24/07/2021 - 11:54
Em 2020, tosse seca e febre seriam considerados sintomas claros de covid-19. Mas se a isso fossem acrescidos dores de cabeça e membros doloridos, o diagnóstico seria, sem dúvida, de um caso clássico de gripe. Por sua vez, para a tranquilidade de muitos, coriza e dor de garganta certamente não passariam de um mero resfriado. É assim – de maneira mais ou menos simplificada – que os sintomas eram interpretados no início da pandemia de coronavírus.
Foi então que se descobriu a perda do olfato e paladar como o sinal infalível de uma infecção pelo Sars-Cov-2. Pelo menos nesse ainda se pode confiar: qualquer mudança na percepção olfativa ou gustativa deve fazer soar os alarmes de covid-19.
O mesmo não se pode dizer sobre nenhum dos outros sintomas, que são um tanto fluidos resistindo às tentativas de rastreá-los com biomarcadores ou de estabelecer um padrão baseado nos grupos sanguíneos. Acrescente-se que os sintomas podem diferir dependendo de se tratar de uma variante, de o paciente já ter sido vacinado ou não, se é jovem ou idoso, saudável ou com alguma doença crônica.
Os novos “top 5”
No Zoe Covid Symptom Study, em andamento no Reino Unido, os infectados relatam seus sintomas por meio de um aplicativo. A conclusão é que os sintomas aparentemente mudaram, o que pode se dever à variante delta, que em 12 de julho de 2021 era responsável por 99% das infecções no país. Pode ser, mas não é necessariamente.
Quais são os sintomas mais comuns entre vacinados?
De acordo com o site do programa, tanto vacinados quanto não vacinados relataram, em geral, sintomas semelhantes de covid-19: “No entanto, quem já fora imunizado relatou menos sintomas num período mais breve, sugerindo que desenvolveu quadros mais leves da doença e se recuperou mais rapidamente.”
Como é sabido atualmente, indivíduos vacinados também podem contrair o coronavírus. Mas as estatísticas confirmam que em geral apresentam apenas sintomas leves. Os dados também sugerem que a vacinação previne quadros graves ou até mesmo fatais de covid-19.
A lista atual dos principais sintomas da covid-19 após duas doses da vacina, por grau de frequência:
dor de cabeça
coriza
espirros
dor de garganta
perda de olfato
Ou seja: sintomas comumente associados a um resfriado. Assim é grande a probabilidade de uma confusão, e isso pode ter acarretado a disseminação da variante delta no Reino Unido.
Quais são os sintomas mais comuns em quem ainda não foi vacinado?
As diferenças são consideráveis. Alguns sintomas ainda estão presentes, mas ao longo de 2021 apresentaram-se mudanças em relação a cerca de um ano e meio atrás, quando a covid-19 eclodiu.
dor de cabeça
dor de garganta
coriza
febre
tosse persistente
A perda do olfato, antes um sinal inequívoco da doença, caiu para o nono lugar da lista, enquanto a falta de ar aparece bem abaixo, em 30º lugar. Tais flutuações podem indicar que os sintomas até então conhecidos mudam à medida que se desenvolvem novas variantes do vírus.
Nada de conclusões precipitadas
Em seu Coronavirus Update, o virologista alemão Christian Drosten também remete aos resultados do estudo Zoe, assim como às declarações de Tim Spector, epidemiologista e chefe da pesquisa. Mas ele acredita que a análise negligencia um ponto importante: o quadro geral de sintomas teria, de fato, mudado, mas no sentido de que há cada vez mais idosos vacinados, resultando em mais participantes jovens nos estudos.
Entre os mais jovens, os sintomas tenderiam a ser mais os de uma gripe comum, como dores de cabeça e garganta e febre leve. A tosse persistente, tão comum em pacientes mais velhos, agora é menos frequente, explica o virologista.
O fato se deveria, portanto, menos à variante delta do que ao decorrer da doença na população agora mais afetada, os mais jovens, já que a vacinação entre os mais velhos é mais difundida. “Creio que agora teremos que aguardar até que algo realmente científico seja publicado sobre o assunto”, adverte Drosten.
Não subestimar os sintomas
Tim Spector e Christian Drosten concordam em outro ponto: em caso de dúvida, ao se sentir um mal-estar, o certo é sempre fazer o teste e manter o distanciamento social.
“Creio que é esse o objetivo dessa declaração pública: lembrar à população, especialmente os mais jovens, que agora estão se infectando, que precisamos ter cuidado, mesmo quando não nos sentimos gravemente doentes”, alerta Drosten. “E que nunca devemos simplesmente pensar: ‘Ah, é só um resfriado’.”
Recentemente, o estudo Gutenberg Covid-19, da Universidade de Mainz, mostrou que mais de 40% de todos os infectados com SARS-Cov-2 ignoram a infecção. Em entrevista à DW, o autor do estudo, Philipp Wild, confirma: nem a vacinação, nem as baixas taxas de incidência devem dispensar a realização do teste, pois “trata-se de um parâmetro importante para acompanhar a dinâmica da pandemia”.
Portanto, permanecer atento e ter cautela não é uma opção, e sim uma obrigação, independente de se ter sido vacinado, testado ou recuperado de uma infecção. O estudo Gutenberg confirma a validade das atuais regras para prevenção do coronavírus: distanciamento, higiene e máscara de proteção.