À medida que a fusão nuclear no centro de uma estrela progride, o brilho, o tamanho e a cor também mudam. Os astrofísicos podem derivar de tais propriedades informações importantes sobre a idade e a massa de uma estrela. Essas estrelas com massa significativamente maior que o nosso Sol são azuis-brancas ou vermelhas – a transição do vermelho para o amarelo e o laranja é relativamente rápida para escalas de tempo astronômicas.

Astrofísicos da Universidade Friedrich Schiller de Jena (Alemanha), juntamente com colegas de instituições dos EUA e da Itália, agora detectaram e dataram com sucesso essa mudança de cor em uma estrela brilhante. Com várias fontes históricas, eles descobriram que Betelgeuse – a estrela gigante vermelha brilhante no canto superior esquerdo da constelação de Órion – era amarelo-laranja há cerca de 2 mil anos. Eles relatam seus resultados em artigo publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

A constelação de Órion. Betelgeuse aparece marcada com a letra Alfa (alto, esquerda). Crédito: Markus Mugrauer

Fontes do mundo antigo

O astrônomo da corte chinesa Sima Qian escreveu por volta de 100 a.C. sobre as cores das estrelas: branco é como Sírius, vermelho como Antares, amarelo como Betelgeuse, azul como Bellatrix. “A partir dessas especificações, pode-se concluir que Betelgeuse naquela época estava em cores entre o azul-branco de Sírius e Bellatrix e o vermelho de Antares”, disse o prof. Ralph Neuhäuser, astrônomo da Universidade de Jena (Alemanha) e primeiro autor do artigo.

Independentemente do relato acima, o estudioso romano Higino descreveu cerca de 100 anos depois que Betelgeuse tinha a cor amarelo-alaranjada de Saturno – assim, pode-se quantificar a antiga cor de Betelgeuse com ainda mais precisão.

Outros autores da Antiguidade, como Ptolomeu, trazem mais indicações de que Betelgeuse em sua época não pertencia ao grupo de estrelas vermelhas brilhantes como Antares (na constelação de Escorpião) e Aldebarã (na constelação de Touro).

O nome grego Antares significa “como Marte” em cores; essa estrela foi de fato relatada como vermelha e comparada a Marte desde milênios atrás por culturas ao redor do mundo. “De uma declaração do astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, pode-se concluir que, no século 16, Betelgeuse era mais vermelha do que Aldebarã”, observou Neuhäuser. Hoje, Betelgeuse é comparável em brilho e cor a Antares.

Fases finais da evolução

Ainda faltam 1,5 milhão de anos para Betelgeuse explodir como supernova

Neuhäuser incluiu observações celestes históricas em sua pesquisa astrofísica nos últimos dez anos – este campo é chamado de “Terra-Astronomia”. Ele colabora de perto com colegas de línguas, história e filosofia natural, incluindo sua esposa Dagmar.

“A visão de volta no tempo oferece fortes impulsos e resultados importantes”, acrescentou Neuhäuser. “Há um grande número de problemas astrofísicos que dificilmente podem ser resolvidos sem observações históricas.”

O que essas transmissões históricas nos dizem sobre Betelgeuse? “O próprio fato de que ela mudou de cor em dois milênios de amarelo-laranja para vermelho nos diz, juntamente com cálculos teóricos, que ela tem 14 vezes a massa do nosso Sol – e a massa é o principal parâmetro que define a evolução das estrelas”, explicou Neuhauser. “Betelgeuse tem agora 14 milhões de anos e está em suas fases evolutivas tardias. Em cerca de 1,5 milhão de anos, ela finalmente explodirá como supernova.”