29/04/2025 - 11:58
Relatório da Anistia Internacional diz que presidente americano vem acelerando retrocesso de direitos humanos no mundo e acusa Israel de “genocídio transmitido ao vivo”.A volta ao poder do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contribuiu para acelerar o retrocesso dos direitos humanos a nível global, segundo relatório anual da Anistia Internacional (AI), publicado nesta terça-feira (29/04).
A Anistia Internacional avalia anualmente a situação dos direitos humanos em um total de 150 países, incluindo o Brasil, cujos principais problemas, conforme a entidade, são abusos de policiais contra pessoas negras, a violência no campo, a degradação ambiental e um aumento nos casos de feminicídio.
Segundo a organização a crise global dos direitos humanos causada pelo “efeito Trump” intensificou as práticas autoritárias e a repressão de dissidentes documentadas em 2024 em todo o mundo.
“A campanha anti-direitos da administração Trump está impulsionando tendências prejudiciais já presentes, destruindo as proteções internacionais dos direitos humanos e colocando milhares de milhões em risco”, sublinhou a AI.
“Cem dias após o início do seu segundo mandato, o presidente Trump mostrou ter um desprezo absoluto pelos direitos humanos universais. O seu governo tem atacado rápida e deliberadamente instituições e iniciativas vitais dos Estados Unidos e internacionais, concebidas para tornar o nosso mundo mais seguro e justo”, afirmou a secretária-geral da AI, Agnès Callamard.
A organização aponta entre as outras razões para a deterioração a “agressão russa na Ucrânia” e o que classifica como “genocídio israelense em Gaza”, somados a “uma década de práticas autoritárias progressivas, inclusive na Europa, onde a criminalização da liberdade de expressão, o uso da violência e respostas desproporcionais àqueles que usam a desobediência civil são cada vez mais comuns”, acrescentou.
“Efeito Trump”
Em sua avaliação da situação em 150 países, a ONG aponta principalmente para a “intensificação” nos primeiros 100 dias do presidente Trump no cargo de “tendências e retrocessos profundamente enraizados” já observados em 2024.
A AI diz sobre o presidente dos EUA que sua campanha contra o reconhecimento dos direitos humanos “está alimentando tendências prejudiciais”, tornando “as salvaguardas internacionais dos direitos humanos sem sentido e colocando em risco bilhões de pessoas ao redor do mundo”.
Esse “efeito Trump” agravou os danos causados por outros líderes mundiais durante 2024, “desfazendo décadas de trabalho árduo para construir e promover direitos humanos universais para todas as pessoas e acelerando a queda da humanidade em uma nova era caracterizada por uma mistura de práticas autoritárias e ganância corporativa”.
Regressão global dos direitos humanos
A crise global dos direitos humanos acelerou “tendências destrutivas” e revelou “a tendência para práticas autoritárias e medidas repressivas cruéis” contra dissidentes ao redor do mundo, diz o documento.
O texto explica ainda que “governos ao redor do mundo tentaram fugir da responsabilidade, consolidar seu poder e incutir medo proibindo meios de comunicação, dissolvendo ou suspendendo ONGs e partidos políticos, prendendo seus críticos sob acusações infundadas de ‘terrorismo’ ou ‘extremismo’ e criminalizando defensores dos direitos humanos e outros ativistas”.
Entre os países que se envolveram em tais práticas, ele menciona Bangladesh, onde as autoridades emitiram ordens de “atirar sem aviso” contra protestos estudantis, e Moçambique, que, após eleições controversas, sofreu “a pior repressão aos protestos que viu em anos”.
A Turquia diz que “impôs proibições gerais aos protestos e continua a usar força ilegal e indiscriminada” contra manifestantes pacíficos.
“Genocídio transmitido ao vivo”
O conflito entre Israel e o Hamas é um dos destaques do relatório. A Anistia Internacional acusa Israel de cometer um “genocídio transmitido ao vivo” ao deslocar à força a maioria dos moradores de Gaza e criar deliberadamente uma catástrofe humanitária — alegações que Israel rejeitou como “mentiras descaradas”.
A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) alertou que o bloqueio israelense à ajuda humanitária se tornou um “assassino silencioso” no território palestino devastado pela guerra, com crianças e doentes sendo os que mais sofrem.
Em seu relatório anual, a Anistia Internacional afirmou que Israel está agindo com “a intenção específica de destruir os palestinos em Gaza, cometendo assim genocídio”.
“Ano após ano, alertamos para os perigos do retrocesso dos direitos humanos. Mas os eventos dos últimos doze meses – especialmente o genocídio da população palestina em Gaza, transmitido ao vivo, mas ignorado – evidenciaram o quão infernal o mundo pode ser (…) quando os Estados mais poderosos ignoram o direito internacional e as instituições multilaterais”, afirma a Anistia Internacional.
Ucrânia e Sudão
Outros conflitos aos quais o relatório se refere incluem a guerra na Ucrânia, onde “a Rússia matou mais civis ucranianos em 2024 do que no ano anterior e continuou a atacar a infraestrutura civil e a submeter detidos à tortura e ao desaparecimento forçado”.
Em relação ao Sudão, a AI diz que as Forças de Apoio Rápido infligiram violência sexual generalizada contra mulheres e meninas, o que equivale a crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade.
Outras questões destacadas no relatório incluem as mudanças climáticas, o declínio global dos direitos de migrantes e refugiados, mulheres, meninas e pessoas LGBTIQ+.
Diante desse panorama de práticas autoritárias e de destruição do direito internacional, ao qual “a população resiste”, a ONG ressalta que “os governos podem administrar a justiça internacional e devem continuar a fazê-lo”.
“Apesar dos enormes desafios, a destruição dos direitos humanos está longe de ser inevitável. A história está repleta de exemplos de pessoas corajosas que superaram práticas autoritárias”, enfatiza.
md (EFE, AFP, ots)