02/03/2023 - 15:09
Um estudo de uma equipe internacional e interdisciplinar liderada pelo dr. Ralph Araque Gonzalez, arqueólogo da Faculdade de Humanidades da Universidade de Freiburg (Alemanha), provou que ferramentas de aço já eram usadas na Europa há cerca de 2.900 anos. O trabalho foi publicado na revista Journal of Archaeological Science.
- Corpos foram mumificados em Portugal há 8 mil anos
- ‘Stonehenge ibérica’ é descoberta no sudoeste da Espanha
- Dieta variada: neandertais também comiam caranguejos
Por meio de análises geoquímicas, os pesquisadores conseguiram provar que estelas de pedra da Península Ibérica, que datam da fase final da Idade do Bronze, apresentam gravuras complexas que só poderiam ter sido feitas com aço temperado. Isto foi corroborado por análises metalográficas de um cinzel de ferro do mesmo período e região (Rocha do Vigio, Portugal, ca. 900 a.C.) que mostrou o teor de carbono necessário para ser um aço adequado. O resultado também foi confirmado experimentalmente por meio de ensaios com cinzéis de vários materiais: somente o cinzel de aço temperado foi capaz de gravar adequadamente a pedra.
Até recentemente, supunha-se que não havia sido possível produzir aço de qualidade adequada no início da Idade do Ferro e certamente não no final da Idade do Bronze, e que esse aço só se difundiu na Europa sob o Império Romano.
Consequências
“O cinzel da Rocha do Vigio e o contexto onde ele foi encontrado mostram que a metalurgia do ferro, incluindo a produção e têmpera do aço, foram provavelmente desenvolvimentos nativos de pequenas comunidades descentralizadas da Península Ibérica, e não devido à influência de processos de colonização posteriores. Isso também tem consequências para a avaliação arqueológica da metalurgia do ferro e esculturas de quartzito em outras regiões do mundo”, explicou Araque Gonzalez.
O registro arqueológico da Ibéria da Idade do Bronze tardia (c. 1300-800 a.C.) é fragmentário em muitas partes da Península Ibérica: restos esparsos de assentamentos e quase nenhum enterro detectável são complementados por vestígios de acúmulo de metal e restos de atividades de mineração. Tendo isto em conta, as estelas ocidentais ibéricas com as suas representações de figuras antropomórficas, animais e objetos selecionados assumem uma importância ímpar para a investigação dessa época.
Até agora, os estudos das rochas reais das quais essas estelas foram feitas para obter informações sobre o uso de materiais e ferramentas foram a exceção. Araque Gonzalez e seus colegas analisaram em profundidade a composição geológica das estelas. Isso os levou a descobrir que um número significativo de estelas não era, como se supunha, feito de quartzito, mas de silicato de quartzo-arenito.
“Assim como o quartzito, essa é uma rocha extremamente dura que não pode ser trabalhada com ferramentas de bronze ou pedra, mas apenas com aço temperado”, afirmou Araque Gonzalez.
Confirmações
A análise de um cinzel de ferro encontrado na Rocha do Vigio mostrou que os pedreiros ibéricos da Idade do Bronze tardia possuíam as ferramentas necessárias. Os pesquisadores descobriram que se tratava de um aço heterogêneo, mas surpreendentemente rico em carbono.
Para confirmarem suas descobertas, os pesquisadores também realizaram um experimento envolvendo um pedreiro profissional, um ferreiro e um fundidor de bronze, e tentaram trabalhar a rocha de que eram feitos os pilares usando cinzéis de diferentes materiais. O pedreiro não poderia trabalhar a pedra nem com a pedra, nem com os cinzéis de bronze, nem mesmo com um cinzel de ferro com ponta não temperada.
“Os povos da Idade do Bronze tardia na Península Ibérica eram capazes de temperar o aço. Caso contrário, não teriam podido trabalhar os pilares”, concluiu Araque Gonzalez como resultado da experiência.