26/08/2022 - 10:48
Sem adubo, quase nada acontece no campo. Para obter um rendimento economicamente sustentável, um agricultor precisa reavivar a fertilidade dos solos, já bastante esgotados, com o emprego de fertilizantes, e há diversas décadas se utilizam para tal sobretudo produtos artificiais.
Indispensável não é só o nitrogênio, que promove o crescimento vegetal, mas também os outros macronutrientes primários (fósforo, potássio) e os secundários (enxofre, magnésio, cálcio). Nos adubos artificiais, sua dosagem pode ser adaptada exatamente às necessidades locais.
Até certo ponto, um fertilizante orgânico também é capaz de desempenhar essa função. Os agricultores espalham esterco e urina de diversos tipos de animais por suas plantações, muitas vezes para desgosto dos vizinhos, sobretudo devido ao cheiro de amoníaco do chorume (adubo líquido), que paira durante dias, e abrir a janela para ventilar só piora a situação.
Estrume e chorume em alta
Até o momento, a diretriz da política alemã tem sido reduzir a quantidade de adubo animal nos campos. Não por causa do mau cheiro, mas para proteção da água no solo. Contudo, este é outro ponto em que a invasão da Ucrânia pela vizinha Rússia frustrou as boas intenções, já que para produzir fertilizantes artificiais é necessário gás, combustível fóssil que a guerra tornou escasso e cada vez mais caro.
Assim, os tão malquistos estrume e chorume ganham novo status. A Associação dos Agricultores Alemães (DBV) confirma que esses dejetos da pecuária voltaram a ter grande demanda, diante da alta dos adubos artificiais. Não só o seu preço triplicou ou quadruplicou em relação ao ano anterior; também está difícil sequer encontrá-los.
“Se o fertilizante natural se torna mais caro e mais escasso, todas as fontes orgânicas de nitrogênio ganham valor e atratividade”, comentou à agência de notícias DPA o secretário-geral da DBV, Bernhard Krüsken. O movimento nos mercados de adubos é grande: “Bolsas de adubo apresentam demanda mais intensa. Isso também se expressa no aumento dos preços de venda e no fato de o produto em parte estar sendo transportado por distâncias maiores do que antes.”
O dado é confirmado por Edelhard Brinkmann, do Banco de Adubos Weser-Ems, atuante no noroeste da Alemanha. Segundo ele, a procura por fertilizantes orgânicos “cresceu fortemente” no último ano, não só devido ao encarecimento do gás, mas também à volatilidade dos preços do produto: “O que custa hoje 900 euros, você consegue amanhã por 600” – e vice-versa também, claro.
Adubos orgânicos não são tão bons quanto artificiais
Um banco de adubos é uma espécie de corretora que coloca em contato fornecedores e compradores, num mercado relativamente desorganizado. O Weser-Ems tem uma frota de veículos própria e leva o chorume de uma fazenda onde ele é supérfluo, a outra onde é urgentemente necessário.
Os custos são repartidos entre o vendedor e o comprador, explica Brinkmann. Pois muitos agricultores ficam felicíssimos de poder se livrar dos excrementos de seus animais: eles não podem simplesmente espalhá-los pelos campos, já que há uma quota máxima para a descarga de macronutrientes primários e secundários, a fim de proteger a vizinhança e, sobretudo, a água potável.
Um fator complicador, porém, é a atual tendência de reduzir a criação de gado, como contribuição à proteção climática. O ministro alemão da Agricultura, Cem Özdemir, comentou em entrevista à TV no fim de julho: “Precisamos de menos animais, precisamos distribuí-los melhor pelas áreas.” Como a mudança climática é de fabricação humana, cabe aos seres humanos cuidar para que os efeitos não sejam tão drásticos, “por exemplo, comendo menos carne”, lembrou o político verde.
Ano após ano, até 3 milhões de toneladas de nitrogênio puro são espalhados pelos campos da Alemanha, informa a DBV. Mesmo que a criação de gado não fosse reduzida, como acontece atualmente, não será possível alcançar essa cifra apenas com chorume, compostagem ou resíduos da produção de biogás.
“Para esta estação, ainda estivemos mais ou menos abastecidos, mas o próximo ano nos preocupa”, observa Bernhard Krüsken. Em caso de escassez dos fertilizantes minerais nitrogenados, “veremos colheitas menores”: um corte pela metade da adubagem, por exemplo, resulta em safras de 20% a 25% menores.
“Se estamos falando do inverno e da distribuição do gás, precisamos ter também em mente que os adubos são responsáveis pelo abastecimento de alimentos”, alerta o secretário-geral da associação agrícola DBV.