12/12/2025 - 16:00
Meses após sofrer críticas e acusações de apropriação cultural por lançar calçado inspirado na tradicional sandália Kolhapuri, grife firmou parceria com artesãos indianos para produzir edição limitada “Made in India”.Após ser acusada de se apropriar culturalmente das tradicionais sandálias indianas Kolhapuri, a grife Prada mudou sua estratégia e decidiu lançar uma coleção limitada do calçado em parceria com artesãos locais da Índia.
O grupo italiano de luxo planeja produzir 2 mil pares das sandálias nas regiões de Maharashtra e Karnataka sob um acordo com dois órgãos apoiados pelo Estado indiano, combinando o artesanato local da Índia com a tecnologia italiana.
Segundo o chefe de responsabilidade social corporativa da empresa, Lorenzo Bertelli, cada par custará cerca de 800 euros (R$ 5 mil). Os calçados estarão disponíveis a partir de fevereiro de 2026 em 40 lojas Prada ao redor do mundo e em seu marketplace.
“Vamos misturar as capacidades padrão do fabricante original com nossas técnicas de fabricação”, disse Bertelli à agência de notícias Reuters.
Prada foi acusada de apropriação cultural
A Prada foi duramente criticada há seis meses após apresentar sandálias semelhantes ao calçado indiano do século 12, conhecido como Kolhapuri chappal, em um desfile em Milão. Apresentada apenas como “sandália de couro”, o modelo provocou indignação entre artesãos e políticos da Índia. Posteriormente, a Prada admitiu que seu design se inspirava em estilos indianos antigos e iniciou conversas com grupos locais para colaboração na fabricação.
Agora, a empresa assinou um acordo com a duas entidades estatais, a LIDCOM e a LIDKAR, que promovem o patrimônio do couro na Índia.
“Queremos ser um multiplicador de conscientização para esses chappals”, disse Bertelli, filho mais velho dos fundadores da Prada, Miuccia Prada e Patrizio Bertelli.
Uma parceria de três anos, cujos detalhes ainda estão sendo finalizados, será estabelecida para treinar artesãos locais. A iniciativa incluirá programas de capacitação na Índia e oportunidades de períodos curtos na Academia da Prada, na Itália.
As chappals tiveram origem em Maharashtra e Karnataka e são feitos à mão por pessoas de comunidades muitas vezes marginalizadas. Os artesãos esperam que a colaboração aumente a renda, atraia jovens para o ofício e preserve um patrimônio ameaçado por imitações baratas e pela queda na demanda.
“Uma vez que a Prada endosse esse artesanato como produto de luxo, certamente o efeito dominó funcionará e resultará em aumento da demanda pelo ofício”, disse Prerna Deshbhratar, diretora-geral da LIDCOM.
Bertelli afirmou que o projeto e o programa de treinamento custarão “vários milhões de euros” e que os artesãos serão remunerados de forma justa.
Desdobramentos jurídicos
O novo programa também foi celebrado após uma série de desdobramentos jurídicos na Índia. Após a Prada apresentar sua sandália sem fazer referência ao modelo indiano, a Câmara de Comércio de Maharashtra decidiu patentear as Kolhapuri para evitar que o design seja copiado no futuro.
Famosas por sua durabilidade, as tradicionais rasteirinhas já são protegidas dentro do país por um selo de indicação geográfica que proíbe que o design seja copiado sem autorização ou partilha de benefícios para fins comerciais.
O caso das sandálias Kolhapuri foi parar no Judiciário indiano. Segundo a emissora Al Jazeera, fabricantes preparavam uma ação judicial contra a Prada na Alta Corte de Bombaim.
gq (Reuters, OTS)
