10/02/2023 - 12:55
Ossos fósseis de duas espécies de pinguins recém-descritos, um deles considerado o maior pinguim que já existiu – pesando mais de 150 quilos, mais de três vezes o tamanho dos maiores pinguins vivos – foram desenterrados na Nova Zelândia.
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Uma equipe internacional relatou a descoberta em artigo publicado na revista Journal of Paleontology. O autor sênior do artigo, Alan Tennyson, do Museu da Nova Zelândia Te Papa Tongarewa, descobriu os fósseis em pedras de praia de 57 milhões de anos em North Otago, na Ilha Sul da Nova Zelândia, entre 2016 e 2017.
Os fósseis foram então extraídos por Al Manning. Eles foram identificados como tendo entre 59,5 e 55,5 milhões de anos, marcando sua existência cerca de 5 milhões a 10 milhões de anos após a extinção do final do Cretáceo, que levou à extinção dos dinossauros não aviários.
A equipe usou scanners a laser para criar modelos digitais dos ossos e compará-los com outras espécies fósseis, pássaros mergulhadores voadores como araus e pinguins modernos. Para estimar o tamanho da nova espécie, a equipe mediu centenas de ossos de pinguins modernos e calculou uma regressão usando as dimensões dos ossos das nadadeiras para prever o peso.
Ilustrações de esqueletos de Kumimanu fordycei, Petradyptes stonehousei e um pinguim-imperador moderno mostrando os tamanhos das novas espécies fósseis. Crédito: Drª Simone Giovanardi
Evidências surpreendentes
Eles concluíram que os maiores ossos de nadadeiras pertencem a um pinguim que pesou surpreendentes 154 quilos. Em comparação, os pinguins-imperadores, os mais altos e pesados de todos os pinguins vivos, normalmente pesam entre 22 kg e 45 kg.
“Os fósseis nos fornecem evidências da história da vida e, às vezes, essas evidências são realmente surpreendentes”, disse o coautor dr. Daniel Field, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge (Reino Unido). “Muitos dos primeiros fósseis de pinguins atingiram tamanhos enormes, superando facilmente os maiores pinguins vivos hoje. Nossa nova espécie, Kumimanu fordycei, é o maior pinguim fóssil já descoberto – com aproximadamente 350 libras [158,8 quilos], teria pesado mais do que o [jogador de basquete] Shaquille O’Neal no auge de seu domínio!”
A equipe batizou a nova espécie de Kumimanu fordycei em homenagem ao dr. R. Ewan Fordyce, professor emérito da Universidade de Otago (Nova Zelândia). “Ewan Fordyce é uma lenda em nosso campo, mas também um dos mentores mais generosos que já conheci”, disse o primeiro autor, dr. Daniel Ksepka, do Bruce Museum (EUA). “Sem o programa de campo de Ewan, nem saberíamos que existem muitas espécies fósseis icônicas, então é justo que ele tenha seu próprio homônimo de pinguim.”
Gigantismo no início evolutivo
Vários espécimes de uma segunda espécie de pinguim também foram encontrados, fornecendo uma visão detalhada do esqueleto. Denominado Petradyptes stonehousei, ele pesava 50 kg – menor que o Kumimanu fordycei, mas ainda bem acima do peso de um pinguim-imperador. O nome combina o grego “petra” para rocha e “dyptes” para mergulhador, uma brincadeira com a ave mergulhadora sendo preservada em uma pedra. “Stonehousei” homenageia o falecido dr. Bernard Stonehouse (1926–2014), a primeira pessoa a observar o ciclo reprodutivo completo do pinguim-imperador, um marco importante na biologia dos pinguins.
Essas duas espécies recém-descritas mostram que os pinguins ficaram muito grandes no início de sua história evolutiva, milhões de anos antes de ajustarem seu aparelho de nadadeiras. A equipe observou que as duas espécies retinham características primitivas, como ossos das nadadeiras mais finos e pontos de inserção muscular que se assemelham aos dos pássaros voadores.
Eficiência na água
Quando perguntado sobre por que os primeiros pinguins cresceram em proporções titânicas, Ksepka especulou que isso os tornava mais eficientes na água. “O tamanho traz muitas vantagens”, disse ele. “Um pinguim maior poderia capturar presas maiores e, mais importante, teria sido melhor em conservar a temperatura do corpo em águas frias. É possível que a quebra da barreira do tamanho de 100 libras [45,4 kg] tenha permitido que os primeiros pinguins se espalhassem da Nova Zelândia para outras partes do mundo.”
“Quando começamos a pensar nesses achados não como ossos isolados, mas como partes de um animal vivo inteiro, uma imagem começa a se formar”, disse o coautor dr. Daniel Thomas, da Universidade Massey, em Auckland (Nova Zelândia). “Os grandes animais marinhos de sangue quente que vivem hoje podem mergulhar a grandes profundidades. Isso levanta questões sobre se o Kumimanu fordycei tinha uma ecologia que os pinguins de hoje não têm, sendo capaz de alcançar águas mais profundas e encontrar comida que não é acessível para pinguins vivos.”
“O Kumimanu fordycei teria sido uma visão absolutamente surpreendente nas praias da Nova Zelândia 57 milhões de anos atrás, e a combinação de seu tamanho e a natureza incompleta de seus restos fósseis o torna um dos fósseis de aves mais intrigantes já encontrados”, disse Field, que também é curador de ornitologia no Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge. “Espero que futuras descobertas de fósseis lancem mais luz sobre a biologia desse incrível pinguim primitivo.”