A descoberta é um dos mais importantes feitos científicos dos últimos tempos e promete dar novo impulso à física.

Em 1964, o físico Peter Higgs, da Universidade de Edimburgo (Escócia), enviou um estudo à Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em inglês) no qual propunha a existência de uma partícula subatômica que conferiria massa à matéria – um ingrediente que daria o encaixe perfeito ao Modelo Padrão, a teoria que explica as partículas e forças presentes no universo. Na época, a ideia gerou controvérsia – editores de uma das mais importantes publicações científicas internacionais, o Physics Letters, avaliaram que ela “não tinha relevância óbvia para a física”. Mas outros cientistas chegaram, por meios variados, a conclusões semelhantes, e com o passar dos anos a procura pelo chamado “bóson de Higgs” ganhou o status de mais importante meta da física nas últimas décadas.

A busca pode ter acabado, anunciaram cientistas do Cern no dia 4 de julho, em Genebra. Depois de meses de suspense, eles declararam que dois experimentos independentes realizados no Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) – o maior acelerador de partículas do mundo, localizado na fronteira entre Suíça e França – concluíram que existe uma nova partícula subatômica, com massa de cerca de 125,5 gigaeletron volts (GeV), que se encaixaria no perfil delineado para o bóson de Higgs. A massa detectada é 133 vezes mais pesada do que os prótons no centro de cada átomo.

A equipe do Cern manteve uma cautela cientificamente correta ao ressaltar que a descoberta ainda não está absolutamente confirmada – para tanto, os cientistas vão precisar de no mínimo mais três anos de pesquisas –, mas seu grau de certeza é maior do que 99,9999%. Falta também determinar outras características da partícula e, inclusive, se existe um ou mais tipos de bóson de Higgs. De qualquer modo, havia dois vitoriosos indiscutíveis no evento do anúncio preparado pelo Cern. Um deles era o próprio Peter Higgs, que, aos 83 anos, torna-se um forte candidato ao Prêmio Nobel de Física. Muito emocionado, ele disse na ocasião que não esperava estar vivo quando a partícula associada ao seu nome fosse encontrada. O outro era o LHC, um empreendimento internacional de cerca de US$ 4 bilhões que, em meio à severa crise econômica europeia e a boatos sobre cortes orçamentários, começa a mostrar serviço. Suas outras pesquisas (relacionadas a temas como buracos negros, matéria escura e outras dimensões), aliadas aos resultados já obtidos, prometem de fato fazer avançar a compreensão científica do homem sobre o universo.