17/01/2024 - 16:32
Desde a ovelha Dolly, cientistas já clonaram vários animais com sucesso -menos primatas. Agora, na China, cientista afirmam ter clonado um macaco rhesus, que já estaria com dois anos.A clonagemde primatas é um desafio complicado: na maioria das tentativas, os embriões e os recém-nascidos morrem. Agora, porém, pesquisadores chineses afirmam ter clonado um macaco rhesus, que já estaria com dois anos de idade. O animal macho, que recebeu o nome de Retro, é saudável e gosta de brincar. A notícia foi anunciada em umapesquisapublicada pela revista científica Nature Communications.
Desde que a ovelha clonada Dolly nasceu, em 1996, os cientistas têm usado a Transferência Nuclear de Células Somáticas (SCNT) para clonar mais de 20 espécies de mamíferos diferentes, como vacas e porcos. Mas com os macacos isso nunca deu muito certo.
Além disso, a taxa de sobrevivência dos animais clonados é baixa – apenas as vacas têm melhores chances. Muitos sofrem lesões graves nos músculos ou nos órgãos, o que reduz drasticamente suas vidas. Isso não foi diferente com os poucos primatas clonados que nasceram vivos. Até que os macacos-caranguejeiros clonados Zhong Zhong e Hua Hua viram a luz do dia no Instituto de Neurociência da Academia Chinesa de Ciências, em Xangai, no começo de 2018. Os dois macacos foram considerados uma sensação. A nova história de sucesso vem do mesmo instituto.
Um passo à frente na pesquisa?
Os cientistas chineses perceberam que as placentas que fornecem os nutrientes para o crescimento dos embriões clonados apresentavam anomalias em comparação com as placentas da fertilização in vitro de primatas não clonados.
Então,as células da futura placenta foram substituidas por células de um embrião saudável e não clonado. A técnica melhorou a clonagem por meio da SCNT e resultou no nascimento de um macaco rhesus clonado.
“O estudo e a tecnologia apresentados nele são uma história muito especial e biologicamente muito interessante”, diz o biólogo Rüdiger Behr, que trabalha com pesquisa de células-tronco e embriões no Centro Alemão de Primatas. “Tenho minhas dúvidas de que algo novo tenha sido demonstrado aqui e que possa ter uma ampla aplicação na comunidade científica.”
De acordo com Behr, os pesquisadores chineses usaram uma técnica que apenas alguns laboratórios no mundo podem realizar. “Foi criado um embrião que consiste em uma combinação de uma parte clonada e outra não clonada. Desenvolver um embrião clonado já é difícil”.
Como a clonagem funciona e por que é tão difícil?
O desafio de criar uma cópia genética exata, ou seja, um clone, de um organismo vivo complexo é demonstrado pela curta expectativa de vida e pela saúde precária da maioria dos animais clonados.
Na transferência nuclear de células somáticas, o núcleo de uma célula somática, por exemplo, uma célula nervosa, é transplantado em um óvulo cujo núcleo foi removido anteriormente. “Se o núcleo de uma célula somática é transferido para um óvulo enucleado, o óvulo é capaz de restaurar esse núcleo da célula somática para um estado que funciona como um óvulo fertilizado”, explica Behr.
O óvulo fertilizado começa a se dividir, produzindo cópias exatas de si mesmo. Entretanto, à medida que o embrião se desenvolve, as células se diferenciam cada vez mais: em células da pele, do coração, musculares ou nervosas. A informação genética nos núcleos de cada uma dessas células é a mesma. Mas nem todos os genes são lidos. Essa é a única razão pela qual diferentes tipos de células se desenvolvem.
O óvulo reprograma o núcleo da célula do corpo inserida para que todos os genes possam ser lidos novamente. Como um computador que é reiniciado, a célula-ovo reinicia o núcleo da célula para começar – pelo menos em teoria. “Às vezes, isso não funciona muito bem”, diz o biólogo Behr. É por isso que a eficiência da clonagem ainda é muito baixa.
É mais difícil clonar primatas?
O estudo atual não é exceção em termos de eficiência: dos 484 embriões usados, um animal nasceu vivo. É quase impossível determinar se a nova técnica foi o motivo do nascimento ou se foi mera coincidência, diz Behr.
No entanto, Rüdiger Behr não acredita que seja mais difícil clonar primatas do que outros animais: “Há pouquíssimas instituições no mundo que são capazes de realizar tais experimentos com primatas. Na minha opinião, a clonagem é difícil, pois temos pouca experiência com a clonagem de macacos”. A criação de primatas é cara e consome muito tempo, ao contrário da pesquisa com camundongos, por exemplo. E por isso, também, o progresso tem sido limitado, diz Behr.
Por que clonar macacos?
Os pesquisadores estão muito interessados em macacos clonados. Como esses animais e os seres humanos são muito parecidos, eles são usados para pesquisas sobre muitas doenças, como Alzheimer e Parkinson. Um grupo de macacos clonados e, portanto, geneticamente idênticos, ofereceria resultados mais precisos.
“Quando eu era estudante de doutorado, não conseguia aceitar que os macacos pudessem ser clonados”, admite Behr. Para ele, isso parecia ser uma fronteira ética, pois são animais muito próximos de nós, humanos, muito sensíveis à dor.
“Agora, tenho uma visão mais ampla e acho que há situações em que a clonagem de macacos pode fazer sentido: para busca de tratamento para doenças para as quais não há terapia e que estão associadas a grande sofrimento, por exemplo. Também como terapias gênicas para cegueira, surdez e para doenças cardíacas e distúrbios metabólicos”, diz Behr.
Mas ninguém sabe se a pesquisa com macacos clonados pode realmente reduzir ou evitar sofrimento. Behr, portanto, é cauteloso: “pode funcionar, mas não sei”.