Brasil aguarda permissão para retirar 28 cidadãos do enclave palestino através do Cairo, mas diz temer que se tornem refugiados no país. Voos da FAB repatriam centenas de brasileiros de Israel.Uma parte dos brasileiros que se encontram na Faixa de Gaza, fortemente atingida por ataques israelenses em represália aos atos terroristas do Hamas, será abrigada numa escola católica, informou nesta quarta-feira (10/10) o embaixador brasileiro no Território Ocupado da Palestina, Alessandro Candeas.

Entre os problemas para a retirada está o fato de Israel ter bombardeado a saída através da qual as autoridades planejavam retirar os brasileiros, além de o Egito hesitar em autorizar a passagem através de seu território.

Segundo o embaixador, o governo brasileiro informou as autoridades israelenses sobre a decisão de abrigar os brasileiros na escola, para evitar que o local se torne alvo de bombardeios. Outros brasileiros em Gaza disseram que vão aguardar em suas casas até o fim das negociações para a retirada de todos os seus compatriotas da região.

“Estamos hospedando 13 integrantes do grupo de brasileiros numa escola católica: Sister Rosary School. Os 15 restantes preferiram aguardar em suas casas. Informaremos Israel deste fato, a fim de que o local não seja bombardeado”, informou Candeas.

A mesma escola já foi alvo de um bombardeio israelense em 2021, numa ofensiva que causou danos ao edifício. À época, o Exército israelense alegou que o local era usado como abrigo por terroristas do Hamas.

Segundo Candeas, 28 brasileiros (15 crianças, sete mulheres e seis homens) em Gaza expressaram o desejo de voltar. Outros dois que haviam se registrado no Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, abriram mão de participar da retirada.

A Faixa de Gaza vive uma crise humanitária. A escassez de suprimentos vitais agravou a situação no enclave à medida que se intensificam os bombardeios israelenses à região.

Egito teme “refugiados” em seu território

A falta de energia elétrica em Gaza pode prejudicar a comunicação com os brasileiros, caso seus telefones celulares fiquem sem bateria, mas, segundo Candeas, alguns estão conseguindo economizar a carga de suas baterias.

O Brasil pretende retirar seus cidadãos numa viagem de ônibus através da fronteira com o Egito. Em seguida, o grupo deverá ser levado até Cairo, de onde um avião os transportará de volta para o Brasil. O Itamaraty assegurou que toda a logística para o resgate já está pronta.

O Egito, porém ainda não autorizou a passagem dos brasileiros por seu território, temendo que alguns se tornem refugiados no país. “Provavelmente, essa é a dificuldade que eles estão apresentando para não responder ao nosso pedido de passagem”, disse o embaixador.

“Os nossos brasileiros não vão se transformar em imigrantes, nem refugiados. Nós vamos passar com eles pela fronteira, levar a um avião. O avião vai resgatar e tirá-los do Egito. Então, não, essa preocupação deles não procede.”

Os Estados Unidos e outros países com número maior de cidadãos em Gaza também negociam a retirada através do Egito, o que pode gerar entraves para a evacuação dos brasileiros. Está sendo cogitada a emissão de 2 mil salvo-condutos por dia para as travessias de fronteira, mas essa possibilidade ainda não foi confirmada.

Israel bombardeou rota de fuga

Nesta terça-feira, Israel bombardeou a passagem para fora da Faixa de Gaza próximo à cidade de Rafah, na fronteira com o norte do Egito, que o Brasil planejava usar na retirada brasileiros do enclave.

Após o inicio do conflito com o Hamas, Israel bloqueou as fronteiras do território palestino e já teria bombardeado a rota perto de Rafah ao menos três vezes. A passagem de pessoas da Faixa de Gaza para Israel é fortemente controlada, em razão de um bloqueio imposto pelo Egito e por Israel.

O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, disse que seu país vem insistindo junto aos parceiros regionais e internacionais por uma solução negociada para o conflito. Ele afirmou que não permitirá que a questão seja resolvida “às custas de terceiros”, em uma aparente referência ao risco de que parte dos mais de 2 milhões de habitantes de Gaza tentem fugir para o território egípcio.

O Egito é contra a criação de um corredor humanitário para a passagem de refugiados, ao mesmo tempo em que negocia com os Estados Unidos e outras nações o envio de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza através da fronteira.

Brasileiros em Israel

Esta operação de resgate de cidadãos nomeada “Voltando em Paz”é a maior de uma zona de guerra já realizada pelo Brasil: quase 3 mil brasileiros, 60% deles turistas, pediram repatriação de Israel.

A Força Aérea Brasileira (FAB) vem realizando voos diários entre os dois países. Na madrugada desta quinta-feira, 214 passageiros que estavam retidos em Jerusalém desde o início do conflito chegaram ao aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.

Até o domingo, outros cinco voos da FAB devem deixar Israel rumo ao Brasil. O Itamaraty informou que os três grupos prioritários no processo de repatriação são idosos, grávidas e crianças. Até o momento foram confirmadas as mortes de dois brasileiros nos ataques terroristas do Hamas a Israel; uma jovem ainda está desaparecida.

Possibilidade de haver reféns brasileiros

Até o momento, há relatos conflitantes sobre eventuais cidadãos do Brasil entre os reféns do Hamas. O Ministério da Defesa de Israel informou nesta quarta-feira havia brasileiros entre os reféns que o grupo terrorista palestino Hamas fez durante seu ataque sem precedentes a Israel.

Um vídeo publicado pelo porta-voz das Forças Armadas israelenses, Jonathan Conricus, mencionou a presença de brasileiros entre os reféns, muitos com dupla nacionalidade. Mais tarde, porém, Israel voltou atrás quanto à certeza de reféns brasileiros.

O Itamaraty, por sua vez, não confirmou que brasileiros tenham sido sequestrados e levados para a Faixa de Gaza. O órgão ainda busca informações concretas por meio da embaixada do Brasil em Tel Aviv.

Entre os reféns estariam americanos, britânicos, franceses, alemães, italianos, argentinos e ucranianos, segundo Conricus. Israel calcula que entre 100 e 150 indivíduos são mantidos como reféns pelos terroristas.

rc/av (ots)