planos de crescer para centenas de bilhões até 2030.
O banco britânico HSBC divulgou uma visão pouco otimista sobre a situação da OpenAI, como relatou o jornal Financial Times. A receita poderia chegar a 213 bilhões de dólares até 2030. No entanto, essa previsão se baseia em diversas suposições. Mesmo que a OpenAI consiga aumentar sua receita, os custos também estão em constante ascensão, de modo que, no final, haveria um prejuízo operacional de mais de 70 bilhões de dólares, segundo estimativas do HSBC.
E de onde virá o dinheiro para os enormes investimentos?
Para se manter à frente na corrida pela liderança são necessários investimentos bilionários, especialmente em data centers onde a IA é treinada.
A controladora do Google planeja investir só este ano até 93 bilhões de dólares, de olho no crescimento do setor de IA. No próximo ano espera-se um “aumento significativo” no volume de investimentos.
Já a OpenAI está comprometida em investir 1,4 trilhão de dólares na construção de infraestrutura de IA, como chips e data centers, ao longo dos próximos oito anos.
A quantia exorbitante levantou questionamentos de investidores e outros profissionais do setor sobre a origem dos recursos da OpenAI. Afinal, se uma empresa como a Alphabet pode usar a própria receita para esses investimentos, a OpenAI precisa levantar capital.
A Alphabet gerou mais de 100 bilhões de dólares em receita no último trimestre. A publicidade relacionada ao seu mecanismo de busca foi uma importante fonte de renda. O negócio de nuvem também está apresentando bom desempenho.
Além disso, a empresa desenvolveu seus próprios chips de IA, que são usados nos data centers do Google, tornando o desenvolvimento de IA menos dependente dos caros chips da Nvidia. Esses chips também deverão ser fornecidos para outras empresas. Parece já haver interesse: a Meta estaria planejando usá-los em seus planejados data centers de IA.
Cox diz haver uma probabilidade muito alta de que o Google tenha o melhor modelo de IA no ano que vem, e não a OpenAI. “O grande desafio para a OpenAI agora é desenvolver um modelo de negócios que gere receita suficiente para em breve financiar 1 bilhão de usuários semanais.” Ainda não está claro como isso se dará. “Os dados sobre assinaturas sugerem que elas não serão suficientes para cobrir os custos”, diz Cox. Por isso a OpenAI está avaliando alternativas.
Outros concorrentes
Cox diz que o mercado passa por uma espécie de divisão: de um lado os modelos de código aberto leves, baratos de produzir e de usar, que podem ser adaptados para tarefas específicas, e, do outro, os modelos proprietários sofisticados, grandes e de uso geral de empresas como a Alphabet e a OpenAI.
Assim, a batalha pela liderança no setor de IA não envolve apenas as duas empresas dos Estados Unidos. Cox diz que a situação atual, na comparação com 2022, é de uma competição significativamente maior entre atores consolidados, como a Alphabet, e novas startups, como a Anthropic quando se trata dos modelos mais avançados.
Além disso, há a concorrência crescente entre modelos de código aberto dos EUA, da China e da Europa, por exemplo da francesa Mistral. Esses modelos não tentam competir diretamente com os modelos de grandes proprietários sofisticados.
Há avanços também na China. Por exemplo, a empresa Baidu, conhecida pelo seu mecanismo de busca, apresentou seu novo modelo de IA, o DeepSeek , em setembro do ano passado. De acordo com a empresa, seu desempenho está em pé de igualdade com o GPT-5 da OpenAI e o Gemini 2.5 Pro da Alphabet.
Em novembro, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, alertou que a China “está apenas nanossegundos atrás dos Estados Unidos” e pode vencer a corrida pela supremacia na IA.
