20/08/2025 - 17:22
Sob o asfalto e o movimento incessante de São Paulo, existe uma cidade subterrânea que poucos conhecem. Um labirinto de túneis que jamais viram um trem e plataformas que nunca receberam um passageiro — vestígios de um futuro planejado há 50 anos, mas que tomou outros rumos.
Um desses lugares é a plataforma fantasma sob a estação Pedro II. Em noites geladas de inverno, este espaço, originalmente projetado para a Linha Amarela, ganha uma nova função: transforma-se no abrigo “Noite Solidária”, acolhendo até 150 pessoas em situação de rua com cama, refeições quentes e um teto seguro.
“Isso aqui é muito legal. Podia ter no inverno direto, né? Mas só tem quando a temperatura cai abaixo de 13 graus”, conta Paulo Francisco de Oliveira, um dos abrigados.
Um mapa de segredos sob os trilhos
Desde o início de sua operação, há cinco décadas, o traçado do metrô paulistano foi constantemente adaptado ao crescimento imprevisível da cidade. O resultado é uma rede de “cicatrizes” de engenharia, estruturas prontas que aguardam trens que nunca chegaram.
“Essa é a razão pela qual temos a chamada plataforma secreta aqui embaixo”, explica o gerente de projetos João Carlos Santos. “Na engenharia da época, havia a preocupação em já deixar projetada a espera para uma linha futura, para não ter que demolir a estação. Como não foi utilizada, ela ganhou um novo uso.”
A poucos passos dos passageiros apressados na estação Paraíso, por exemplo, esconde-se o “ramal Moema”. Uma bifurcação da Linha Azul que levaria ao bairro de mesmo nome, mas que hoje serve apenas como estacionamento para maquinário de manutenção.
Descendo ainda mais, no coração do Vale do Anhangabaú, a estação São Bento guarda seus próprios segredos. A 32 metros de profundidade, abaixo até mesmo do leito do rio que dá nome ao vale, túneis maciços conhecidos como “diafragma” isolam a estação, mantendo-a firme e seca.
Com o tempo, esses subterrâneos ganharam fama, alimentando lendas urbanas sobre assombrações e mistérios. Para os engenheiros, no entanto, são apenas o testemunho de um sistema vivo, que precisou se adaptar às transformações de uma metrópole em constante evolução.