03/08/2025 - 13:30
SchwuZ, em Berlim, opera no vermelho e entrou em recuperação judicial. Casa noturna foi fundada há quase meio século e é lendária na cena.Boate LGBTQ+ mais antiga da Alemanha, o SchwuZ, fundado em 1977 em Berlim, pode ter que fechar as portas. O espaço é lendário na cena noturna da capital, que vem enfrentando problemas financeiros crescentes, num fenômeno que ficou conhecido como Clubsterben, ou “morte das baladas”.
“Querida comunidade do Schwutz: agora é sério, muito sério”, disse o clube na última quinta-feira (31/07), ao anunciar que entrou em recuperação judicial. “Tentamos reverter a situação, com mudanças nas estruturas e na programação, e separando-nos dolorosamente de funcionários.”
Nos últimos meses, o SchwuZ demitiu um terço de seu pessoal, enxugou a programação e substituiu o caixa e a chapelaria por sistemas operados pelos próprios visitantes.
Agora, a gerência afirma ter “algumas poucas semanas” para sanear as contas e tirar o caixa do vermelho. Até lá, o local continuará a abrir suas portas normalmente, pelo menos até outubro.
Segundo a gerente do espaço, Katja Jäger, que assumiu no início de 2025, o clube opera no vermelho todos os meses, com um déficit de entre 30 mil e 60 mil euros, e a crise já vem desde o ano anterior. Ao portal online LGBTQ+ Siegessaeule, ela afirmou que o público encolheu, e que hoje o local às vezes só atrai cerca de 400 pessoas numa sexta-feira – metade do que seria necessário.
“Mais de 70 funcionários queers, centenas de artistas, público de milhares. Se vai dar para continuar, é algo que também depende de vocês [frequentadores]”, afirmou o SchwuZ via redes sociais. “Precisamos de vocês agora: voltem, dancem, festejem, façam barulho. Juntos, podemos decidir nas próximas semanas se este lugar tem um futuro.”
O nome da balada, que foi criada na antiga Berlim Ocidental, é uma abreviação de “Schwulen-Zentrum” (“centro dos gays”, em tradução livre). O clube foi crucial para a primeira parada gay de Berlim, em 1979, e a criação da própria Siegessaeule, revista online que também é referência na cena.
“Morte das baladas”
Assim como o SchwuZ, outras boates de Berlim sofrem com a inflação, alta nos custos operacionais e uma mudança profunda na cultura de entretenimento pós-pandemia.
As pessoas estão bebendo menos e já não frequentam tanto casas noturnas quanto antes, por razões que também são de ordem econômica. Some-se, a isso, a popularidade crescente de aplicativos de relacionamento, que tomaram espaço das baladas na socialização, e a especulação imobiliária que elevou os preços dos aluguéis dos espaços.
Outro fator que tem impulsionado o fechamento de casas noturnas, especialmente as de pequeno porte, é a competição com grandes festivais com DJs famosos.
Há poucos dias, a capital alemã perdeu outro espaço histórico da cena LGBTQ+: o quarentão Die Busche, em Friedrichshain, antiga Berlim Oriental.
Afetados pelo estresse econômico mais amplo, os clubes podem entrar em declínio da mesma forma que os tradicionais botecos pés-sujos de Berlim, as “Kneipen”, disse Ulrich Wombacher, cofundador do Watergate – que também fechou as portas na virada do ano–, numa entrevista em setembro de 2024 ao jornal Berliner Zeitung.
Outrora onipresentes na paisagem urbana berlinense, as “Kneipen” já ocuparam 20 mil imóveis na cidade, mas hoje são cerca de 500, segundo a Associação de Hotéis e Restaurantes de Berlim, que também aponta despejos e a alta dos aluguéis como causas.
No ano passado, a Unesco reconheceu a cena techno de Berlim e seus clubes como patrimônio cultural da humanidade.
ra (DW, ots)