29/09/2024 - 15:11
Bombardeios israelenses abalam o Líbano, resultando em centenas de civis mortos e milhares de deslocados internos. DW entrevista porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados: “Estamos indignados.”Em reação às mais recentes investidas aéreas israelenses contra o Líbano, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) aponta uma “catástrofe humanitária”. O país é um de seus maiores locais de atuação: seu primeiro escritório libanês foi inaugurado já em 1964. Desde então, a agência das Nações Unidas presta assistência à população, refugiados e apátridas.
Desde os ataques do grupo islamista palestino Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, e a escalada do conflito, o Acnur registrou pelo menos 1.540 mortos no Líbano, entre os quais, mais de 100 sírios. Só o primeiro ataque aéreo israelense em grande escala, em 23 de setembro, fez mais de 500 vítimas.
Na sexta-feira (27/09), a Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram ter bombardeado o quartel-general do Hezbollah, matando o líder da milícia xiita, Sayyed Hassan Nasrallah. O Ministério libanês da Saúde registrou outros seis mortos e 91 feridos.
Em entrevista à DW, a porta-voz do Acnur Shabia Mantoo expõe sua visão do agravamento do conflito, da falta de proteção para a população civil e das expulsões internas no Líbano, e comenta a morte de dois funcionários da Acnur: “Estamos indignados e profundamente entristecidos.”
DW: Como é a situação após os mais recentes ataques aéreos de Israel contra o Líbano?
Shabia Mantoo: As ocorrências dos últimos três dias marcam as ofensivas mais intensas contra o Líbano desde 2006. Ivo Freijsen, o representante do Acnur no país, faz referência a uma catástrofe humanitária. Os bombardeios causaram centenas de vítimas entre a população civil.
Foram mortos também dois de nossos colegas: estamos indignados e profundamente entristecidos pelo assassinato desses queridos membros da família do Acnur no Líbano e de um de seus dependentes.
A proteção dos civis é mandatória, e reiteramos o apelo do secretário-geral [da ONU, António Guterres,] a todas as partes para proteger os civis, inclusive os funcionários dos serviços humanitários, nos termos do direito humanitário internacional.
O que faz o Acnur pela população civil, refugiados e deslocados internos do Líbano?
Nós assistimos desalojados em todo o país e cooperamos de perto com autoridades e parceiros humanitários, especialmente no sul do Líbano. Disso faz parte, entre outros, a disponibilização de bens de primeira necessidade, apoio aos recém-deslocados, e colaboração com o Ministério da Saúde libanês e a Organização Mundial da Saúde (OMS) na aquisição de kits antitrauma e de equipamento médico.
O Acnur trabalha também pela ampliação para 42 do número de hospitais apoiados por nós, assim como na distribuição e alocação, no sul libanês, de artigos humanitários importantes, como colchões, cobertas e sets de cozinha. Coordenamos igualmente o apoio em dinheiro em espécie.
O Acnur também assiste Beirute na instalação de novos campos de refugiados no próprio Líbano ou na vizinha Jordânia?
Sim. Complementamos e respaldamos medidas humanitárias de âmbito nacional. Apoiamos o governo libanês na disponibilização de alojamentos.
No país vivem milhões de refugiados, a maioria da Síria. O que acontece se não só eles precisarem fugir, mas também grande parte da população local?
Tanto cidadãos libaneses como refugiados generosamente acolhidos no país sofrem com as hostilidades. Milhares de sírios e libaneses buscam refúgio da violência no Líbano e atravessam a fronteira para a Síria. Assim os refugiados que procuravam segurança se veem confrontados com se novamente expulsos. Essa dupla expulsão agrava a vulnerabilidade deles.
Há lamentáveis perdas também entre os refugiados. Sabemos de pelo menos 59 sírios mortos (dos quais 45 identificados pelo Acnur: 26 homens, 11 mulheres e 22 crianças) e 231 feridos (223 identificados: 77 homens, 72 mulheres e 82 crianças).
Como o Acnur presta assistência a quem foge do Líbano para a Síria?
Juntamente com o Crescente Vermelho Sírio-Árabe, o Acnur está presente em quatro passagens de fronteira entre Líbano e Síria para proporcionar ajuda a que chega. Nós levamos até lá água, colchões, cobertores e alimentos básicos. Nos postos fronteiriços instalados pelo Acnur em 2023, em conjunto com a OMS e o Crescente Vermelho, proporcionam-se espaços para os recém-chegados descansarem, além de informações sobre os serviços disponíveis após o ingresso, também através de 100 centros financiados pelo Acnur em todo o país.
O Acnur também fornece assistência para deslocados internos em Israel?
Até agora o governo Israel não pediu ao Acnur para avaliar as necessidades ou prestar auxílio a deslocados internos. Caso haja um pedido oficial, naturalmente estaremos à disposição para cooperar com o governo, a fim de identificar os camos específicos em que seja necessário assistência adicional.